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Sistema endócrino e treinamento de força

    O sistema endócrino tem a função de controlar várias funções do organismo, através de hormônios (agentes químicos) que provocam respostas celulares específicas. O sistema endócrino, apresenta como função de regular e manter a homeostase (equilíbrio orgânico). Qualquer circunstância que altere a homeostase, desencadeia uma resposta hormonal. O treinamento de força de alta intensidade altera a homeostase orgânica, desencadeando respostas hormonais necessárias aos ajustes do organismo necessários (BARROS e GHORAYEB 1999, p. 97).

    O sistema endócrino encontra-se em contato com praticamente todas as células do corpo e monitora constantemente o seu meio interno, detectando todas as alterações que ocorrem, respondendo rapidamente para assegurar, que o equilíbrio orgânico não seja demasiadamente afetado. A resposta do sistema endócrino a uma situação de desequilíbrio orgânico é a liberação de hormônios, principalmente na atividade física intensa. WILMORE e COSTILL (2001, p. 157 a 159) relatam que o sistema nervoso e endócrino trabalham em conjunto para iniciar e controlar o movimento e todos os processos fisiológicos que o movimento envolve, o sistema nervoso age rapidamente, produzindo efeitos localizados e de curta duração, enquanto o sistema endócrino age muito mais lentamente, produzindo efeitos mais gerais e de longa duração.

    O sistema endócrino inclui todos os tecidos e glândulas que secretam hormônios. Os hormônios atuam como sinais químicos através do corpo. Os hormônios são transportados pelo sangue até células–alvo específicas, estas células possuem receptores específicos dos hormônios. Os hormônios quando se integram as células alvo, podem controlar a atividade do tecido alvo. Os hormônios estão presentes na maioria dos processos fisiológicos, sendo que suas ações são importantes para muitos aspectos da atividade física (GUYTON 1988, p. 475).

    "Os principais hormônios anabólicos envolvidos com o crescimento e a remodelagem do tecido muscular são o hormônio do crescimento (GH), a insulina, a testosterona e os hormônios tiroideanos." (BACURAU; NAVARRO; UCHIDA e ROSA 2001, p. 76)

Hormônio do Crescimento (GH)

    Para definir o hormônio do crescimento (GH) e entender suas funções FETT (2000 p. 97) relata que o GH é um hormônio polipeptídico composto de 191 aminoácidos, liberado pela glândula hipófisária ou pituitária e suas principais funções são o impulso do crescimento, o aumento da produção de glicose no fígado (gliconeogênese), favorecimento da lipólise e estímulo da síntese protéica.

    O GH também é chamado de somatotrofina (STH) e Human Growth Hormon (HGH) (WEINECK 2000, p. 136).

    Este hormônio de origem humana extraído da hipófise de cadáveres foi administrado até 1985, sendo que hoje é fabricado em laboratórios (PUJOL 2003, p. 13–14).

    O GH é formado por aminoácidos, que são estimulados pelo treinamento de força intenso, pelo sono onde os níveis de secreção do GH encontram-se elevados durante as primeiras duas horas de sono profundo e pela hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue), sendo que as taxas desse hormônio durante a atividade física se relacionam com o grau de treinamento do indivíduo (FETT 2000, p. 190).

    Referindo-se aos níveis desse hormônio durante o treinamento de força BACURAU; NAVARRO; UCHIDA e ROSA (2001, p. 79), afirmam que os níveis de GH aumentam durante o treinamento de força, entretanto não está claro o motivo dos elevados aumentos desse hormônio durante o treinamento de força.

    Levando-se em conta que a síntese protéica encontra-se inibida durante o treinamento, conclui-se que o GH juntamente com a insulina tem vital importância no período pós-treino. "O hormônio do crescimento e a insulina participam como moduladores do processo da síntese protéica determinando o tamanho final do músculo, entretanto apresenta um papel menos importante do que a testosterona." (BACURAU: NAVARRO; UCHIDA e ROSA 2001, p. 91)

    Referindo-se a síntese protéica no período pós-exercício SANTARÉM (2003) afirma que o GH é um dos hormônios anabólicos que estimulam a síntese protéica. Este hormônio é eficaz quando se processa a atividade adequada de insulina bem como a disponibilidade adequada de carboidratos. A relação direta de carboidratos e insulina, fornece a energia necessária para satisfazer o metabolismo do crescimento.

Insulina

    A insulina é um hormônio polipeptídico, produzido através das células Beta das Ilhotas de Langerhans do pâncreas, que auxiliam o movimento dos nutrientes, principalmente a glicose, mas também os aminoácidos, facilitando a sua incorporação nas células. A insulina também estimula a síntese de glicogênio hepático (grande molécula formada por polímeros glicose no fígado) e muscular, proteínas e gorduras. Quando o teor de glicose no sangue se eleva, o pâncreas produz insulina dentro de poucos minutos, fazendo com que o excesso de glicose seja transportado para o interior das células, onde poderá ser utilizada como energia, armazenada como glicogênio ou transformada em gordura (KATCH e MACARDLE 1996, p. 71).

    Ainda sobre esse hormônio RIEGEL (2000, p. 54) reforça que este tem algumas ações particulares : no músculo e no tecido adiposo, ela é fundamental para ativar o carreador de glicose que transfere a glicose do plasma para dentro das células; na fibra ainda para absorver aminoácidos (Aa) e incorporá-los em proteínas. A insulina é o único hormônio, com exceção das somatomedinas (IGFS – conjunto de hormônios que orientam as ações de GH), capaz de orientar o gasto de glicose.

    Referindo-se aos efeitos da insulina maximizados através do treinamento de força DÂMASO (2001, p. 53) relata que "os efeitos da insulina e da contração muscular são aditivos na captação de glicose e, entretanto ativam, o transporte de glicose por mecanismos diferentes. O exercício aumenta a sensibilidade do músculo esquelético para a ação da insulina".

    Durante o treinamento de força, a concentração plasmática de insulina diminui no exercício, apesar de ocorrer um ligeiro aumento de captação de glicose pelo músculo. As quantidades reduzidas de insulina durante o treinamento de força, estão diretamente relacionadas à duração do exercício (KATCH e MACARDLE 1996, p. 64).

    As concentrações de insulina diminuem durante o exercício, indicando que o treinamento de força facilita sua ação, de modo que durante o exercício é necessária uma menor quantidade desse hormônio do que em repouso, permitindo que o indivíduo mobilize de modo mais eficiente suas fontes energéticas: "Durante o exercício aumenta a quantidade ou disponibilidade de receptores de insulina, aumentando a sensibilidade do organismo a esse hormônio. Isso reduz a necessidade de manutenção das concentrações plasmáticas elevadas de insulina para o transporte de glicose para o interior das células musculares." (WILMORE e COSTILL 2001, p. 170)

    Referindo-se sobre a importância da insulina no processo de construção muscular GUYTON e HALL (1997, p. 888) relatam que "a falta de insulina causa depleção protéica, e todo o armazenamento de proteínas cessam virtualmente quando a insulina não está disponível".

    "A insulina parece inibir a utilização (catabolismo) das proteínas. Uma ação importante desse hormônio, consiste em ocupar os receptores do cortisol (hormônio catabólico) da membrana da célula muscular e impedir a ação catabólica protéica do cortisol sobre esses receptores." (BADILLO e AYESTARÁN 2001, p. 102)

    Os indivíduos interessados no ganho de massa magra, devem estar atentos ao consumo adequado de carboidratos no período pós-exercício, pois a síntese protéica encontra-se elevada cerca de 1 hora a 2 horas após o término do treinamento de força. O processo da síntese protéica se deve a processos hormonais e nutricionais. Destacamos então a ação da insulina que é um colaborador da síntese protéica. Visando a síntese protéica, a insulina é administrada por muitos indivíduos que visam o aumento de massa muscular farmacologicamente (BACURAU 2001, p. 88).

    Ainda referindo-se ao consumo de carboidratos no período pós treino que visa o aumento de massa magra BACURAU (2001, p. 111) afirma que "a insulina, em virtude de sua característica anabólica, facilita a síntese de glicogênio após a atividade desde que o montante de carboidratos necessário esteja disponível". Portanto, a reposição adequada dos estoques de glicogênio pós-atividade, resultará num maior desempenho do indivíduo durante a sessão do treinamento de força, tendo como resultado a maximização no processo de hipertrofia.

    Reforçando o papel da insulina no metabolismo das proteínas GUYTON (1988, p. 480) afirma que "a insulina é quase tão potente como o hormônio do crescimento em fazer com que ocorra deposição de proteínas nas células". O forte papel da insulina no metabolismo das proteínas, intensifica a incorporação da maioria dos aminoácidos para a síntese protéica (GUYTON 1988, p. 480).

Glucagon

    "O glucagon é um hormônio polipeptídico constituído de duas cadeias peptídicas (uma cadeia A de 21 aminoácidos e uma cadeia B de 30 aminoácidos). Ele exerce um papel fundamental no metabolismo dos carboidratos. É secretado pelas células Alfa das Ilhotas de Langerhans do pâncreas, quando estimulada pelo aumento da glicose no sangue." (GLEESON 2000, p. 83)

    Definindo a ação do glucagon durante o treinamento de força WILMORE e COSTILL (2001, p.170) esclarecem que, durante o treinamento de força, ocorre o aumento da liberação deste hormônio, que tem como finalidade aumentar a quantidade de glicose circulante do plasma. O pâncreas secreta o glucagon, quando a concentração plasmática de glicose cai abaixo das concentrações normais (hipoglicemia). Seus efeitos são opostos aos da insulina, por isso o glucagon se relaciona diretamente com esta, que como já vimos anteriormente, encontra-se reduzida durante o treinamento de força.

    O glucagon promove a degradação de glicogênio hepático (glicogenólise) em glicose e aumenta a degradação por gliconeogênese (degradação de gorduras e proteínas). Esse fenômeno, faz com que as concentrações plasmáticas de glicose, satisfaçam as demandas metabólicas aumentadas (WEINECK 2000, p.148).

    Durante o treinamento de força GUYTON (1988, p. 482-483) descreve que a insulina e o glucagon trabalham em conjunto, para que ocorra maior utilização de glicose pelo fígado. Durante o exercício físico intenso quando as concentreções normais de glicose diminuem até 60mg por 100ml de sangue (mais ou menos 30% abaixo dos níveis normais) o pâncreas começa a secretar maiores quantidades de glucagon, o que eleva a glicose pelo do fígado na corrente sangüínea quase que imediatamente, retornando a níveis normais, de 90mg por 100ml de sangue.

Testosterona

    A testosterona é o principal hormônio sexual masculino, sendo que 95% da produção total nos homens, ocorre nas células de Leydig dos testículos, que produzem de 5mg a 10mg dia. Os 5% restantes é produzido no córtex supra-renal e no cérebro. A ação da testosterona é estimular a espermatogênese, isto é, criar espermatozóides nos testículos. A mulher produz 10 a 20 vezes menos que o homem, sendo sua origem no córtex supra-renal, no cérebro e nos ovários. Nas mulheres o hormônio é liberado principalmente do córtex supra-renal. A concentração desse hormônio se eleva durante o treinamento de força, em que há um aumento nos receptores musculares, essa ação ocorre especificamente nas fibras de contração rápida. Na mulher a quantidade de testosterona é menor, o ciclo menstrual pode afetar os níveis desse hormônio. Esse hormônio também equilibra a ação de agentes catabólicos no período de treino, sendo ainda que é o principal hormônio envolvido na maior quantidade de incorporação de proteínas nas fibras musculares, ocasionando a hipertrofia muscular (BACURAU; NAVARRO; UCHIDA e ROSA 2001, p. 85–86-91).

    A testosterona é sintetizada através do colesterol, e estimulada pelo treino pesado. Excesso de treinamento deprime a testosterona. Portanto, os estímulos anabólicos máximos ocorrem durante o treinamento de força, quando a duração do treino de alta intensidade não ultrapassa uma hora (SANTARÉM, 2003).

    Analisando os efeitos da testosterona no treinamento de força BADILLO e AYESTERÁN (2001, p. 98–99) afirmam que, além de ser um hormônio com característica anabolizante, este hormônio durante o treinamento de força apresenta um importante papel ao influenciar fatores neurais, influenciando, portanto, a expressão da força. Ela promove interações com outros tecidos, estimulando a liberação de GH e da somatomedina. Isto explica o potente efeito da testosterona sobre a síntese protéica e reparações teciduais após o treinamento de força. A testosterona penetra nas células musculares e interage no código genético da célula, promovendo o aumento da célula muscular, observado após o treinamento de força. A concentração sangüínea deste hormônio, varia no decorrer do dia no homem, e possui forma pulsátil. (visualizar anexo 6, figura 6).

    Ao final do treinamento de força em que ocorreram várias contrações musculares, a musculatura exercitada passa a captar maior quantidade de glicose, essa captação fica elevada por um período de aproximadamente 4 horas, as contrações musculares fazem com que proteínas transportadoras de glicose denominadas GLUT 4, localizadas no interior da célula muscular migrem até a membrana e sofram um processo de fusão. Com a interrupção da contração muscular o processo de fusão é revertido no mecanismo de endocitose, que se completa após um período de aproximadamente 4 horas, com isto a ingestão de carboidratos favorece a recuperação do indivíduo (BARROS e GORAYEB 1999, p. 77).

    Analisando as reações hormonais ao término do treinamento de força HIRSCHBRUSCH e CARVALHO (2002, p. 29) relatam que após a sessão de treinamento, uma grande quantidade de transportadores de glicose encontram-se posicionados na membrana da célula muscular. A captação de glicose pelo músculo é determinada pela presença de transportadores de glicose normalmente posicionados dentro das células musculares, que migram até a membrana e a ele se fundem.

    Com isto, ocorre maior fluxo de glicose para o interior da célula muscular. Esse processo modulado pela contração muscular ocorre independente da presença da insulina. Sendo que a captação de glicose permanece elevada por um período de até 4 horas após o esforço. Durante esse período é necessário utilizar alimentos com alto índice glicêmico, estes serão vistos adiante. Os aspectos nutricionais referentes a ingestão de carboidratos para a otimização no ganho de massa magra serão vistos adiante (HIRSCHBRUSCH e CARVALHO 2002, p. 29).

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Um comentário

Anônimo disse...

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