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18 dicas para melhorar o treino de Basquete

  Boas memórias da aula de educação física diminuem o risco de sedentarismo |  Veja Saúde 
 
Treinadores, além de se preocuparem com o que vão ensinar, devem também se preocupar com o que os atletas irão aprender. Mais que a elaboração de treinos mirabolantes baseados em exercícios educativos modernos, devemos nos esmerar para fornecer aos aprendizes atividades que facilitem a aprendizagem. A justificativa para a redação deste texto é que a área da Aprendizagem Motora (AM) existe há mais de um século e, portanto, nada mais recomendável que se faça uma apropriação desse conhecimento secular, aplicando-o ao Basquetebol (B). 
 
Os conhecimentos acerca dos mecanismos de execução do movimento e sobre o processo pelo qual esse movimento é aperfeiçoado, resultando na aquisição de Habilidade Motora (HM), são informações específicas importantes para quem é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem (treinador), bem como para quem é o foco desse processo (atleta).

HM pode ter dois significados, gesto técnico e grau de proficiência. Nos últimos campeonatos internacionais – Mundial de Basquetebol Masculino da Turquia (2010) e Jogos Olímpicos de Londres (2012) – vários jogadores excepcionais destacaram-se, mas certamente um dos que causa maior é o argentino Luis Scola (jogador da NBA), por seus arremessos precisos, rebotes seguros, passes perfeitos e marcação eficiente. De fato, ele desempenhou os fundamentos do Basquetebol (HM com significado de gesto técnico) com ações complexas e intencionais que envolveram mecanismos sensoriais, decisórios e efetores que, mediante o processo de aprendizagem, tornaram-se organizadas e coordenadas de tal forma a alcançar objetivos motores predeterminados com máxima certeza e mínimo gasto de energia (HM com significado de grau de proficiência). Quando nos referimos ao gesto técnico executado, estamos usando a expressão HM com sentido de padrão de movimento utilizado, ou seja, estamos nomeando os fundamentos; no nosso exemplo, arremessos precisos, rebotes seguros, passes perfeitos, marcação eficiente. Entretanto, quando nos referimos ao nível de execução, estamos usando a expressão HM com sentido de o quão bem a meta é alcançada; no nosso exemplo, arremessos precisos, rebotes seguros, passes perfeitos, marcação eficiente.

Tomando a expressão HM como gesto técnico, um critério de classificação merece ser destacado: a instabilidade do ambiente. No jogo de Basquetebol, as ações do jogo são executadas em um ambiente instável, dinâmico, que muda constantemente. Por isso, é preciso que jogadores de Basquetebol tenham boa capacidade de adaptação nas HMs específicas para ter sucesso. Por exemplo, é difícil prever o momento e o local de um arremesso ou quando e onde a bola irá depois de bater no aro. Além disso, há variação do número de marcadores de acordo com a situação do jogo, assim como existe a pressão de tempo para efetuar a última ação de ataque. Todavia, a única exceção a essa instabilidade ambiental no jogo é o arremesso de lance livre, em que o ambiente pode ser considerado estável, pois não há marcação e o local de execução do arremesso é sempre o mesmo. Esse princípio de instabilidade ambiental pode servir de base para a organização da prática dos fundamentos do Basquetebol.
Há uma vasta quantidade de pesquisas que estabelecem diretrizes para facilitar a aprendizagem de HMs. Com fundamentação nessas pesquisas, a seguir são apresentadas 18 diretrizes que podem ser aplicadas às sessões de treino/aula de Basquetebol.

O primeiro grupo de fatores que será abordado é a informação que o aprendiz recebe durante o processo, podendo ser prescritiva (antes ou durante a execução) e/ou descritiva (durante ou após a execução). O segundo grupo é relativo à organização da prática.

Em relação à informação prescritiva, as pesquisas em AM sugerem:

1) Estabelecer metas de desempenho ao longo do processo. Exemplo: definir o número de arremessos convertidos em uma série de execuções é uma estratégia motivadora de ensino-aprendizagem.
 
2) Trabalhar com metas atingíveis, realistas, desafiadoras e específicas. Exemplo: considerando a fase de AM do aprendiz, definir com dificuldade progressiva o número de arremessos que devem ser convertidos em uma série, de modo a motivá-lo para uma prática cada vez mais eficaz.
 
3) Propor metas específicas de curto prazo associadas a metas de longo prazo. Exemplo: definir o número de arremessos a serem convertidos na série de execuções atual e nas séries subseqüentes (semana e mês seguinte).
 
4) Espaçar as instruções verbais durante as primeiras tentativas de prática. Exemplo: nos primeiros treinos, ora fornecer, ora não fornecer instrução verbal sobre como um lance livre deve ser executado.
 
5) Respeitar a fase de AM do aprendiz para decidir sobre qual ponto da HM será fornecida a instrução verbal. Exemplo: em virtude da capacidade limitada de processamento de informação do ser humano, é preferível fornecer informação elementar sobre apenas um aspecto da HM para iniciantes no B. Exemplo: no drible, enfatizar o fato de se driblar sem olhar para a bola.
 
6) Fornecer instrução verbal em forma de dicas com linguagem objetiva, simples, clara e direta. Exemplo: no drible, fornecer dicas do tipo "não olhar a bola", "proteger a bola com a perna oposta à mão do drible" são mais fáceis de captar porque a instrução é limitada a um ou dois pontos importantes da HM.
 
7) Utilizar demonstração preferencialmente nas tentativas iniciais. Exemplo: para obtenção de uma imagem mental do fundamento, nos primeiros treinos, pessoalmente o professor ou técnico deve executar com freqüência os fundamentos mais complexos do B (jump ou bandeja). A demonstração não deve ser feita por um dos aprendizes para não expô-lo a possíveis erros perante o grupo. O uso de modelos reais, através de vídeos também pode ser uma estratégia interessante.
 
8) Demonstrar fazendo o aprendiz prestar atenção no ponto crucial da execução. Exemplo: assim como na instrução verbal, enfatizar ao aprendiz para que preste atenção em um ponto específico da demonstração (a posição dos pés em uma parada brusca que antecede um arremesso).
 
9) Conjugar simultaneamente demonstração à instrução verbal para aprendizes em fases intermediárias e avançadas de desenvolvimento e AM. Exemplo: demonstrar a bandeja fornecendo instrução verbal simultânea para adolescentes e adultos e para aprendizes que não estejam em fases iniciais de aprendizagem. Crianças e iniciantes podem ser sobrecarregadas com informação simultânea.
 
10) Manter o foco de atenção do aprendiz para fontes externas ao corpo. Quando o foco de atenção é dirigido para o corpo do aprendiz, há interferência prejudicial nos processos de controle motor. Exemplo: na execução da bandeja, pedir para o aprendiz prestar a atenção na cesta ou na bola, e não no próprio punho ou dedos.
No que tange à informação descritiva, as pesquisas em AM sugerem:
 
11) Fornecer feedback externo várias vezes, mas sem massacrar o aprendiz com informação a todo momento. Isso evitará que o aprendiz fique dependente do feedback do treinador. Exemplo: numa série de passes diversificados, depois de alguns passes mal executados fique calado para que o aprendiz tenha chance de desenvolver autonomia.
 
12) Estimular o aprendiz a detectar o erro por si próprio e a corrigir-se a si próprio. Exemplo: Depois de um passe executado sem sucesso, perguntar ao aprendiz o que ele fez de errado e qual seria a melhor forma de corrigir o erro; isso favorecerá o uso efetivo do feedback interno.
 
13) Oferecer feedback externo após as boas tentativas. Exemplo: depois de bandejas bem sucedidos, reforçar positivamente o que ocorreu, contribuindo para a motivação do aprendiz.
Quanto à organização da prática, as pesquisas em AM sugerem:
 
14) Preferir mais treinos curtos a menos treinos longos. A consolidação na memória das informações motoras adquiridas é favorecida com o espaçamento das sessões de prática. Exemplo: os treinos de B devem ser distribuídos em várias sessões semanais; concentrar um número reduzido de treinos longos em poucos dias prejudica a AM dos fundamentos.
 
15) Evitar a prática de um fundamento novo em estado de fadiga extrema. Exemplo: ao final de um treino técnico-tático exaustivo ou depois de uma série desgastante de repetições, os sistemas nervoso central e muscular estão estafados (o que dificulta a conexão entre eles), aumentando significativamente a chance de lesões com prática adicional. Uma exceção pode ser o treino de lances-livres, pois em situação de jogo, esse tipo de arremesso acontece muitas vezes nessas situações de grande stress físico e mental. Além disso, por suas características técnicas, o arremesso utilizado no lance-livre oferece pouca situação de risco aos praticantes.
 
16) Associar prática mental à prática física. Exemplo: a prática mental (ensaios mentais sem contração muscular observada) tem se mostrado uma aliada importante da prática física na AM, sendo recomendada no B por ocasião de uma lesão, à espera de uma execução em uma fila ou em um período de pausa de um exercício educativo.
 
17) Estruturar a prática com variações apenas em fases intermediárias e avançadas de AM. Os aprendizes necessitam formar estruturas sólidas de movimento, primeiro, para depois começar a variar a prática. Exemplo: manipular aspectos do ambiente (marcação individual, quadra coberta e descoberta, pouca e muita iluminação, barulho presente e ausente), do padrão de movimento (bandeja, com uma das mãos) ou de parâmetros do movimento (diferentes distâncias, direções e forças aplicadas nos arremessos e passes).
 
18) Fracionar a habilidade apenas quando a integração entre as partes não é forte. Exemplo: evitar a prática fracionada (em partes) da bandeja, pois há uma forte relação de dependência entre o drible, as passadas, o salto e o arremesso. O mesmo ocorre com os outros fundamentos do B. Prefira então a prática do todo.
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