Exercício físico e síndrome metabólica
A inatividade física e baixo nível de condicionamento físico têm sido considerados fatores de risco para mortalidade prematura tão importantes quanto fumo, dislipidemia e hipertensão arterial(1). Estudos epidemiológicos têm demonstrado forte relação entre inatividade física e presença de fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, resistência à insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade(2-5). Por outro lado, a prática regular de atividade física tem sido recomendada para a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, seus fatores de risco, e outras doenças crônicas(6-16).
A síndrome metabólica - também conhecida como síndrome X, síndrome da resistência à insulina, quarteto mortal ou síndrome plurimetabólica - é caracterizada pelo agrupamento de fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, resistência à insulina, hiperinsulinemia, intolerância à glicose/diabete do tipo 2, obesidade central e dislipidemia (LDL-colesterol alto, triglicérides alto e HDL-colesterol baixo). E estudos epidemiológicos e clínicos têm demonstrado que a prática regular de atividade física é um importante fator para a prevenção e tratamento dessa doença(2-5,11-16).
O objetivo desta revisão é demonstrar o papel da prática regular de atividade física na prevenção e tratamento da síndrome metabólica, bem como descrever a quantidade e modalidade de exercício necessário para esse fim.
EXERCÍCIO E OBESIDADE
Nas últimas décadas tem havido rápido e crescente aumento no número de pessoas obesas, o que tornou a obesidade um problema de saúde pública. Essa doença tem sido classificada como uma desordem primariamente de alta ingestão energética. No entanto, evidências sugerem que grande parte da obesidade é mais devida ao baixo gasto energético que ao alto consumo de comida, enquanto a inatividade física da vida moderna parece ser o maior fator etiológico do crescimento dessa doença nas sociedades industrializadas(13).
Estudos epidemiológicos e de coorte têm demonstrado forte associação entre obesidade e inatividade física(3-5), assim como tem sido relatada associação inversa entre atividade física, índice de massa corpórea (IMC)1, razão cintura-quadril (RCQ)2 e circunferência da cintura(2,3,5). Esses estudos demonstram que os benefícios da atividade física sobre a obesidade podem ser alcançados com intensidade baixa, moderada ou alta, indicando que a manutenção de um estilo de vida ativo, independente de qual atividade praticada, pode evitar o desenvolvimento dessa doença.
Para o tratamento da obesidade é necessário que o gasto energético seja maior que o consumo energético diário, o que nos faz pensar que uma simples redução na quantidade de comida através de dieta alimentar seja suficiente. No entanto, isso não é tão simples; tem sido demonstrado que mudança no estilo de vida, através de aumento na quantidade de atividade física praticada e reeducação alimentar, é o melhor tratamento(16).
O gasto energético diário é composto de três grandes componentes: taxa metabólica de repouso (TMR), efeito térmico da atividade física e efeito térmico da comida (ETC). A TMR, que é o custo energético para manter os sistemas funcionando no repouso, é o maior componente do gasto energético diário (60 a 80% do total). O tratamento da obesidade apenas através de restrição calórica pela dieta leva a uma diminuição da TMR (através de diminuição de massa muscular) e do ETC, o que leva à redução ou manutenção na perda de peso e tendência de retorno ao peso inicial, apesar da restrição calórica contínua, contribuindo para uma pobre eficácia de longo período dessa intervenção(13). No entanto, a combinação de restrição calórica com exercício físico ajuda a manter a TMR, melhorando os resultados de programas de redução de peso de longo período. Isso ocorre porque o exercício físico eleva a TMR após a sua realização, pelo aumento da oxidação de substratos, níveis de catecolaminas e estimulação de síntese protéica(17,18). Esse efeito do exercício na TMR pode durar de três horas a três dias, dependendo do tipo, intensidade e duração do exercício(19,20).
Outro motivo que incentiva a inclusão da atividade física em programas de redução de peso está em que a atividade física é o efeito mais variável do gasto energético diário, pelo que a maioria das pessoas consegue gerar taxas metabólicas que são 10 vezes maiores que os seus valores em repouso durante exercícios com participação de grandes grupos musculares, como caminhadas rápidas, corridas e natação(13,20). Atletas que treinam de três a quatro horas diárias podem aumentar o gasto energético diário em quase 100%(20). Em circunstâncias normais, a atividade física é responsável por entre 15 e 30% do gasto energético diário (fig. 1).
Embora a maioria dos estudos tenha examinado o efeito do exercício aeróbio sobre a perda de peso, a inclusão do exercício resistido (musculação) mostra vantagens. O exercício resistido é um potente estímulo para aumentar a massa, força e potência muscular, podendo ajudar a preservar a musculatura, que tende a diminuir devido à dieta, maximizando a redução de gordura corporal(21-23). Além disso, seu potencial em melhorar a força e resistência muscular pode ser especialmente benéfico para as tarefas do cotidiano, podendo facilitar a adoção de um estilo de vida mais ativo em indivíduos obesos sedentários(16).
A recomendação tradicional de no mínimo 150 minutos semanais (30 minutos, cinco dias por semana) de atividade física de intensidade leve a moderada, que é baseada primariamente nos efeitos da atividade física sobre a doença cardiovascular e outras doenças crônicas, como o diabetes mellitus, demonstra não ser suficiente para programas que priorizem a redução de peso. Com isso, tem sido recomendado que programas de exercício para obesos comecem com o mínimo de 150 minutos semanais em intensidade moderada e progridam gradativamente para 200 a 300 minutos semanais na mesma intensidade(16). Entretanto, se por algum motivo o obeso não puder atingir essa meta de exercícios, ele deve ser incentivado a realizar pelo menos a recomendação mínima de 150 minutos semanais, pois mesmo não havendo redução de peso haverá benefícios para a saúde(24-26).
EXERCÍCIO E RESISTÊNCIA À INSULINA
A associação entre inatividade física e resistência à insulina foi sugerida pela primeira vez em 1945(27). Desde então, estudos transversais e de intervenção têm demonstrado relação direta entre atividade física e sensibilidade à insulina(2,5,28,29).
Estudos transversais demonstram menores níveis de insulina e maior sensibilidade à insulina em atletas, quando comparados a seus congêneres sedentários(30-32). Atletas másteres demonstram ser protegidos contra a deterioração da tolerância à glicose associada ao envelhecimento(33,34). Entretanto, pouco tempo de atividade física está associado a baixa sensibilidade à insulina e alguns dias de repouso estão associados a aumento da resistência à insulina(2,5,35).
Tem sido demonstrado que uma única sessão de exercício físico aumenta a disposição de glicose mediada pela insulina em sujeitos normais, em indivíduos com resistência à insulina parentes de primeiro grau de diabéticos do tipo 2, em obesos com resistência à insulina, bem como em diabéticos do tipo 2, e o exercício físico crônico melhora a sensibilidade à insulina em indivíduos saudáveis, em obesos não-diabéticos e em diabéticos dos tipos 1 e 2(13,36-38).
Apesar do claro benefício da prática de atividade física sobre a sensibilidade à insulina, há situações em que o exercício agudo não melhora a sensibilidade à insulina e pode até piorá-la. A sensibilidade à insulina está diminuída após a corrida de maratona(39), assim como após exercício extenuante e excêntrico, como correr numa ladeira(40); uma provável explicação para esse fato é a utilização aumentada e contínua de ácidos graxos como combustível muscular. Entretanto, estas são condições extremas em que a intensidade de exercício é maior do que a intensidade que a maioria dos indivíduos com síndrome metabólica conseguem suportar.
O efeito do exercício físico sobre a sensibilidade à insulina tem sido demonstrado de 12 a 48 horas após a sessão de exercício, porém volta aos níveis pré-atividade em três a cinco dias após a última sessão de exercício físico(13), o que reforça a necessidade de praticar atividade física com freqüência e regularidade.
O fato de que apenas uma sessão de exercício físico melhora a sensibilidade à insulina e que o efeito proporcionado pelo treinamento regride em poucos dias de inatividade levantam a hipótese de que o efeito do exercício físico sobre a sensibilidade à insulina é meramente agudo. No entanto, foi demonstrado em estudo que indivíduos com resistência à insulina melhoram a sensibilidade à insulina em 22% após a primeira sessão de exercício e em 42% após seis semanas de treinamento(41), o que demonstra que o exercício físico apresenta tanto um efeito agudo como um efeito crônico sobre a sensibilidade à insulina.
Benefício do exercício físico sobre a sensibilidade à insulina é demonstrado tanto com o exercício aeróbio como com exercício resistido(41-45). O mecanismo pelo qual essas modalidades de exercício melhoram a sensibilidade à insulina parece ser diferente(42), o que sugere que a combinação das duas modalidades de exercício pode ser aditiva.
EXERCÍCIO E DIABETES DO TIPO 2
Estudos epidemiológicos e de intervenção demonstram claramente que a prática regular de atividade física é eficaz para a prevenção e controle do diabetes do tipo 2(14,46-49). A prática regular de atividade física tem demonstrado diminuir o risco de desenvolver diabetes do tipo 2, tanto em homens como em mulheres, independente da história familiar, do peso e de outros fatores de risco cardiovascular como o fumo e a hipertensão(46,47). Estudos de intervenção têm demonstrado que mudanças no estilo de vida, adotando-se novos hábitos alimentares e prática regular de atividade física, diminuem a incidência de diabetes do tipo 2 em indivíduos com intolerância à glicose(49,50); a realização de pelo menos quatro horas semanais de atividade física de intensidade moderada a alta diminuiu em média 70% a incidência de diabetes do tipo 2, em relação ao estilo de vida sedentário, após quatro anos de seguimento(49).
A prática de atividade física também tem sido considerada uma importante ferramenta no tratamento de indivíduos com diabetes do tipo 2(51). Programas de exercício físico têm demonstrado ser eficientes no controle glicêmico de diabéticos, melhorando a sensibilidade à insulina e tolerância à glicose e diminuindo a glicemia sanguínea desses indivíduos(14,48,52).
Geralmente tem sido recomendada a realização de exercícios aeróbios para indivíduos com diabetes do tipo 2(48,50,52). No entanto, recentes estudos têm demonstrado que o exercício resistido também é benéfico no controle glicêmico de diabéticos do tipo 2(12,53-55).
O exercício resistido pode ser especialmente benéfico para diabéticos idosos, pois durante o envelhecimento há diminuição da força e massa muscular, a qual afeta o metabolismo energético de maneira indesejável (fig. 2). O aumento da força e massa muscular através da prática de exercício resistido pode reverter esse quadro, melhorando o controle glicêmico desses indivíduos(45). De acordo com isso, foi demonstrada diminuição dos níveis de glicose sanguínea, aumento dos estoques de glicogênio muscular, redução da pressão sistólica e gordura do tronco, aumento da massa muscular e do nível de atividade física diária de diabéticos idosos de ambos os sexos, após 16 semanas de exercício resistido, o que resultou em redução da medicação em 72% dos praticantes, enquanto que indivíduos que participaram do grupo controle tiveram inalterados os níveis de glicemia sanguínea, pressão sistólica, gordura do tronco e atividade física diária, e diminuídos os estoques de glicogênio muscular, sendo que 42% tiveram a medicação aumentada(14).
EXERCÍCIO E HIPERTENSÃO ARTERIAL
Estudos epidemiológicos e clínicos têm demonstrado efeitos benéficos da prática de atividade física sobre a pressão arterial em indivíduos de todas as idades. Alto nível de atividade física diária está associado a menores níveis de pressão arterial em repouso(56). A prática regular de exercício físico tem demonstrado prevenir o aumento da pressão arterial associado à idade(57,58), mesmo em indivíduos com risco aumentado de desenvolvê-la(59). Programas de atividade física têm demonstrado diminuir a pressão arterial sistólica e diastólica, tanto de indivíduos hipertensos como de normotensos(12,60,61).
Esses benefícios da atividade física sobre a pressão arterial fazem dela uma importante ferramenta na prevenção e tratamento da hipertensão(12). Uma metanálise de 54 estudos longitudinais randomizados controlados, examinando o efeito do exercício físico aeróbio sobre a pressão arterial, demonstrou que essa modalidade de exercício reduz, em média, 3,8mmHg e 2,6mmHg a pressão sistólica e diastólica, respectivamente(12). Reduções de apenas 2mmHg na pressão diastólica podem diminuir substancialmente o risco de doenças e mortes associadas à hipertensão(62), o que demonstra que a prática de exercício aeróbio representa importante benefício para a saúde de indivíduos hipertensos.
Tem sido proposto que o efeito do exercício aeróbio sobre a pressão arterial é mais devido ao efeito agudo da última sessão de exercício, que às adaptações cardiovasculares ao treinamento(13). De acordo com isso, estudo realizado pelo nosso grupo de pesquisa demonstrou que indivíduos hipertensos tiveram reduções na monitoração ambulatorial da pressão arterial durante 24 horas (MAPA 24h) quando realizada logo após a última sessão de exercício, as quais não foram observadas quando realizadas 72 horas após a última sessão(63).
Indivíduos hipertensos têm sido tradicionalmente desencorajados a realizar exercício resistido devido ao receio de essa modalidade de exercício precipitar um evento cerebrovascular ou cardíaco. Porém, estudos investigando o efeito de longo período de treinamento com exercício resistido sobre a pressão sanguínea de repouso não documentaram efeitos deletérios, sugerindo que indivíduos hipertensos não devem evitar sua prática, pois ela proporciona grandes benefícios para a qualidade de vida, principalmente de indivíduos idosos(42,45).
EXERCÍCIO E DISLIPIDEMIA
Os efeitos da atividade física sobre o perfil de lipídios e lipoproteínas são bem conhecidos. Indivíduos ativos fisicamente apresentam maiores níveis de HDL colesterol e menores níveis de triglicérides, LDL e VDLL colesterol, comparados a indivíduos sedentários(64).
Estudos de intervenção demonstram que perfis desfavoráveis de lipídios e lipoproteínas melhoram com o treinamento físico(64). Essas melhoras são independentes do sexo, do peso corporal e da adoção de dieta, porém, há possibilidade de ser dependentes do grau de tolerância à glicose(13,51,64,65). A atividade física tem demonstrado ser eficiente em diminuir o nível de VLDL colesterol em indivíduos com diabetes do tipo 2; entretanto, com algumas exceções, a maioria dos estudos não tem demonstrado significante melhora nos níveis de HDL e LDL colesterol nessa população, talvez devido à baixa intensidade de exercício utilizada(51).
Apesar de estudos acerca do efeito do exercício físico sobre o perfil de lipídios e lipoproteínas em indivíduos com síndrome metabólica serem escassos, considerando as evidências acima e o fato de que o exercício amplia a habilidade do tecido muscular de consumir ácidos graxos e aumenta a atividade da enzima lípase lipoprotéica no músculo(66), é provável que o exercício físico seja eficiente em melhorar o perfil de lipídios e lipoproteínas em indivíduos com síndrome metabólica.
PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO
Na prática ou prescrição de treinamento físico com o objetivo de obter algum efeito fisiológico de treinamento, seja ele a melhora do condicionamento físico ou a prevenção e tratamento de doenças, devem-se levar em consideração quatro princípios básicos. O primeiro é o princípio da sobrecarga, que preconiza que, para haver uma resposta fisiológica ao treinamento físico, é necessário que esse seja realizado numa sobrecarga maior do que a que se está habituado, a qual pode ser controlada pela intensidade, duração e freqüência do exercício. O segundo é o princípio da especificidade, que se caracteriza pelo fato de que modalidades específicas de exercício desencadeiam adaptações específicas que promovem respostas fisiológicas específicas. O terceiro é o princípio da individualidade, pelo qual deve-se respeitar a individualidade biológica de cada indivíduo na prescrição de um determinado programa de exercícios, pois a mesma sobrecarga e modalidade de exercício irá provocar respostas de diferentes magnitudes em diferentes indivíduos. O quarto e último princípio é o princípio da reversibilidade, que se caracteriza pelo fato de que as adaptações fisiológicas promovidas pela realização de exercício físico retornam ao estado original de pré-treinamento quando o indivíduo retorna ao estilo de vida sedentário(20).
A realização de pelo menos 30 minutos de atividade física (podendo ser formal ou de lazer, de maneira contínua ou acumulada em sessões de pelo menos 10 minutos), de intensidade no mínimo moderada (nível 12 na escala de Borg3 - fig. 3), realizada na maioria dos dias da semana (de preferência todos), em que haja um dispêndio total de 700 a 1.000kcal (quilocalorias) por semana, tem sido proposta para a manutenção da saúde e prevenção de uma grande variedade de doenças crônicas(6-9).
No entanto, para que os benefícios e segurança à saúde da prática regular de atividade sejam maximizados, é necessário que haja uma prescrição de exercícios que considere as necessidades, metas, capacidades iniciais e história do praticante(20,67,68). Além disso, para o tratamento de certas doenças, como a obesidade, por exemplo, essa quantidade de exercício tem demonstrado não ser suficiente(16). Esses fatores nos levam a crer que indivíduos com síndrome metabólica, por apresentarem fatores de risco para doença cardiovascular, obterão maiores benefícios com a prática regular de atividade física se esta for planejada de forma individualizada, focalizando a melhora de seu estado de saúde, e considerando seu estado de saúde, fatores de risco e capacidade física, bem como sua história e metas.
A quantidade de pesquisas acerca dos efeitos do treinamento resistido sobre o metabolismo é pequena em comparação com as que envolvem exercícios aeróbios. Entretanto, com base nos estudos de revisão atuais(20,65,66), propomos que um programa de atividade física, focalizado na prevenção e tratamento da síndrome metabólica, deve incluir componentes que melhorem o condicionamento cardiorrespiratório, força e resistência muscular.
A realização desses exercícios baseia-se nos seguintes motivos:
-Tanto o exercício resistido quanto o aeróbio promovem benefícios substanciais em fatores relacionados à saúde e ao condicionamento físico (fig. 4), incluindo a maioria dos fatores de risco da síndrome metabólica(13,42).
- Os mecanismos pelos quais o exercício resistido e o aeróbio afetam algumas variáveis da síndrome metabólica, como a resistência à insulina, a intolerância à glicose e a obesidade, parecem ser diferentes(14,16,42), podendo haver somatório dos efeitos das duas atividades.
- Com o envelhecimento ocorre diminuição da força e massa muscular, as quais estão associadas a uma série de disfunções, incluindo disfunções metabólicas (fig. 3); a realização de exercício resistido pode prevenir ou controlar esse quadro(42,45).
- O condicionamento físico, que é definido como a habilidade de realizar atividade física de nível moderado a intenso sem cansaço excessivo e a capacidade de manter essa habilidade no decorrer da vida, é parte integrante da boa qualidade de vida e a realização de exercícios resistidos e aeróbios, juntamente com exercícios de flexibilidade, tem sido extensamente recomendada para a melhora e manutenção do condicionamento físico, bem como para a prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares, em adultos de todas as idades(6,42,68-71).
Embora a dose mínima de exercício necessária para alcançar muitos dos benefícios à saúde seja conhecida, a dose ótima para a prevenção e tratamento da maioria das desordens ainda é desconhecida.
Em relação aos exercícios aeróbios, tem sido recomendado que eles sejam realizados de três a seis vezes por semana, com intensidade de 40 a 85% da FCR4 (40 a 85% do , ou 55 a 90% da FCmáx ou nível 12 a 16 na escala de Borg), e duração de 20 a 60 minutos(7,68). Pelo fato de que maiores intensidades de exercício estão associadas a maior risco cardiovascular e lesão ortopédica e à menor aderência a programas de atividade física(68), recomenda-se que programas direcionados para indivíduos sedentários e com fatores de risco para doença cardiovascular enfatizem intensidade moderada (50 a 70% da FCR e níveis 12 a 13 na escala de Borg) e prolongada duração (30 a 60 minutos)(9,68).
A recomendação atual para a prática de exercício resistido é de uma série de oito a 12 repetições (10 a 15 para indivíduos acima de 50/60 anos), intensidade de 50 a 70% da carga máxima5 (13 a 15 na escala de Borg), realizadas com oito a 10 exercícios que trabalhem todos os grandes grupos musculares, duas a três vezes por semana(7,67,68). No entanto, esta recomendação toma por base apenas os melhoramentos na força e resistência muscular(72). A realização de maior número de séries (duas a três) elevará o gasto energético da sessão de exercício, podendo aumentar o benefício da atividade para indivíduos com síndrome metabólica. Com isso, recomendamos que indivíduos com síndrome metabólica iniciem com uma série e, após adaptação, aumentem para duas e posteriormente três séries.
Todas as sessões de atividade física, aeróbio e resistido, devem incluir aquecimento e volta à calma, com a utilização de exercícios de flexibilidade no início e no final de cada sessão (figura 5).
PRECAUÇÕES PARA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA
Apesar do efeito benéfico da atividade física sobre a prevenção e tratamento de doenças, sabe-se que o risco relativo de um evento cardiovascular ou lesão músculo-esquelética durante a prática de exercício físico é maior que em atividades habituais(68). Com isso, alguns cuidados devem ser tomados em relação à prática de atividade física pelo paciente com síndrome metabólica.
Antes de iniciar um programa de atividade física, qualquer indivíduo deve passar por uma avaliação da história clínica recente. Em indivíduos com síndrome metabólica recomenda-se a realização de teste ergométrico para avaliação cardiovascular. Caso o teste ergométrico não apresente anormalidades, nenhuma outra avaliação é necessária, com exceção dos indivíduos com diabetes do tipo 2. Porém, se o teste apresentar alguma anormalidade, o indivíduo deve realizar outros exames de acordo com a necessidade e a prescrição do exercício será de acordo com as recomendações de exercício para indivíduos com doença cardiovascular(7).
Aos indivíduos com diabetes do tipo 2, além de avaliação cardiovascular, recomenda-se avaliar a presença de doença arterial periférica (sinais e sintomas de claudicação intermitente, diminuição ou ausência de pulsos, atrofia de tecidos subcutâneos, etc.), retinopatia, doença renal e neuropatia autonômica(51). É importante salientar que nenhuma dessas doenças impede a participação do paciente em programas de atividade física, porém elas influenciam na modalidade e intensidade do exercício a ser prescrito.
Durante a prática de atividade física, deve ser dada atenção à vestimenta adequada. O uso de roupas leves e confortáveis é recomendado (camiseta, shorts ou calças de tactel ou cotton). Quando caminhada ou corrida é realizada, recomenda-se a utilização de calçados confortáveis, com solado macio e boa absorção de impacto(73). Também deve-se dar atenção para o controle da hidratação antes de iniciar e durante a sessão de exercício, principalmente em indivíduos diabéticos(20,51).
Para os pacientes diabéticos, atenção especial deve ser dada aos pés e ao controle glicêmico. O uso de palmilhas macias, bem como o uso de meias de algodão para manter o pé seco, é importante para minimizar traumas. Os pacientes devem ser educados a verificar constantemente o aparecimento de bolhas e qualquer outro tipo de ferimento, antes e ao final de cada sessão de exercício. Em pacientes em uso de insulina ou outro medicamento para controle da glicemia sanguínea, deve-se prestar atenção no horário dos medicamentos, para que o paciente não realize a atividade em estado hipoglicêmico.
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Autor:Emmanuel Gomes CiolacI; Guilherme Veiga GuimarãesII
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