Mecanismo das arritmias e exercício físico
O coração é um dos órgãos mais importantes de nosso corpo. De maneira mais simples, o papel do coração é enviar sangue rico em oxigênio às células, na forma de bombeamento da sístole (contração) e diástole (relaxamento) cardíaco.
Durante a atividade física, o ritmo cardíaco aumenta de forma linear com o ritmo do exercício, intensidade do esforço físico, assim como com o aumento do consumo de oxigênio na atividade muscular.
No início do exercício de intensidade moderada, ocorrem grandes modificações no coração. Uma das mais importantes é o aumento da frequência cardíaca (FC), também conhecido como taquicardia. A taquicardia que inicialmente ocorre com o exercício físico é normal e necessária para atender às demandas do organismo durante o exercício.
Nessas condições, uma arritmia pré-existente poderá ser suprimida pela simples elevação da FC. Algumas arritmias (corno por exemplo, alguns tipos de extra-sístole) serão suprimidas quando a FC ultrapassar 100 bpm. No entanto, o exercício poderá também aumentar a frequência de uma arritmia pré-existente, o que é mais observado nos corações anormais.
O exercício eleva a frequência cardíaca, a pressão arterial, a velocidade e a força de contração do músculo cardíaco. Como esses elementos são os determinantes do consumo de oxigênio do músculo cardíaco, poderá ocorrer isquemia (falta de sangue), caso exista doença obstrutiva das artérias coronárias. Uma das principais alterações decorrentes dessa isquemia é o aparecimento de arritmias cardíacas as mais diversas. As modificações desencadeadas pelo esforço persistem após a cessação do exercício ativo.
Dessa forma, explicam-se as arritmias que aparecem no período de recuperação dos testes de esforço ou dos treinos e competições. Entre os mecanismos evocados para explicar as causas das arritmias cardíacas, após um exercício, estão a queda da frequência cardíaca e a dilatação das veias periféricas que, em última análise, diminuem a quantidade de sangue bombeada pelo coração e pode gerar mais isquemia, fechando um círculo vicioso. Todos esses fatos são agravados se, após a interrupção do exercício de moderada para grande intensidade, o indivíduo permanecer em pé, parado, permitindo que mais de 60% do volume sanguíneo possa ficar retido nos membros inferiores.
Daí a importância do período de arrefecimento ativo (trotando ou caminhando) após o término de um exercício, com o retorno venoso a ser mantido pelas contrações da musculatura dos membros inferiores. O aparecimento ou agravamento de arritmia durante o exercício é consequência de múltiplos fatores que não atuam isoladamente e que exibem diferentes resposta sem indivíduos aparentemente semelhantes. Nenhuma dessas arritmias é "normal" durante o esforço.
Normal é a taquicardia fisiológica, ou seja, aquela que o organismo lança mão para suprir as suas necessidades de sangue e oxigênio, aumentadas durante o exercício.
Éimportante mencionar que as arritmias a seguir descritas podem não provocar sintomas, como cansaço intenso, tonturas, falta de ar, sensação de coração mais disparado do que o normal para aquela actividade e até mesmo, perda de consciência. A conduta que o atleta deve tomar. ao ter uma arritia ou um sintoma como os descritos é parar a actividade e procurar auxílio o mais rápido possível num pronto socorro ou posto médico. Caso seja possível fazer um electrocardiograma no momento da arritmia, isso seria o ideal, pois faria o diagnóstico correcto do problema. Um indivíduo que já sabe ser portador de algum tipo de arritmia deve submeter se a uma avaliação médica 'completa antes de começar ou continuar com a sua actividade física.
1) Taquicardia super ventricular
Os sintomas deste tipo de arritmia podem ser os anteriormente mencionados, variam de pessoa para pessoa. A sensação de coração disparado, mais do que o normal, alerta o atleta de que algo diferente está a acontecer com ele. No momento dessa "sensação estranha", ele deve parar a actividade e procurar auxílio. Para aqueles que apresentam episódios repetidos desta taquicardia, deve ser instituído um tratamento. Eles serão libertados pra a prática de todos os desportos de competição se, sob tratamento, não ocorrerem episódios de taquicardia. Os indivíduos sem sintomas com episódios de taquicardia supraventricular de curta duração (5 a 10 segundos), a qual não aumenta durante o exercício físico, podem participar em qualquer tipo de desporto de competição. As pessoas com íncopes (desmaios) ou tonturas, palpitações importantes relacionadas a arritmias, ou que apresentam uma doen a cardíaca significativa associada, não devem participar em nenhum tipo de desporto de "competição", até terem sido tratados correctamente e se comprove ausência de recorrência durante um período mínimo de seis meses. Durante esse período, eles podem participar em qualquer actividade física, desde que não seja de altas intensidades. Os indivíduos submetidos a um tratamento específico e que se tornaram assintomáticos, nos quais é impossível a indução da arritmia, podem retomar após três a seis meses do tratamento a qualquer tipo de actividade, incluindo as de competição.
2) Extra-sístoles ventriculares
As extra-sístoles são as arritmias mais comuns e em geral, dão ao paciente a sensação de um "batimento extra". Não costumam ser graves e na maioria das vezes, nem sequer provocam sintomas. Não é raro desaparecerem completamente após o início do exercício.
Os indivíduos sem anomalia cardíaca associada, que apresentam extra-sístoles ventriculares em repouso ou durante o exercício (realizado para reproduzir o esforço da competição), podem participar em todos os desportos de competição. Se as extra-sístoles ventriculares aumentarem durante o exercício a ponto de produzirem sintomas como por exemplo, alteração da consciência, fadiga importante ou falta de ar, será contra indicada a execução de exercícios de altas intensidades. Os indivíduos que apresentam anomalias cardíacas associadas, pertencendo portanto, a um grupo de alto risco, e com extra-sístoles ventriculares (com ou sem tratamento), podem realizar apenas exercícios de baixa intensidade.
3) Taquicardia ventricular
Esta arritmia é a mais grave das três mencionadas. Ocasionalmente, causa perda de consciência. Em geral, a pessoa sente-se tonta, com mal-estar acentuado, sensação de enjoo, queda da pressão arterial e cansaço intenso. É imprescindível parar imediatamente a actividade física e procurar auxílio médico. Os indivíduos com taquicardias ventriculares, cuja avaliação cardiovascular completa revela a ausência de lesão cardíaca associada, devem suspender. a prática de todos os desportos de competição durante seis eses. Essa recomendação deve ser aplicada, seja o atleta tratado ou não. Seno final desseperíodo não houver retorno da arritmia e se não houver anomalia cardíaca associada,todos os tipos de exercícios serão permitidos.
É muito importante que os atletas que tiveram um diagnóstico de taquicardia ventricular sejam acompanhados de perto pelos médicos.
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