Header Ads

O treinador pessoal e a prática com alunos com deficiência física/sensorial


Formação profissional em Educação Física

    Neste estudo pretendemos abordar o tema da formação profissional e conhecimento em educação física, principalmente na especialização do profissional como treinador pessoal para atuar com deficientes físico/sensoriais. Faz-se necessário abordar inicialmente as questões referentes à identidade da educação física em uma descrição histórica na sua relação com o conhecimento, até chegarmos às mudanças de mercado que fizeram surgir o treinador pessoal e seu trabalho com deficientes físico/sensoriais.

    Percebemos como necessárias algumas indagações pertinentes ao tema. Iniciamos com o termo do treinador pessoal que tradicionalmente esteve ligado à idéia de saúde e de corpos saudáveis, bem como à comunidade elitista e de poder econômico para essa finalidade. Assim indagamos: como o histórico de formação profissional da área da educação física se distanciou da temática das necessidades especiais? Como é possível pensar na prática profissional do treinador pessoal da educação física para deficientes físicos/sensoriais quando historicamente a educação física atuou com as pessoas saudáveis? O que a literatura da área da educação física e do treinamento pessoal aborda sobre o tema da atuação profissional com a deficiência? Que perspectivas profissionais são possíveis na área do treinamento pessoal para pessoas com deficiência física/sensoriais?

    A partir dos questionamentos realizados podemos iniciar com alguns aspectos teóricos que abordam o histórico da formação profissional da educação física e sua relação com o conhecimento que desenvolve na formação inicial dessa área.

    Assim, a identidade da educação física até a década de sessenta era marcada por uma vertente pedagógica, uma visão desenvolvimentista, cujos profissionais envolvidos buscavam a aplicação de métodos didáticos sustentados por uma política educacional, que no plano cultural, buscava a formação do homem em uma concepção filosófica de sociedade (BRACHT, 2003).

    É difícil tratar do surgimento da educação física, mas é possível investigar as concepções da educação física como área do conhecimento. Ressaltamos que a influência das ciências biológicas na educação física se fortalece nas décadas de setenta e oitenta com o aumento da prática do esporte pela população, não somente como prática social, mas a partir de uma ordem política/militar que regia a preparação física como fundamental para o trabalho na sociedade como forma de rendimento no setor produtivo.

    Nas décadas de setenta e oitenta, a educação física sofre influência de uma nova política neoliberal, que modifica o mercado de trabalho e exige mudanças de metas das instituições de ensino como forma de adequação em um novo mercado de trabalho. Entretanto a busca por uma identidade científica na tentativa de fundamentar teoricamente a educação física faz surgir uma visão da prática esportiva tendo como base as ciências biológicas do treinamento em uma caracterização epistemológica da educação física, que é direcionada através do esporte para a tentativa de realizar uma área interdisciplinar a partir das ciências do esporte. A construção de uma teoria da educação física como atuação pedagógica do professor através da cultura corporal do movimento, encontra-se distante da prática realizada (BRACHT, 2003).

    A permanência de uma vertente pedagógica presente no discurso da educação física se dá em virtude de uma história de intervenção da educação física direcionada com exclusividade a escola. Nos anos 90 fez-se presente o discurso do saber docente que é formado por diversos saberes, como os saberes da disciplina, os saberes curriculares, os saberes profissionais e os da experiência. Este último é o principal saber, uma vez que está relacionado diretamente à outros saberes e constitui a prática cotidiana do professor de educação física (TARDIF et al, 1991)

    Os diversos saberes mostram um professor de educação física atuante somente em escola, relacionando no máximo o esporte escolar. O mercado de trabalho adquire uma dimensão que abrange a área da saúde, tornando este saber voltado à prática escolar insuficiente para suprir as necessidades de mercado.

    A influência do mercado de trabalho na educação física se dá através de uma perspectiva de desenvolvimento profissional de uma sociedade capitalista com uma visão de perspectivas estéticas, individuais e de funcionalidade. A visão capitalista tem influência nas subdivisões da sociedade como na educação escolar, o rendimento no esporte, a saúde e o lazer.

    Percebemos nas ações capitalistas uma perspectiva cultural de melhora da qualidade de vida em uma concepção para o consumo de bens (SCHERER, 2005). Passamos, então, a considerar que o profissional de educação física, afastado da intervenção na escola pudesse ter outro tipo de conhecimento, o conhecimento voltado para o mundo do trabalho em que vive.

    Surge no mercado de trabalho o treinador pessoal, que possui um mercado amplo e em expansão para sua atuação, este mercado é determinado pelo consumo de produtos e serviços que aparecem na mídia constantemente. A valorização profissional através de um rendimento financeiro apropriado é desejável, entretanto outros aspectos levam o treinador pessoal a se acomodar aos movimentos do mercado e suas influências (SCHERER 2005).

    A visão de domínio das ações para contemplar o mercado e a valorização estética do corpo vem se afirmando e se posicionando como uma ordem a ser seguida pelos profissionais que trabalham como treinador pessoal que adaptam-se continuamente aos modismos implementados por uma sociedade calcada em valores éticos e estéticos voltados para o consumo (SCHERER et al, 2006).

    Destacamos a necessidade de uma melhor formação do professor de educação física, buscando uma melhor expressão do sentido de saúde para uma população com deficiência física/sensorial, e o quanto sua consciência influi diretamente no aluno que o considera parte de um contexto interdisciplinar não somente de educação, mas de saúde e qualidade de vida.

Educação Física e desenvolvimento humano

    O que lembramos ao tratar do tema da educação e desenvolvimento humano são das práticas desenvolvidas na disciplina de psicomotricidade durante a graduação. Aprendizagem e desenvolvimento se confundem na prática e em seus conceitos, ao observarmos crianças praticando o brincar, bem como suas ações diante de outras crianças (FALKENBACH, 2002). A análise que acadêmicos realizam como observadores não difere de um processo de aprendizagem e desenvolvimento no processo de formação pessoal do sujeito, assim como sua formação profissional, especificamente na área da saúde. O que pretendemos com esta relação entre a formação do sujeito na vida e da criança durante uma aula de psicomotricidade, é que devemos fazer uma análise da vivência relacionando a vivência do cotidiano com a vivência dentro de uma instituição de ensino. Quanto mais cedo um acadêmico conseguir identificar o motivo que o fez ingressar em um curso superior de educação física, maiores são as chances dele identificar-se com a profissão e auxiliar na definição do rumo da educação física.

    A educação física tem na expressão corporal a oportunidade de desenvolver o humano na contemplação do educar como troca de experiências entre sujeitos e do físico através na subjetividade dos corpos pelo movimento.

    É nessa perspectiva que Freitas (2006) vai sugerir que a formação inicial do professor tenha como fundamento a perspectiva do desenvolvimento humano baseada em Vygotsky. Alerta que a primeira consideração a ser feita é o conhecimento de como se dá o desenvolvimento humano para poder trabalhar com pessoas com deficiências. Assim busca-se uma resposta na perspectiva de Vygotsky (1997) que desfaz a perspectiva biológica do desenvolvimento humano e permite uma compreensão da dinâmica das relações interpessoais para a aprendizagem e o desenvolvimento. Assim o treinador pessoal que assume conhecimentos na área do desenvolvimento humano compreende sua intervenção e influências que mantém em níveis de trocas sociais e de conhecimento com seus alunos, principalmente aqueles com deficiências.

    O desenvolvimento humano existente na prática como processo pedagógico para sua aquisição. A pedagogia que usa o corpo e sua expressão como forma de interpretar a realidade tem em seu principio o desenvolvimento do sujeito através de aprendizagens resultantes de troca de experiências. Desde o nascimento a criança está em processo de aprendizagem, principalmente através do que os outros lhe possibilitam aprender através de novas vivências. A ação pedagógica daquele que ensina, deve ultrapassar as capacidades intelectuais já adquiridas e proporcionar que novas aprendizagens sejam precursoras do desenvolvimento das capacidades iniciais (VYGOTSKY, 2001).

    Falta na educação física um reconhecimento de sua própria condição como ação pedagógica, mas mais do que isso a própria determinação de qual pedagogia é própria para educação física. A pedagogia da educação é reconhecida por uma aprendizagem intelectual e usualmente lingüística, onde o uso da inteligência demonstrada na ação mental faz do ser humano um ser completo e de formação plena. A importância adquirida no uso do corpo, como as próprias discussões a cerca da corporeidade conduzem um corpo humano identificado para o trabalho e a produção. Um corpo com projeções futuras de rendimento e que deixa de dar valor aos aprendizados do passado para melhor compreender e viver o presente (SANTIN, 1995).

    A disposição da ciência sobre a conduta de valores faz do meio esportivo o único meio da educação física. A própria proposta de troca do termo educação física por ciências do esporte já foi realizada e permitiria uma visão centrada no rendimento esportivo como única metodologia de um ensino que se tornaria treinamento, e o componente pedagógico se perderia entre os diversos tipos de saberes (TARDIF et al, 1991).

    A ciência como única vertente de conhecimento evolui a cada desenvolvimento da sociedade humana que faz desta ciência a verdade única pela sua característica objetiva e possível de constatação. Toda forma de conhecimento que dependa de uma análise de valores pela subjetividade do saber humano passa pela descrença de uma sociedade que perdeu com sua "evolução" o poder de sentir e perceber através de outros saberes, e evolui da ciência para a ciência. Juntamente com a evolução das ciências, a visão tradicional da ética como análise de valores, perdeu qualquer credibilidade por possuir vínculo com outros saberes que não as das ciências exatas (SANTIN, 1995).

    Existem diferentes perspectivas e discussões sobre o conceito de conhecimento, de como ele é produzido, de como ele é estruturado ou dividido e que possíveis influências podem interferir no processo de construção ou transmissão dele. Estas perspectivas são discutidas dos pontos de vista epistemológico, etimológico, psicológico, filosófico e de senso comum.

O treinador pessoal

    O treinador pessoal é fruto da generalização da profissão da educação física, bem como da dificuldade de identidade da profissão com uma epistemologia. A área da educação física é onde encontramos presente um mercado de trabalho que possui uma ocupação de profissionais nem sempre direcionados a um campo específico de formação, uma vez que a própria educação física possui as mesmas dificuldades.

    Como profissional autônomo, o treinador pessoal adquire uma característica de prestador de serviço ao cliente/aluno, e se diz possuidor de vários conhecimentos que estão associados às disciplinas biológicas dos cursos de graduação (fisiologia, cinesiologia, treinamento desportivo...) se apresentando como apto a exercer uma função de difícil definição. Estaria o treinador pessoal exercendo a função de educador ou informador? O cliente/aluno de treinamento pessoal estaria sendo ensinado a praticar exercícios? Ou ainda, existe no treinamento pessoal uma proposta de educação pelo movimento? A falta de identidade no serviço prestado pelo treinador pessoal é a conseqüência do mesmo problema originado na educação física. A visão no esporte como precursor das pesquisas científicas em educação física, limita as pretensões educacionais ou pedagógicas, como objetivos nos gestos motores, a partir do momento em que o objetivo da prática do movimento direcionado ao esporte está limitado pela imitação e reprodução de movimentos técnicos pré-estabelecidos.

    No presente século os profissionais da educação física estão apoiados por uma corrente de saúde e qualidade de vida liderada pelos meios de comunicação que diferente das décadas passadas, estão auxiliando a população a conduzir sua vida em prol da promoção da saúde através da prática de atividade física e exercício. O profissional de educação física que presta serviços na condição de melhora da saúde e qualidade de vida, e se propõe a estimular na população, estilos de vida ativos, são característicos do treinador pessoal. Percebemos nas palavras de Nahas (2003) que:

    "A saúde é um de nossos atributos mais preciosos. Mesmo assim a maioria das pessoas só pensa em manter ou melhorar a saúde quando esta se acha ameaçada mais seriamente e os sintomas de doenças são evidentes" (p.18).

    O treinador pessoal tem uma proposta de trabalho multidisciplinar, juntamente com outros profissionais da área da saúde, como o médico, o fisioterapeuta e nutricionista. Como causa de proliferação do treinador pessoal, encontramos a influência na intervenção profissional em educação física de uma visão do esporte de rendimento e melhores condições estéticas e individuais (SCHERER, 2005).

    Encontramos na falta de produções científicas sobre o treinador pessoal, as dificuldades de aperfeiçoamento do conhecimento deste profissional de educação física, bem como das pessoas que procuram conhecer este serviço pessoal.

    Há referencial sobre estratégias de mercado e informações gestacionais para atuação do treinador pessoal como um serviço empresarial. Existe a carência de um referencial com considerações didático-pedagógicas e suas repercussões na área da saúde. Entretanto, a gestão do treinador pessoal não deixa de ser um auxílio para montagem dos programas de treinamento pessoal e o conhecimento acerca deste processo.

    As características do treinamento pessoal estão em sessões individuais em locais de atuação como praças, academias, salas personalizadas e residências, assim como a existência da avaliação do aluno de treinamento pessoal que somadas as características deste aluno auxiliam o treinador pessoal na montagem dos programas onde ainda podem ocorrer sessões em pequenos grupos (COSSENZA, 1996).

    Em relação aos objetivos dos alunos de treinamento pessoal, o programa com um treinador pessoal supera em tempo e qualidade as atividades realizadas em atendimento ao público como em academias. O condicionamento considerado ideal pelo aluno de treinamento pessoal possui uma tendência a ser alcançado de forma mais acelerada, sendo que esta evolução adere-se a característica do atendimento (PINHEIRO, 1998). A confirmação desta tendência está no estudo que analisou a influência da supervisão direta de um treinador pessoal no treinamento de força de sujeitos treinados. Mesmo sendo treinados os sujeitos que tiveram o treinamento de força realizado juntamente com o acompanhamento de um treinador personalizado obtiveram melhores resultados de força e hipertrofia muscular (MAZZETTI et al, 2000).

    A popularização do treinamento pessoal hoje é devida a constatação dos diversos benefícios que um programa de atividades de treinamento pessoal abrange (PINHEIRO, 1998). Segundo Dantas (1998) estão relacionados todos os princípios científicos do treinamento que fazem parte do treinamento pessoal. São eles: princípio da individualidade biológica, da adaptação, da sobrecarga, da continuidade e da especificidade. O princípio da individualidade lida com características genéticas do indivíduo, sendo clara a importância desta carga genética no exercício e avaliada através da composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força máxima possível e aptidões físicas.

    Neste sentido, características adquiridas a partir do nascimento são analisadas como: as habilidades desportivas, o consumo máximo de oxigênio, o percentual observável dos tipos de fibras musculares e potencialidades expressas (altura e força máxima, por exemplo).

    O princípio da adaptação trata de fatores internos (córtex cerebral) e externos (calor e frio, por exemplo), na modificação da homeostase, sendo esta um estado de equilíbrio do organismo com o meio ambiente; do princípio da sobrecarga, na aplicação de um trabalho e uma recuperação do organismo pós-atividade; do princípio da continuidade onde há uma relação direta entre a duração e a interrupção no período de treinamento; e do princípio da especificidade, que procura estabelecer os objetivos de um treinamento à sua utilização na prática.

    Quanto ao conhecimento do treinador pessoal um estudo conduziu 115 treinadores personalizados a responderem um questionário que compreendia questões de conhecimento técnico como treinamento, prescrição de exercício, nutrição e treinamento para populações especiais. Os resultados sugeriram que o treinador personalizado deve possuir um maior conhecimento da área que atua através de um licenciamento que o possibilite atuar com treinamento personalizado. Os autores sugerem um curso de bacharel em ciência do exercício com certificação através de critérios que habilitem o treinador a atuar com qualidade (MALEK et al, 2000).

    O local de atuação de um treinador pessoal é variado, pois entre as características dele está a criatividade. Neste sentido, o treinador pessoal pode atuar em três lugares diferentes que servem como ponto de partida para a exploração desta criatividade na construção de seus programas, que são segundo Rodrigues (1996) e Domingues Filho (1998): nas academias - onde ele utiliza o espaço acompanhando pessoalmente o trabalho desenvolvido ou apenas supervisionando a sessão com revisões periódicas do treinamento a ser realizado; nas residências - onde o atendimento acontece em condomínios ou mesmo casas particulares. Neste momento entra em prática a criatividade do treinador pessoal em organizar um material apropriado para aquele aluno e suas necessidades. Deve-se criar um ambiente alternativo através do conforto e da praticidade que não permita o abandono da atividade física. Ao ar livre, onde a criatividade é semelhante ao trabalho residencial em que não estão disponíveis acessórios ou aparelhos, às vezes necessários para as sessões é um bom aproveitamento do convívio com a natureza e um ótimo estímulo para trabalhar questões motivacionais.

    As atividades do treinador pessoal no que diz respeito à informação de seu aluno estão ligadas, segundo Bompa (2002), ao conhecimento teórico atribuído, pelo treinamento com exercícios físicos sobre os fundamentos fisiológicos e psicológicos do planejamento, nutrição e regeneração do treinamento. Quanto a sua adaptação, vemos fatores ligados à saúde no seu fortalecimento e manutenção através da intensidade de treinamento e capacidade de esforço, alternando cargas de trabalho com fases de regeneração.

    Trataremos a seguir das perspectivas que o treinador pessoal possui para relacionar seu conhecimento na atuação prática com pessoas com deficiência físico/sensorial.

Perspectivas do treinador pessoal para pessoas com deficiência física/sensorial

    O trabalho do treinador pessoal vai além do desenvolvimento de capacidades cognitivas e motoras, criando uma proposta de trabalho que estimule a afetividade nas pessoas e prepare estas com condicionamento físico e melhora da aptidão física através do direcionamento pessoal que idealizam uma rapidez adequada às condições e necessidades do aluno (PINHEIRO, 1998).

    Uma vez iniciada a prática do trabalho físico com seu aluno, o treinador pessoal deve perdurar uma imagem sempre positiva e confiante, diante de qualquer situação que venha a ocorrer durante sua relação com o aluno. Manter esta imagem, não significa ser anti-realista ou não considerar momentos não harmônicos em seu ambiente de trabalho. É cabível aceitar que certos dias, seu próprio aluno não estará apto para uma hora de exercícios, ou mesmo desanimado para a realização do trabalho. Existem limites na relação de um treinador pessoal e seu aluno, porém, dentro de um perfil profissional, o leque de oportunidades relacionais é amplo.

    A motivação no ambiente da prática vem a somar em qualidade no trabalho programado onde, através da comunicação, cresce a motivação do aluno. Conforme Brooks (2000), a maneira pela qual o treinador pessoal interage com seus alunos tem influencia sobre o modo como eles se percebem. Esta questão motivacional é confirmada em um trabalho de reabilitação em fisioterapia através de um estudo de caso onde houve melhora de um paciente encaminhado para cirurgia com hérnias discas através do atendimento personalizado na utilização da técnica de Reeducação Postural Global (RPG) que acarretaram no cancelamento do procedimento cirúrgico pré-constatado. A associação da RPG juntamente com um método de treinamento pessoal conduziu o paciente a melhoras significativas, não somente em aspectos clínicos como também em aspectos emocionais e psíquicos (DACCA et al, 2000).

    O interesse que o treinador de atividade física pessoal terá por seu aluno, é o que mediará a relação e o ajudará a autenticar as ações pessoais do segundo. Este, por sua vez, quer ou espera encontrar um profissional qualificado e, por isso está procurando seus serviços.

    Faz parte na atuação deste profissional e é considerado de tamanha importância para manter um interesse nas aulas e na adesão das atividades, que o incentivo seja usado de maneira a melhorar a relação com o aluno e este se sinta à vontade durante as sessões. Rodrigues (1996) comenta que a atenção do treinador pessoal à atuação de seu aluno na prática requerida, no que diz respeito às ações que este pratica e que com elas se gratifica, deve ser levada em conta como forma de incentivo para ele, no sentido de que cada ação seja um movimento motivador. Um exercício específico ou uma conversa adequada pode ampliar a vontade de praticar e vivenciar aquele momento.

    Entre os diversos perfis de usuários do serviço de treinamento pessoal, podemos destacar objetivos característicos de pessoas com deficiência física/sensorial:


Tabela 1. Adaptado de Isidro et al, 2007.

    As compreensões da tabela permitem perceber a inserção de características dos alunos com deficiência física/sensorial no trabalho com o treinador pessoal, bem como os objetivos destes alunos. Tentando explicar tais adaptações, iniciamos pelo termo "reabilitação e inclusão social" onde a palavra "recuperação" é substituída por "inclusão" como sendo um dos principais objetivos e dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência física/sensorial (GUERRA, 2002; PADILHA, 2001). O "Treinamento específico para a patologia em questão" trata de critérios na construção de um programa de exercícios e atividade física com o treinador pessoal que vise a melhora da condição de saúde do aluno com deficiência física/sensorial e reabilitação de fatores funcionais diante das alterações destes fatores proveniente da patologia em questão. O treinador pessoal tem por objetivo buscar melhoras do aluno com deficiência física/sensorial no que diz respeito às alterações causadas pelas características da deficiência e não tratar a deficiência. Buscamos referências nos estudos de Sacks (1997) para poder afirmar que o treinador pessoal deve tratar do aluno com a deficiência e não a deficiência do aluno.

    O treinamento pessoal deve priorizar a construção de um programa pessoal visando as particularidades e necessidades do aluno de forma que não o rotule por sua deficiência ou por uma classificação de ordem biológica de profissionais da área da saúde (PADILHA, 2001). Pessoas com deficiência física/sensorial possuem propensões maiores do que outras para desenvolver patologias decorrentes de um comportamento, por vezes, sedentário. Patologias como hipertensão e diabetes são freqüentes em pessoas com deficiência física/sensorial. Logo, é mais do que conveniente que a prevenção e o tratamento destas patologias façam parte de um programa de treinamento pessoal para este público.

    A busca pelo próprio desempenho passa a ser constante no cotidiano do treinador pessoal principalmente pela competição do mercado de trabalho que exige um melhor desenvolvimento pessoal na busca de novas tecnologias.

    O treinador pessoal é detentor de um processo cotidiano de autocrítica em seu campo de trabalho onde estão diariamente sendo inseridas novas tendências e culturas. O treinador pessoal tem a pretensão de conquistar seu espaço através de habilidades e competências na escolha de padrões de qualidades profissionais. O treinador pessoal passa por uma reciclagem diariamente influenciada pela necessidade de superação de suas habilidades. O aprendizado constante, para além do conhecimento em educação física, faz do treinador pessoal um profissional preparado para atuação em um mundo globalizado. As melhorias na capacidade de atender e desenvolvimento do treinador pessoal estão na formação continuada deste profissional (ISIDRO et al, 2007). Diversas são as formas de aprimoramento de um treinador pessoal em um processo de superação de habilidades pessoais. Desde o aprimoramento da leitura na melhora da comunicação; a melhora no domínio da tecnologia; o conhecimento de mais de uma língua como forma de acompanhar o crescimento e desenvolvimento científico. 

    Todas as formas de processos de desenvolvimento passam pelo conhecimento da cultura social e de novas culturas que fazem parte da formação profissional do treinador pessoal como educador que demonstra através de seus métodos didáticos, habilidades e competências a mudança de comportamento por parte daquele que passa pelo processo de treinamento pessoal.

    A importância do treinamento pessoal tem sido percebida pelos melhores resultados na assistência às patologias e análise minuciosa do problema investigado. Segundo Vygotsky (2005) o desenvolvimento do ser humano relativo a educação é precedido por formas de linguagem na interação com o meio. O meio não é somente uma condição, mas o fator pela qual ocorrem as aprendizagens (NEGRINE; MACHADO, 2004). Relacionando os estudos dos autores citados ao tema, afirmamos que o treinador pessoal é uma ferramenta na relação do aluno com o meio representando este meio de interação com seu aluno com deficiência físico/sensorial.

    O conhecimento do processo de aprendizagem na relação interpessoal é o que resulta em desenvolvimento, trata-se do processo na qual há influência do meio para a aquisição da aprendizagem (NEGRINE; MACHADO, 2004). Nessa perspectiva podemos refletir que o treinador pessoal é educador, modelo, estímulo e guia para o aluno com necessidades especiais.

    O aluno com deficiência físico/sensorial se desenvolve a medida que passa por um processo de mudança de comportamento. Segundo Monteiro (2006) o treinador pessoal é um educador, por ser um modificador de comportamentos. È um profissional que assume a responsabilidade de conduzir seu aluno no caminho da educação para a saúde. De acordo com Vygotsky (2001) a ação pedagógica daquele que ensina, deve ultrapassar as capacidades intelectuais já adquiridas e proporcionar que novas aprendizagens sejam precursoras do desenvolvimento das capacidades iniciais. Baseados nos estudos de Vygotsky podemos refletir que o treinador pessoal é precursor desta ação pedagógica proporcionando novas aprendizagens ao aluno com deficiência físico/sensorial. Baseados também em Padilha (2001) que trata que as aprendizagens como aquisição de conhecimento, são representados pelo simbolismo, conduzimos o papel do treinador pessoal como representante do simbolismo através de suas formas de linguagem em um treinamento pessoal para deficientes físico/sensoriais. 

    Inserido no contexto de um processo pedagógico o treinador pessoal propicia o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos deficientes físico/sensoriais através de um planejamento de um programa de atividades que relacionam o bem-estar deste aluno facilitando não somente sua inserção, mas sua inclusão em um meio de convivência social.

Considerações finais

    A utilização de um conhecimento pedagógico por parte do treinador pessoal se confirma quando de sua atuação na prática destaca-se a relação interpessoal adquirida de uma formação inicial através da didática, da pedagogia, das práticas de ensino e dos estágios. As técnicas corporais também são conhecimentos específicos necessários como os esportes, as danças, as lutas, as ginásticas e outras que se agregam na construção de conhecimento deste profissional como também a fisiologia, a cinesiologia e a biomecânica que fazem uma interface com o treinamento desportivo. Existem os componentes de formação humana geral como a filosofia, a sociologia e a antropologia, em que o estudo destas áreas ligadas ao movimento humano já são contempladas como áreas científicas.

    Acreditamos na existência de um componente pedagógico muito forte na atuação do profissional de educação física nos diferentes mercados de trabalho. Em nenhum momento ele é um simples prestador de serviço, que fica auxiliando seus alunos a alongar ou fica contando o número de repetições de cada série. A pedagogia está no cerne da questão profissional e, por isso, o conhecimento pedagógico é a representação que o profissional de educação física tem sobre a sua prática, envolvendo conteúdos, métodos didáticos e estrutura da sua atividade; sobre sua formação, tanto inicial como permanente; sobre sua visão da realidade social, política, econômica e cultural; sobre as suas concepções de mundo do trabalho, de educação, de saúde e de educação física; e sobre a sua experiência docente. (SCHERER; MOLINA NETO, 2000).

    Na construção do conhecimento do profissional de educação física para pessoas com deficiência física/sensorial está a relação com as exigências do trabalho em diversos contextos. O profissional de educação física deve estar preparado para participar de processo educativo de forma competente para lidar com diversas situações onde seja possível proporcionar aprendizagem aos alunos, para que de forma relevante, venha a obter êxito no trabalho pessoal.

    De acordo com as competências pedagógicas - profissionais do profissional que atua com pessoas com deficiência física/sensorial, segundo Fonseca (1995) algumas capacidades contemplam o trabalho deste como, utilizar-se de métodos pedagógicos educativos, de reabilitação ou compensatórios; caracterizar a atividade como interdisciplinar na troca de conteúdos informativos com outros profissionais envolvidos; concretizar um programa educacional individualizado; recomendar avaliações e reavaliações do programa trabalhado e abordar e integrar pais e outros alunos no processo educacional.

    Pessoas com deficiência física, mental ou sensorial acabam por questões sociais, não ingressando em um programa de exercícios ou na realização de atividades físicas regularmente. Tal ingresso teria tamanha importância em diversos fatores como por exemplo na redução da ansiedade e depressão como quadros característicos das pessoas com deficiência. A pessoa com deficiência física/sensorial melhora sua condição física mobilidade e reduz o grau de dependência em praticas regulares de atividade física e/ou exercício (NAHAS, 2003).

    O trabalho com o treinador pessoal para pessoas com deficiência física/sensorial ainda pode ser considerado inovador, embora as especificidades e características que embasam este trabalho mostrem mais do que possibilidades, mas significativa correlação entre o crescimento na área do treinamento pessoal e o desenvolvimento das pessoas com deficiência físico/sensoriais. Contudo, bibliografias e conteúdos referentes ao assunto são inexistentes, fator que aponta para a fragilidade do conhecimento acadêmico e formativo do profissional da área.

Referências

  • BOMPA, Tudor O. A Periodização no Treinamento Esportivo. São Paulo: Manole, 2000.

  • BRACHT, V. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. Ijuí. Unijui. 2003.

  • BROOKS, Douglas. Treinamento personalizado: elaboração e montagem de programas. São Paulo: Phorte, 2000.

  • COSSENZA, C. E. Personal training. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.

  • DOMINGUES FILHO, L. A. Personal trainer tem que ser qualificado. http://www.personaltraining.com.br.

  • DACCA, E. R. G. S. et al. Abordagem fisioterápica associada ao sistema de personal trainer no tratamento da hérnia de disco lombar: relato de caso. Arquivos de Ciências Unipar. Vol. 4, n. 2, p. 165- 168, 2000.

  • DANTAS, E. H. M. A Prática da Programação Física. Rio de Janeiro: Shape, 1998.

  • FALKENBACH, A. P. A educação física na escola: uma experiência como professor. Lajeado: UNIVATES, 2002.

  • FONSECA, V. da. Educação especial: programa de estimulação precoce - uma introdução às idéias de Feurstein. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 1995.

  • FREITAS, S. N. A formação de professores na educação inclusiva: construindo a base de todo processo. In RODRIGUES, D. (Org.) Inclusão e educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006.

  • GUERRA, L.B.; A criança com dificuldades de aprendizagem: considerações sobre a teoria, modos de fazer. Rio de Janeiro: Enelivros, 2002.

  • ISIDRO F.; HEREDIA JR.; PINSACH P.; RAMÓN M.; Manual del entrenador personal del fitness al wellness. Paidotribo: Barcelona; 2007.

  • MALEK M.H. The Journal of Strength and Conditioning Research. Estados Unidos, vol.16, n.1, p.19-24, fev. 2004.

  • MAZZETTI, S.A et al. Medicine and science in sports and exercise, Madison, vol.32, n.6, jun. 2000.

  • NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2003.

  • NEGRINE, A.; MACHADO, M. L. S. Autismo infantil e terapia psicomotriz: estudo de casos. Caxias do Sul: Educrs, 2004.

  • PADILHA, A.M.L. Práticas pedagógicas na educação especial: a capacidade de significar o mundo e a inserção cultural do deficiente mental. São Paulo: autores associados, 2001.

  • PINHEIRO, D. MALHEIRO JÚNIOR, S. Personal Trainer: um surgimento inevitável. Opinião de Especialistas. 1998. http://www.personaltraining.com.br.

  • RODRIGUES, Carlos Eduardo Cossenza. Personal Training. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.

  • SACKS, O. Tempo de despertar. São Paulo: Cia. das letras, 1997.

  • SANTIN, S. Educação física: ética, estética e saúde. Porto Alegre: EST, 1995.

  • SCHERER, A. Educação física e os mercados de trabalho no Brasil: quem somos, onde estamos e para onde vamos? In: ZENÓLIA, C. C. F. (Org.) Formação profissional em educação física e mundo do trabalho. Vitória: Gráfica da faculdade salesiana, 2005.

  • SCHERER, A.; MOLINA NETO. Revista Movimento. Porto Alegre: Ed. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.

  • TARDIF, M. LESSARD, C. LAHAYE, L. Os professores face ao saber: esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e educação. Porto Alegre, 1991.

  • VYGOTSKY, L. S. Obras escogidas: fundamentos de defectología. Madrid: Visor, 1997.

  • VYGOTSKY, L. S. LURIA A.R LEONTIEV A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.

  • VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Deninson Nunes Ferenci*

ferencinunes2@yahoo.com.br

Atos Prinz Falkenbach**















Conheça os Manuais para Professor de Educação Física
Tenha Atividades para Aulas de Educação Física
Trabalhe com Educação Física
Segue no Instagram!
Receba nossos links no Telegram e no Whatsapp .