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Esporte para pessoas com necessidades especiais


Não são poucas as dificuldades e desafios de quem possui algum tipo de deficiência, física ou mental. Elas podem ser congênitas ou terem sido adquiridas ao longo da vida. Seja qual for a razão ou a fatalidade que as levou a essa condição, a vida não acabou. É tudo uma questão de se adaptar a uma nova realidade. E, para isso, o esporte tem sido recomendado pelas diversas especialidades médicas que tratam dessas pessoas. As perspectivas são promissoras e os resultados têm se mostrado bastante positivos. Mas antes do início de qualquer atividade, consultar um especialista é uma providên cia essencial.

Isso porque, para além das dificuldades físicas aparentes, é possível que existam outras complicações que devem ser investigadas. "Esse cuidado facilita o conhecimento das sequelas e dos sistemas orgânicos comprometidos, direta ou indiretamente", explicam os fisioterapeutas Maria Salete Conde e Marco Antonio Ferreira Alves, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O aspecto psicológico também deve ser considerado, pois "aquele que já nasceu com uma deficiência, nunca se viu sem ela, e sempre vivenciou essa condição. O desafio é aprender a se ver de outra maneira e se adaptar a um novo estado", explica Iracema Madalena, psicóloga da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Nos casos de deficiência adquirida, é preciso conferir-lhes tempo para "trabalhar o próprio luto pela mudança ocorrida", completa.


Preparação
A iniciativa de incorporar a atividade física num processo de recuperação pressupõe aceitação da deficiência. "Isso não significa acomodação. A adaptação gradativa a essas situações é um processo muito diferente em cada caso", afirma a psicóloga. O médico que acompanha o caso normalmente indica uma modalidade esportiva, mas nunca a impõe. A pessoa é sempre livre para escolher as opções que mais lhe agradem. Esse é o caso de Iezza Sousa, de 14 anos, que pratica natação, remo e capoeira na AACD.

Mesmo com as duas pernas desarticuladas até o joelho, é muito rápida ao nadar e remar e já ganhou mais de 30 medalhas em competições. "Quando tive que desarticular o joelho achei que a minha vida havia acabado. Mas, a partir da primeira competição que participei senti que poderia fazer isso. Ainda existem pessoas que não acreditam nesse tipo de esporte e que você pode fazer várias coisas mesmo com uma deficiência, quando se vence uma prova fica provado que você é capaz, e você se sente assim", conta.

Vanderson Silva, que perdeu a perna esquerda em um acidente, é outro atleta paralímpico, recordista em lançamento de disco, que passou por várias modalidades esportivas. Contudo, nem todas as pessoas se adaptam ou têm o perfil competitivo para se tornar um atleta profissional. "Existem aqueles para quem o fato de conseguir entrar em uma piscina sozinhos já é uma realização", explica Edna Garcez, da AACD. "A forma de conquistar essas metas depende só da dedicação e esforço de cada um", diz.

Guia para familiares, amigos e atletas iniciantes*

● É muito importante que os pais, principalmente, mostrem que realmente acreditam no futuro e potencial do atleta. Dê a oportunidade para que isso aconteça com eles.
● Familiares e amigos devem apoiar totalmente a iniciativa do atleta de praticar várias modalidades de esporte. Sem essa ajuda, tudo fica muito mais difícil.
● Mesmo que o responsável trabalhe e não tenha como estar sempre perto para ajudálos, converse com alguém e peça auxílio para que eles possam sentir-se supridos. Rejeite a crença de que sua família está sozinha nessas circunstâncias e aceite a ajuda disponível. A ideia é não isolar o grupo familiar nem a pessoa que praticará a atividade.
● Todo atleta precisa treinar bastante para poder superar os seus próprios limites. Mas aqui não se trata apenas da prática esportiva mas também da deficiência em si mesma.
● Mesmo que você ache que não gosta de praticar esportes, tente. Hoje as práticas paralímpicas estão crescendo muito. Lembre-se de que vai ser difícil, e qualquer esporte é difícil, a maioria já pensou em desistir. Mas lute por aquilo que você quer. Já ouviu falar daquela história do "eu quero, eu posso, eu consigo"? Esta é uma é verdade.


Estratégias de treino
Com a ajuda de bons especialistas é possível montar o treino ideal para cada tipo de atleta. "O educador físico vai atentar à eficiência do movimento, fortalecimento, compensação, velocidade e à ação muscular nos pontos que a modalidade exige", afirma Cassiano Luis Ribeiro da Costa, especialista do Centro de Bem-Estar Levitas (SP).
Segundo ele, "ganho de massa muscular em todos os membros e tronco, de forma equilibrada, previne danos e recupera movimentos". Também é um trabalho de preparação para uma possível prótese", esclarece Pablius Staduto Braga Silva, médico do Grupo Fleury Medicina e Saúde.

Para os que querem praticar esportes, mas com o intuito de benefício para a saúde e sem a pretensão de se tornarem atletas, "a dificuldade e o desafio são equivalentes, mas os limites não. A diferença está na intensidade do treino para ambos, pois o modelo pode ser igual", comenta Cassiano Costa.


Não desanime!
Para o atleta Silva, o esporte, além de abrir portas, acrescentou muito à sua vida: "e não foi só em termos de saúde. Hoje eu me sinto muito melhor por saber que, direta ou indiretamente, posso servir de inspiração para alguém vir a praticá-lo também", completa. De acordo com Maria Salete e Marco, essa sensação pode ser o motivo pelo qual "o esporte adaptado é uma das intervenções que mais contribuem para o processo de reabilitação das pessoas com deficiência".
Se o apoio dos especialistas é importante, o da família é fundamental. Mônica Guimarães, 17 anos, é uma nadadora com paralisia cerebral, mas já conquistou cerca de 40 medalhas e está namorando um rapaz que conheceu durante os treinos. Para ela, o apoio da mãe foi e é indispensável para o seu sucesso.



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