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Ginecologia do Esporte

O sexo casual sem camisinha e a falta de conhecimento do próprio corpo são fatores que vêm aumentando o risco das mulheres atletas de contrair DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), segundo setores da ginecologia do Esporte. No caso delas, ter doenças desse tipo, mais do que debilitar a saúde, pode causar perda de rendimento e da própria carreira.

Para evitar a perda de quadros importantes do esporte brasileiro, renomados ginecologistas perceberam que tinham que fazer um atendimento focado à mulher atleta. Com isso, cai o padrão de tratá-las como pacientes comuns, cuja prescrição das pílulas anticoncepcionais eram as mesmas, e surge o conhecimento de remédios que devem ser evitados para impedir o dopping, explica o ginecologista Eliano Pellini, chefe do setor de saúde e medicina sexual da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo.

- A mulher atleta sempre foi tratada pelos técnicos como homem e os ginecologistas as atendiam somente como mulheres, sendo que os medicamentos que expomos para as mulheres normais teoricamente não são adaptados para as atletas.

A experiência tem sido muito bem sucedida há alguns anos na seleção brasileira feminina de vôlei, onde Pellini se juntou ao preparador físico José Elias Proença para orientar as jogadoras quanto à saúde genital. A ação mais recente da dupla visa vacinar atletas do vôlei contra o HPV.

Para isso, eles trabalham em um acordo entre o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), as equipes Sesi-SP e Vôlei Futuro e um laboratório que forneça as doses para serem aplicadas na jogadoras até a próxima Olimpíada.

Mulher atleta, tratamento de atleta

Mas mudar apenas os medicamentos significava apenas um passo no que deveria ser o tratamento ideal dado às atletas. Oferecer orientação sexual também se mostrou necessário, já que muitas treinam desde antes da adolescência e ficam afastadas da família e de amigos no período da iniciação sexual.

Para tapar essa lacuna, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criou um programa de recrutamento de mulheres atletas para uma pesquisa, baseado em estudos anteriores que mostraram a necessidade de analisar melhor a saúde sexual desse nicho.

As voluntárias devem ter entre 12 e 25 anos, praticar atividade física regular e já ter iniciado a vida sexual. Ao serem selecionadas, elas recebem orientação sobre sexo e fazem exames de sangue que detectam possíveis doenças sexuais e de papanicolau (mais informações no tel. 5539-5158).

Segundo uma das coordenadoras do programa, a ginecologista do esporte Tathiana Parmigiano, membro do setor de ginecologia da Escola Paulista de Medicina, e uma das pioneiras do atendimento especializado, a necessidade desse recrutamento surgiu depois que médicos da instituição notaram que faltavam informações básicas sobre o assunto na vida das jovens esportistas que procuraram o ambulatório da escola.

- De um lado todo mundo pensa que o atleta é o super-herói, não fuma, não bebe, mas isso não é uma realidade. Ele tem sua vida social e muitas vezes sai de casa cedo para treinar em grandes centros.

Atleta não é "santa"

O programa da Unifesp visa atingir adolescentes e mostrar os benefícios de cuidar da vida sexual para que ela só beneficie o desempenho físico. O que, de acordo com Tathiana, vem dando bons resultados.

- Com a ginecologia do esporte a gente está tendo a oportunidade de ajudá-las com o rendimento. E elas acabam sendo mais assíduas e entendem que é mais do que uma situação de saúde.

A velocista Marli de Lima Pereira, de 29 anos, participa do programa da Unifesp desde 2007. Ela admite que é comum a falta de informação sobre sexo entre as atletas, principalmente com as mais jovens.

Mas é a intensidade da vida sexual que abre as portas para aumentar o risco, já que, como qualquer mulher jovem e moderna, elas não são "tão certinhas" como imaginam, segundo ela.

- Muitas não se preocupam, acham que nunca vai acontecer com elas, porque está todo mundo bem [de saúde], são atletas. Até tem confinamento, mas quando acaba a competição todo mundo quer se divertir.

A esportista de São Paulo treina desde 2001 e faz exames todo o ano para manter a saúde ginecológica. Atualmente parou de treinar por causa da gravidez de cinco meses. Ela espera gêmeos do namorado boxeador.

Quando a doença afeta o desempenho

Qualquer infecção, de origem sexual ou não, pode ser prejudicial à vida da atleta, segundo Sérgio Peixoto, professor titular de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC e membro da comissão de doenças infectocontagiosas da Febrasgo.

- A região genital fica muito relacionada à mobilidade, a todos os movimentos do corpo. Se a atleta tiver uma vaginite ou um problema nas vias urinárias vai limitar muito seu desempenho.

E até mesmo o HPV, uma DST sem sintomas na fase inicial, pode ser prejudicial por causar dor local, queimação e pela possibilidade de crescimento da verruga genital, quando mais avançada, explica Peixoto.

- Uma infecção de qualquer ordem altera o sistema imune e a paciente tem suas condições físicas debilitadas, além de ter a parte sexual prejudicada também.

Uma atleta com DST pode indicar ainda uma chance maior de transmissão da doença entre outras atletas, de acordo com Pellini.

- Se ela tem uma DST transmissível dentro de uma concentração favorece o risco, principalmente de HPV, já que poderão usar a mesma toalha. E infelizmente essas meninas têm lesões, estão mais expostas a sangramento.

Fonte: R7



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