História e a marginalização da Educação Física
Ao longo de sua história, a educação física vem sendo usada como um instrumento ideológico e de manipulação. Esteve estreitamente ligada às instituições militares e à classe médica, sendo estes vínculos determinantes para a concepção da disciplina e suas finalidades, direcionando o seu campo de atuação e a forma como devia ser ensinada. Visando a educação de corpo e tendo em vista um físico saudável e equilibrado organicamente, a educação física esteve ligada aos médicos higienistas que buscavam modificar os métodos de higiene da população. Além disso, por decorrência do grande número de escravos negros no país, a educação física esteve associada à
educação sexual, na qual as pessoas eram responsabilizadas em manter a "pureza" e a "qualidade" da raça branca (eugenia).
Dentro deste contexto, sob a influência da filosofia positivista, as instituições militares visavam com a educação física a ordem e o progresso, pois era de fundamental importância a formação de indivíduos fortes e saudáveis para a defesa da pátria e seus ideais.
Nos anos 30, por causa do processo de industrialização e urbanização e o estabelecimento do Estado Novo, a educação física passou a ser usada como forma de fortalecer e melhorar a capacidade de produção do trabalhador, visando desenvolver o espírito de cooperação em benefício da coletividade. Do final da década de 40 ao início da década de 60, houve esforço de tornar a educação física disciplina comum aos currículos escolares. Diante disso A educação física pedagogicista é, pois, a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar a educação física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar a educação física como uma prática eminentemente educativa (Ghiraldelli Júnior, 1991, p.19).
Após 1964, a educação física foi considerada como uma atividade prática que visava o desempenho físico e técnico do aluno. "Seu objetivo fundamental é a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna (...) A educação física é sinônimo de desporto e este, sinônimo de verificação de performance" (Ghiraldelli Júnior, 1991, p.20).
A partir do final da década de 70 surgem novas tendências na educação física escolar. Essas abordagens são resultadas de uma junção de diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Dentre elas, está a abordagem psicomotora, na qual a educação física é responsável pelo "... desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos, e psicomotores, ou seja, buscando garantir a formação integral do aluno. A educação física é, assim, apenas um meio para ensinar matemática, língua portuguesa, sociabilização..." (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p.23). Assim, a educação física, que anteriormente tinha como conteúdo a predominância do gesto técnico isolado (esporte), passa a não ter um conteúdo próprio, sendo considerada um meio para se alcançar o aprendizado.
Outra abordagem é a desenvolvimentista, que tenta ... caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento motor e da aprendizagem motora em relação a faixa etária e, em função dessas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes à estruturação de um programa para a educação física na escola (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p.24).
O movimento, neste caso, é encarado como o principal meio e fim da educação física, podendo estar, ocasionalmente, ocorrendo durante as aulas outras aprendizagens, no sentido afetivo, social e cognitivo, como conseqüência da prática das habilidades motoras (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998). Assim, foi sendo traçado o conturbado caminho da educação física através da história. Entendemos que esse complexo histórico e a insuficiente qualificação profissional são aspectos fundamentais que levaram a educação física a ser, de certa forma, marginalizada. Afinal, no período colonial, por exemplo, as atividades manuais e/ou físicas eram associadas ao trabalho realizado pelos escravos, pois a elite só se dedicava às atividades intelectuais. Além dos aspectos historicamente determinados, aspectos atuais também têm levado a educação física a ser marginalizada: o fato de ter suas aulas colocadas em horários convenientes para outras disciplinas e não de acordo com as suas necessidades específicas (por exemplo: as
aulas que são dadas em horário em que o sol é muito forte); a não integração da educação física no momento do planejamento, discussão e avaliação do trabalho pedagógico da escola; e o conseqüente distanciamento do professor de educação física da equipe pedagógica da escola, situação em que este acaba se convencendo da "pouca importância" do seu trabalho, levando-o a atuar isoladamente.
A partir da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, houve um esforço de reformulação das propostas curriculares, tornando a educação física componente curricular da educação básica. A partir desta nova concepção, as aulas de educação física devem desenvolver outras práticas corporais além dos esportes, como a dança, a ginástica geral, jogos e lutas, e através delas e do próprio esporte, exercer seu papel de contribuir na formação da criança. Através de práticas corporais onde as
crianças se expressam com maior espontaneidade, o professor de educação física deve ter um contato mais amplo e direto com elas. Na escola, o professor é quem deve determinar o caráter da dinâmica coletiva (competitivo ou recreativo, regras mais ou menos flexíveis) de acordo com características do grupo com que trabalha, propiciando assim a inclusão de todos os alunos. Com essa concepção abrangente do papel da disciplina, não há razão, portanto, para serem excluídos das aulas os alunos que tenham menor habilidade em determinada prática corporal, pois é possível adequar as práticas executadas nas aulas com a realidade vivida pelo grupo.
Tendo esse conhecimento de seus alunos, o professor conseguiria aprofundar o desenvolvimento de seu trabalho formando ,através de suas aulas, atitudes de respeito mútuo, dignidade, solidariedade, afetividade e coletividade. Ainda estabelecendo relações equilibradas e construtivas entre os alunos, fazendo-os reconhecer e respeitar características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais.
A educação física, como qualquer outra disciplina, tem responsabilidade na concretização do processo de formação e desenvolvimento de valores e atitudes, por essa razão, deveria considerá-lo como parte de seus conteúdos de ensino. Mais especificamente caberia ao professor o papel de coordenar de perto tudo isso, proporcionando durante suas aulas momentos em que, dentro de seu planejamento prévio, aproveitaria para torná-los educativos, discutindo e refletindo sobre cada situação ou fato ocorrido. Apesar da sólida discussão presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, o que se concretiza no dia-a-dia da escola parece não dar conta destes aspectos.
Fonte
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