Ginástica de academia como proposta para as aulas de Educação Física no Ensino Médio
Introdução
A escola, como instituição formadora, tem um importante papel na sociedade contemporânea. Esta, objetiva o ensino das habilidades físicas e intelectuais necessárias ao desempenho das diferentes funções do indivíduo, além de criar espaços de intervenção mais elaborados que visem ressignificar os saberes discentes, organizando criativamente os conhecimentos a serem tratados no tempo.
Dentro deste contexto, a Educação Física, está inserida em um currículo que propõe vivências corporais necessárias à formação humana integral do indivíduo. Estas vivências são oportunizadas dentro da denominada cultura corporal. Por cultura corporal compreende-se todo um acervo de práticas como (jogos, ginástica, dança, lutas e os esportes) que ao longo do tempo, o homem vem criando e modificando, conforme suas necessidades (SOARES, 1992). A Educação Física, por intermédio dessa cultura, precisa dar conta dos processos cognitivos, sociais, afetivos e motores, permitindo aos discentes, saberes bem elaborados, dentro de uma proposta que venha para ressignificar a didática, bem como, a forma de ensinar no campo da Educação Física.
Pensando neste ressignificar a prática e desvincilhando-se de alguns conteúdos tradicionais no âmbito da Educação Física é que se pensou na reelaboração das práticas corporais propostas dentro da ginástica, para o ensino médio, a fim de possibilitar ações que pudessem despertar maior interesse pelos assuntos tratados em aula, oportunizando o prazer, o bem-estar, a satisfação e a alegria, por meio do se movimentar. Esta oportunidade de vivenciar a ginástica de academia dentro do contexto escolar, ao longo de um trimestre, no ano, foi possível, a partir da inserção desta prática corporal, no componente de Educação Física dentro do Plano de Estudos da escola.
O movimento tem grande importância biológica, psicológica, social e cultural, uma vez que é através dele que o ser humano interage com o meio ambiente para alcançar objetivos ou satisfazer suas necessidades (PAIM, 2003). O movimento coloca-se como elemento imprescindível às condições básicas de saúde, higiene, atividade física permanente, entre outros (PALMA et. al, 2008). Este núcleo, da mesma forma que os demais, é constante em toda a vida escolar do aluno, por isso a importância de abarcar estes conteúdos dentro das aulas de Educação Física, a fim de ampliar os cuidados com o corpo.
Nota-se, que em muitos espaços escolares as aulas de Educação Física limitaram-se ao esporte, deixando de lado outras manifestações tão necessárias ao crescimento individual e coletivo. Essas limitações fazem com que muitos adolescentes se desmotivem para a prática acarretando muitas vezes a não participação nas aulas de Educação Física. Mas independentemente das modalidades ofertadas, no ensino médio, há, porém, algumas competências que precisam ser desenvolvidas ao longo do período.
Segundo os PCNs (1999, p. 164) o aluno ao longo do ensino médio, precisa compreender o funcionamento do organismo humano, de forma a reconhecer e modificar as atividades corporais, valorizando-as como recurso para melhoria de suas aptidões físicas; desenvolver as noções conceituais de esforço, intensidade e frequência, aplicando-as em suas práticas corporais; refletir sobre as informações específicas referentes a cultura corporal, sendo capaz de discerni-las e reinterpretá-las em bases científicas, adotando uma postura autônoma na seleção de atividades e procedimentos para a manutenção ou aquisição da saúde e assumir uma postura ativa, na prática das atividades físicas, e consciente da importância delas na vida do cidadão.
Ao encerrar o ensino médio, o aluno deverá possuir autonomia sobre os conhecimentos relacionados ao corpo, suas condições básicas de higiene e de como se organizar para uma vida saudável fazendo uso dos conhecimentos trabalhados. Enfim, realizar atividade física diariamente, mantendo os cuidados necessários com a alimentação, hidratação, evitando os excessos, observando durante o exercício físico a intensidade, duração, frequência, entre tantas outras questões importantes. Atividade física entendida "como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior do que os níveis de repouso" conforme (CASPERSEN apud GUEDES & GUEDES, 1995), podendo citar, atividades da vida diária como (tomar banho, vestir-se); atividades de trabalho (andar, carregar objetos); atividades de lazer (exercitar-se, praticar esportes).
As competências citadas acima puderam ser conceitualizadas e vivenciadas ao longo do trimestre por meio da ginástica de academia. Esta modalidade foi implantada na instituição de ensino com o intuito de ampliar e aprimorar os conceitos citados e ainda visar uma conscientização sobre os cuidados relacionados á saúde para uma melhor qualidade de vida, melhorando algumas posturas dos sujeitos no dia-a-dia.
Muitos dos adolescentes que fizeram parte desta proposta, não praticavam atividades físicas fora do contexto escolar, nem tampouco exercício físico regularmente. Relataram, porém, que as academias, os espaços para o lazer estavam muito próximos, mas em função dos compromissos estudantis, os adolescentes passaram a priorizar o estudo e não mais tanto o lazer, pela escassez do tempo. Outra questão apresentada foi o surgimento das novas tecnologias que deram origem a computadores e jogos eletrônicos tão usufruídos pelos jovens, cada vez mais modernos, reduzindo assim os momentos e interesses pela atividade física.
Esse não praticar para além do contexto escolar leva, porém os jovens/adolescentes a uma vida mais sedentária, menos ativa, o que constitui uma excelente oportunidade para o aumento no excesso de peso, menores níveis de aptidão, capacidade cardiorrespiratória diminuída, prejudicando assim sua qualidade de vida. Estes são apenas alguns indícios acarretados pelo sedentarismo. Por isso a necessidade da realização de atividade física constante na infância e adolescência para prevenir possíveis danos a saúde.
Na vida o ser humano passa por diferentes transformações sejam elas comportamentais ou sociais. Essas mudanças podem ser incentivadas na escola. Por isso a importância em relatar um trabalho que possibilitou a conscientização de uma vida mais ativa e saudável em jovens/adolescentes do ensino médio. Buscando incentivar a participação efetiva destes alunos nas aulas de Educação Física, de modo mais atrativo e motivacional, é que se oportunizou na instituição de ensino a oficina de ginástica de academia, de modo a promover e incentivar a reorganização dos hábitos da vida diária, incentivando a prática de atividade física para além do espaço escolar. A ginástica de academia é oferecida há alguns anos na instituição, porém o presente relato é referente ao ano de 2009.
Objetivos da proposta
Proporcionar o conhecimento teórico e prático em relação à modalidade de ginástica de academia com o intuito de incentivar os alunos na melhoria das condições de saúde praticando exercícios físicos diariamente, buscando uma melhor qualidade de vida;
Proporcionar mudanças comportamentais a fim de despertar o interesse para algumas atividades em específico e assim realizá-las diariamente;
Oportunizar vivência de outras práticas corporais que se diferenciam das práticas esportivas.
População
Participaram da oficina de ginástica de academia, um total de 18 alunos, sendo que destes 16 eram meninas e 2 eram meninos, alunos do 1º e 2º ano do Ensino Médio. A oficina foi desenvolvida ao longo do primeiro trimestre do ano de 2009, nos demais trimestres foram desenvolvidos esportes coletivos e dança.
Metodologia
As atividades desenvolvidas em aula foram tratadas de forma teórica através de aulas expositivas e dialogadas. Os questionamentos e intervenções realizados pelos alunos auxiliaram na compreensão de conceitos. Concomitante as aulas teóricas foram realizadas atividades práticas que contribuíram para o processo de aprendizagem e reflexão referentes a uma vida mais ativa.
Descrição da experiência
A oficina de ginástica de academia teve em sua proposta, conteúdos que abordaram a ginástica aeróbica, body vive, step, e aero jump, com ênfase nas questões referentes aos objetivos dos exercícios praticados, benefícios que os mesmos promovem com a prática diária, técnica de execução correta, alinhamento postural, respiração, alterações na composição corporal, frequência, intensidade, ritmo, entre outros.
Inicialmente, antes de dar inicio aos conteúdos propostos, foi aplicada à ficha anamnese do aluno a fim de coletar dados relevantes para a prática de atividade física, uma série de informações que se fazia importante conhecer ao pensar na estruturação da aula que se iria propor. Manteve-se sempre um olhar atento a cada aluno presente na sala de aula, respeitando as limitações individuais, para que possíveis problemas ósseos, articulares ou musculares não viessem a surgir ou se agravar. Foi possível observar por meio da anamnese, que dos alunos que participaram da oficina de ginástica, poucos realizavam algum exercício físico diariamente, fora do espaço escolar.
O desenvolvimento das aulas aconteceu a partir de exposição teórica como introdução aos conteúdos trabalhados, e vivências práticas. Foram oportunizados trabalhos que abrangeram temas como a "Importância da atividade física para a saúde na juventude e terceira idade", "Obesidade Infantil", "Nutrição", valorizando a pesquisa e produção teórica individual. Quanto à avaliação, compreendida como um processo dinâmico e contínuo de construção de conhecimento, foram proporcionados momentos de pesquisa e apresentação em seminário, vivências práticas e participação em aula, prova sistematizadora de conteúdos considerando os elementos conceituais e atitudinais ao longo do trimestre.
As práticas aconteceram no salão dos espelhos da escola que dispunha dos materiais necessários para a realização das aulas. Estas foram além da demonstração do professor e execução do aluno. Em todas as modalidades os alunos tiveram espaço para construir suas próprias coreografias e socializar com os demais colegas. Ressaltaram que a oportunidade para criar, enriqueceu e ampliou o conhecimento adquirido pela teoria, situação em que, em pequenos grupos, precisaram por em prática, questões referentes à construção de blocos de exercícios, respeitando frase musical, intensidade e ritmo da música, entre tantas outras questões. Observaram que a grande dificuldade de alguns estava em coordenar membros superiores com os inferiores ao mesmo tempo, o ritmo da música.
Os alunos demonstraram bastante interesse nas aulas práticas e teóricas, participando, questionando e buscando sempre sanar suas dúvidas. Houve muitos momentos em que os discentes trouxeram questões da sua realidade particular, ou seja, relatos dos hábitos da vida diária, situação em que, puderam refletir sobre possíveis mudanças para melhorar sua qualidade de vida. Percebeu-se, porém, a dificuldade de alguns, em vivenciar aulas mais intensas, a maioria dos adolescentes, demonstrou cansaço físico ao realizar as práticas propostas de ginástica, apresentando batimentos cardíacos bastante elevados, com um condicionamento físico baixo, problemas de coordenação e ritmo bem visíveis. Ficou evidente que o cansaço excessivo foi apresentado principalmente pelos alunos que disseram não praticar atividade física fora do âmbito escolar.
A turma caracterizou-se por alunos com pouca vivência em relação às práticas desenvolvidas, muitos ressaltaram estar vivenciando tais modalidades pela primeira vez. Percebeu-se também que os jovens apresentaram dificuldades em manter-se ativamente nas atividades do início ao fim, por isso a importância e necessidade de conciliar, atividades de menor intensidade com atividades de maior intensidade e junto momentos de relaxamento.
Para a realização das aulas de aero jump, foi preciso deslocar os alunos até uma academia do município que cedeu o espaço gratuitamente, por meio de uma parceria entre escola e academia. Isso se deu em função da escola não dispor de jumps. Conforme alguns alunos essa saída foi bem positiva, possibilitando momentos para além dos muros da escola, ou seja, percebe-se que os alunos sentem a necessidade de vivenciar situações que lhes desafiem e que não se tornem rotina.
A modalidade do aero jump, assim como as demais, foram praticadas com o objetivo de vivenciar e conhecer outras práticas corporais proporcionando o entendimento referente aos benefícios como a melhoria da resistência cardiovascular e composição corporal; melhoria da circulação sangüínea, atividades de baixo impacto não apresentando risco de lesões, fortalecimento do aparelho motor de sustentação e coordenação motora; grande poder de motivação e relaxamento. Os alunos participaram das aulas com muita motivação, interesse e alegria observando os cuidados necessários para a prática das mesmas.
O objetivo maior desta proposta foi oportunizar vivência das modalidades de Ginástica de Academia para maior conhecimento e esclarecimento em relação a seus conceitos e também despertar o interesse para algumas modalidades em específico, afim de que, comecem a se preocupar com sua saúde, bem estar e qualidade de vida e com a saúde das pessoas ao seu redor, que elas saibam falar sobre estas atividades, incentivando-as e adotando outras posturas no dia-a-dia.
Considerações finais
A partir das ações propostas na oficina de ginástica de academia é possível dizer que os alunos sentiram-se mais motivados para a prática durante as aulas de Educação Física. No decorrer do trimestre não houve evasão dos alunos, a participação foi efetiva, mostrando estarem totalmente engajados com a proposta.
Conforme relatos é possível perceber que os objetivos foram alcançados. Os conhecimentos adquiridos através dos estudos teóricos e momentos de reflexão/sistematização proporcionaram uma conscientização sobre a importância de adotar hábitos de vida mais saudáveis. As atividades práticas contribuíram na tomada de consciência de corpo, das capacidades, funções e ações que cada indivíduo pode desempenhar.
Esta oferta possibilitou a muitos dos adolescentes envolvidos o interesse pela mesma. Ressaltaram que a partir da experiência sentiram-se mais motivados por uma ou outra prática, identificando-se. Já em específico, quanto aos meninos ressaltaram que a experiência foi muito significativa, pois vivenciaram situações de aprendizagem que fora do contexto escolar talvez não vivenciasse, mas que as modalidades esportivas ainda continuam sendo de maior interesse. A oficina priorizou a inclusão, por meio da participação e respeito às individualidades de cada um, integrando e não discriminando os menos aptos.
Acredito que a proposição de vivência de outras práticas corporais, para além da esportiva, contribui de maneira enriquecedora na proposta da instituição, pois esta se encontra engajada num trabalho que promove estilos de vida mais ativo e saudável na população que atende.
Referências
BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999, 364 p.
CORRÊA, Ivan Livindo de Senna. Educação Física Escolar: reflexão e ação curricular/Ivan Livindo de Senna Corrêa, Roque Luiz Moro – Ijuí: Ed. Unijuí, 2004 – 296 p. – Coleção Educação Física.
GUEDES, D. P. GUEDES, J. E. R. Exercício Físico na Promoção da Saúde. Londrina: Midiograf, 1995.
PAIM, Maria Cristina Chimelo. Desenvolvimento motor de crianças pré-escolares entre 5 e 6 anos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 8, Nº 58, março de 2003. http://www.efdeportes.com/efd58/5anos.htm
PALMA, et al. Ângela Pereira Teixeira Victoria, Educação Física e a Organização Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Londrina. EDUEL, 158 p. 2008.
SOARES, C.L. et al. Metodologia da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
Autora: Vanessa Mastella Lena de Souza - vanessalena@bol.com.br
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