A Representatividade da Educação Física e do Esporte na Escola
A sociedade contribui com a escola, e conseqüentemente com a Educação Física através da sua cultura. Logo, para que se entenda a Educação Física e o Esporte antes se torna necessário
analisar como surgiram, ou seja, fazer uma busca na história e ainda para completar este intuito seria interessante observarmos em primeiro lugar a história da escola , seu processo de formação e suas representações.
A ESCOLA
"A escola nem sempre desempenhou o papel de transmissora e massificadora de conhecimento socialmente produzidos. Para os gregos, a escola era lugar de ócio (SAVIANI,1991). Na sociedade moderna, muda-se o modo de produção artesanal para a produção industrial, urbanizando-se a vida, que era rural. Expandem-se as relações comerciais e dá-se a ascensão da burguesia ao poder.(...) e para Althusser, a escola seria o principal aparelho ideológico do estado(SILVA,1992,Apud CORRÊA e MORO,2004,p.85)", ou seja, "se na Idade Média, o principal aparelho ideológico era a Igreja (ao lado da instituição família), o capitalismo vai conferir tal função à escola (FREITAS, 1999)."
Segundo Ghiraldelli (1994b) a história da educação " corresponde às tramas objetivas criadas pelos homens no trabalho, sistemático,ou assistemático, de transmissão de vários tipos de conhecimentos, valores, etc. Essas tramas estão ligadas diretamente às políticas educacionais e dizem respeito aos projetos educacionais da classe social que detém poder político", ou seja, " estudar a história da educação implica em estudar a relação entre Estado, Educação e Sociedade", pois " idéias pedagógicas em cada época são as idéias pedagógicas da classe dirigente"(BARBOSA, 2001,pp.45-46 ). É como afirma Saviani: "a escola é determinada socialmente, e a sociedade em que vivemos, fundadas no modo de produção capitalista, é dividida em classes com interesses opostos, portanto, a escola sofre a determinação do conflito de interesses que caracteriza a sociedade"(SAVIANI, 2002,p.30) e abordando o tema função da escola diz que ela " nasce com a finalidade de socializar os conhecimentos sistematizados, produzindo histórica e culturalmente, tendo um papel importante no desenvolvimento da moderna sociedade capitalista"( CORRÊA e MORO, 2004), acrescenta ainda que "a escola não se presta exclusivamente à transmissão de conhecimentos; tem além disso a tarefa desenvolver hábitos, atitudes, habilidades, valores, convicções(...) (SAVIANI,1994,Apud CAPARROZ,2005)
Como a Educação Física é uma disciplina do currículo escolar, (como isso ocorreu será analisado mais à frente), esta tem o intento de efetuar as funções da instituição a que pertence. E "nesse sentido, a Educação Física Escolar teria a mesma função 'da escola', pois para Bracht (1992), ela nasce juntamente com a escola. Sua finalidade, contudo, estaria mais voltada à manutenção da disciplina do que a proporcionar o acesso ao conhecimento da cultura corporal do movimento humano. Assim, a Educação Física Escolar não assumiria os códigos da instituição escolar, mas o da instituição militar."(CORRÊA e MORO,2004)
BREVE HISTÓRICO DA INTRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ÂMBITO ESCOLAR
Voltando na história da História da Educação Física, observa-se a presença da Educação Física pela primeira vez no Império, através do decreto nº. 6.370, de 30 de Novembro de 1876, a criação de duas Escolas Normais Primárias, sendo uma para professores e outra para professoras, tendo como uma de suas matérias especificas a ginástica. E "em 6 de Março de 1880 , o decreto nº. 7.684, baixou novo regulamento para a Escola Normal no município da corte, estabelecimento para a 5ª série princípios de Educação Física(...) e esclarecendo que para a ginástica haverá um mestre e uma mestra." (MARINHO,1957)
"A história da Educação Física brasileira é marcada pelo seu caráter obrigatório. Segundo Castellani Filho (1988, p.16), a obrigatoriedade da Educação Física tem o seu marco no parecer nº. 224 de 1882, de Ruy Barbosa. Também é mantida na primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei nº.4.024/61) e na Reforma Educacional do ensino de 1º e 2º graus de 1971 (Lei nº. 5.692/71), A Educação Física obrigatória é regulamentada pelo Decreto nº. 69.450/71, que estende a sua obrigatoriedade a todos os níveis de ensino e a caracteriza como uma atividade desportiva e recreativa escolar. Assim, a inclusão da Educação Física na escola é dada por lei."( CORRÊA e MORO, 2004)
Com a Lei nº. 9.394/96 a Educação Física passa a ser vista como um componente curricular como outro qualquer. "Em seu Artigo 26, parágrafo 3º, a Lei diz: Á Educação Física, integrada à proposta pedagógica de escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e ás condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.'"(BRASIL, 1996,Apud DARIDO e RANGEL,2005,p.55; CORRÊA e MORO,2004,p.43; PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,2000,p.24)
A EDUCAÇÃO FÍSICA, SEUS COMPONENTES CURRICULARES E SUA LEGITIMAÇÃO
"Ao analisarmos historicamente o papel da Educação Física na sociedade brasileira, poderemos constatar que suas tendências e/ou concepções pedagógicas estão afetas ao momento político e econômico em que elas se deram. Teremos assim caracterizadas algumas tendências cujas áreas de influência foram: a médica, a militar, a bio-psico-social e a desportiva", segundo Barbosa (1997, p.23), que Ghiraldelli Junior identifica como: "a Educação Física Higienista (até 1930); a Educação Física Militarista (1930-1945); Educação Física Pedagogicista (1945-1964); Educação Física competitivista (pós-1964);e, finalmente, a Educação Física Popular.(...) Existe pelo menos um ponto em comum entre as várias concepções: a insistência na tese da Educação Física como atividade capaz de garantir a aquisição e manutenção da saúde." Observaremos a seguir os objetivos principais dessas tendências:
Higienista: a ênfase em questão da saúde está em primeiro plano
Militarista: é uma concepção que visa impor a toda a sociedade padrões de comportamento estereotipados, frutos da conduta disciplinar própria ao regime de caserna.
Pedagogicista: encara a Educação Física como uma pratica eminentemente educativa, advoga a ' educação do movimento' como sendo a única forma capaz de promover a chamada ' educação integral'.
Competitivista: é a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para a sociedade moderna.
Popular: Entende que a educação dos trabalhadores está intimamente ligada ao movimento de organização das classes populares para o embate da prática social, ou seja, para o confronto cotidiano imposto pela luta de classes. (GHIRALDELLI JUNIOR,1998)
A Educação Física enquanto atividade "era entendida perante a legislação como destituída de um saber próprio, sem conhecimento a ser oferecido ao aluno: um fazer por fazer"(DARIDO e RANGEL,2005.p.59). Então não bastava a Educação Física ser obrigatória por lei, agora era necessário legitimar a Educação Física, e para isso lança-se mão dos seus conteúdos, onde o Esporte se destaca por causa de sua função integradora, sociabilizando os praticantes, além de ser prazeroso (recreativo), contribuindo para a promoção da saúde,melhorando o condicionamento físico, dando sentido de grupo , cooperação ,mas também é disciplinador, utilizando suas regras.
O ESPORTE
O Esporte tem vários conceitos e ser visto de muitas formas, como por exemplo afirma Cagigal(1972), " o Esporte é um dos hábitos que caracteriza o nosso tempo , ou como coloca Tubino(2001), ó maior fenômeno do século XX', por isso listaremos alguns conceitos, encontrados em Darido e Rangel (2005), para que se possa ter uma maior compreensão sobre seus significados.
"Em sua origem, a palavra Esporte significava regozijo, ou seja, diversão, e continua, ainda hoje, servindo de base para quase todas as definições atuais. Betti (1991) conceitua o Esporte como uma ação social institucionalizada, composta por regras, que se desenvolve com base lúdica, em forma de competição entre dois ou mais componentes ou contra a natureza, cujo objetivo é, por meio de comparação de desempenhos, determinar o vencedor ou registrar o recorde, (...) e bem mais rigoroso, Bracht(1989)refere-se ao Esporte como uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo que surgiu no âmbito da cultura européia por volta do século XVIII e se expandiu por todos os cantos do planeta, que em seu desenvolvimento , assumiu as seguintes características básicas: competição, rendimento físico-técnico, record, racionalização e cientificização do treinamento." E ainda temos Kolyniak Filho(1997), que define de uma forma um pouco mais detalhada, para ele o "Esporte é uma atividade realizada na forma de jogo(no sentido de que não há a certeza absoluta antecipada do seu resultado) em que duas ou mais pessoas confrontam determinadas habilidades motoras especificas,em condições e limites espaço-temporais preestabelecidos, competindo segundo regulamentos, normas e procedimentos reconhecidos, registrados e controlados publicamente, sendo o resultado de tal confronto passível de comparação com resultados verificados em outras competições similares.(DARIDO e RANGEL, 2005)
A Educação Física começa a ser influenciada, em todo o mundo pelo Esporte, após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, segundo Darido e Rangel (2005), a esportivização deu-se na metade da década de 40, porém Corrêa e Moro são mais específicos dizendo que foi "a partir dos anos 50 que a Educação Física Escolar foi influenciada pelo Esporte_ ganhando grande popularidade como elemento hegemônico da cultura do movimento-, mantendo sua hegemonia até nossos dias." Então os "princípios da Educação Física passam a ser os princípios do Esporte". ( CORRÊA e MORO, 2004).
Nesse período de Pós-segunda guerra,
"que coincide com o fim da ditadura do Estado Novo no Brasil, surgem outras tendências disputando a supremacia no interior da instituição escolar. Destaca-se o Método Natural Austríaco desenvolvido por Gaulhofer e Streicher e o Método da Educação Física Desportiva Generalizada, divulgada no Brasil por Auguste Listello, predomina nesse último a influência do Esporte". (COLETIVO DE AUTORES,1992,pp53-54).
Utiliza-se então a "tese de que um país desenvolvido economicamente tinha que ser competente também nos desportos" e pelo "Decreto-Lei nº. 705/69, cabia ao desporto contribuir para o esvaziamento dos movimentos estudantis, que à época resistiam às atenções antidemocráticas do Estado". (BARBOSA, 1997, p24)
"Nesse sistema, o Esporte tem lugar em todas as aulas, como principal conteúdo de ensino, estando acima das 'querelas políticas', sendo assim capaz de formar o cidadão nos moldes desejados pela educação liberal." (BARBOSA, 2001, p.53) Essa influência do Esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então, não o Esporte da escola mas sim o Esporte na escola.Isso indica a subordinação da educação física aos códigos/sentidos da instituição esportiva, caracterizando-se o Esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: Esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional."( COLETIVO DE AUTORES, 1992,p.54) "BRACHT (1989) concorda com tal análise, demonstrando como os princípios da instituição esportiva adentram a escola, trazendo para o interior da Educação física valores como o rendimento, competição, recordes, etc., confrontando assim a ação pedagógica da área.(...) A Escola é a base da pirâmide esportiva. É o local onde o talento esportivo vai ser descoberto(...), a instituição esportiva sempre lançou mão do argumento de que o Esporte é cultura, é educação para legitimar-se no contexto social, e principalmente para conseguir apoio e financiamento oficial" (BRACHT,1989,p.29,Apud CAPARROZ,2005,pp.126-127)
De acordo com Betti (1991), não é fora de propósito, portanto, que pressões sócio-políticas procurem colocar a Educação física Escolar a serviço do Esporte de alto nível, tornando-a uma seletora de possíveis campeões.
Para Brohm, "a competição é a relação dominante na instituição esportiva e o recorde é a 'noção-chave da sociologia do Esporte'(cap.4,p.138) (...) o recorde é uma espécie de 'fetiche típico do Esporte'(cap.4,p.140),o reflexo de uma sociedade baseada na concorrência, na medição e comparação de desempenhos e na classificação dos indivíduos", e ainda afirma que , " o fato como entendemos o Esporte, tal como o entendemos, i)nasce com a sociedade industrial e é inseparável de sua estruturas e funcionamento;ii)evolui estruturando-se e organizando-se internamente de acordo com a evolução do capitalismo mundial; iii)assume forma e conteúdo que refletem essencialmente a ideologia burguesa (como já foi mencionado).(PRONI, In PRONI e LUCENA,2002)
Conforme Moro (1990-1999), Lencert (1984), e Dieckert (1984), "o Esporte não seria em si propriamente reprodutor de valores sociais capitalistas ou de uma sociedade industrial" ele "teria a áutonomia', que se caracterizaria como um 'fenômeno psicossocialímpulsionando a autocriação esportiva e a capacidade de solucionar os seus próprios problemas."(CORRÊA e MORO,2004.pp.103-104)
É importante ressaltar, e isso com o respaldo de Bracht(2000), que nessa constante luta de legitimar e/ou criticar o Esporte surgem alguns equívocos, que segundo ele, devem ser esclarecidos. Um deles seria o "de quem faz critica ao Esporte é contra ele. O autor esclarece que a critica não tem o sentido de negar o Esporte como conteúdo da Educação Física Escolar. Áo contrário, se pretendemos modificá-lo é preciso exatamente o oposto, é preciso tratá-lo pedagogicamente. ' E um outro "equivoco seria centralizar-se uma idéia, muito comum, de acreditar que as aulas de Educação Física, na perspectiva critica, priorizam a reflexão (aulas teóricas) em detrimento do movimento" (BRACHT, 2000.p.XVI, Apud CAPARROZ, 2001).
É necessário ainda um aprofundamento no dialogo referente ao Esporte, com outros autores, com perspectivas, visões diferentes, para que não se corra risco de erros nas análises das representações, funções do Esporte na escola, e como é possível tratá-lo pedagogicamente de forma que se possa moldar o esporte de acordo com as necessidades dos alunos presentes na escola de cada bairro, cidade e até mesmo região. Pois cada escola tem um publico diferente e o currículo da Educação física não pode estar distante dessa realidade, para que ocorra uma formação completa do indivíduo, tendo em vista que todos eles têm direito a uma educação critica acima de tudo
Obs. As autoras, professoras Joanna de Ângelis Lima Roberto (nanaufrrj@yahoo.com.br) Aline de Carvalho Moura (licacmoura@hotmail.com) lecionan na rede privada.
BIBLIOGRAFIA
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- Betti, Mauro. Educação Física e Sociedade. - São Paulo: Movimento, 1991.
- Caparroz, Francisco Eduardo. O Esporte como conteúdo da Educação Física: uma "jogada desconcertante" que não "entorta" só nossas "colunas", mas também nossos discursos. Perspectiva em Educação Física Escolar. Niterói, v.2, n.19 (suplemento), 2001 (mimio).
- ________ Entre a Educação Física na Escola e a Educação Física da Escola: a Educação Física como componente curricular. 2ª ed. -Campinas, SP:Autores Associados,2005.
- Coletivo de autores. Metodologia do ensino de Educação Física. -São Paulo: Cortez, 1992.
- Corrêa, Ivan Livindo de Senna. e MORO, Roque Luiz. Educação Física Escolar: reflexão e ação curricular. -Ijuí: Ed.UNIJUÍ, 2004.
- Darido, Suraya Cristina e RANGEL, Irene Conceição Andrade (coordenação). Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. -Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
- Freitas, Giovanina Gomes de. O esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal e a corporeidade. -2ª ed. - RS: Ed. UNIJUÍ, 1999.
- Ghiraldelli JR, Paulo. Educação Física Progressista. -9ªed. -São Paulo: Loyola, 2004.
- Marinho, Inezil Penna. Educação Física, Recreação -Jogos _ RIO_ 1957
- Melo, Victor Andrade de. História de Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e perspectivas - 3ª ed. - São Paulo: IBRASA, 1999.
- Parãmetros Curriculares Nacionais: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. -2ª ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
- Proni, Marcelo Weishaupt e LUCENA, Ricardo de Figueiredo de. (orgs.). Esporte, história e sociedade. -Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
- Savani, Dermeval. Escola e Democracia. -35ª ed.revista - Campinas, SP: Autores Associados, 2002
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