Deficiente intelectual e a Educação Física Adaptada
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000), o Brasil possui 24,5 milhões de pessoas com alguma deficiência. Isto significa que 14,5% da população brasileira, que era de 169,8 milhões em 2000, têm alguma dificuldade de enxergar, de ouvir, locomover-se ou é tem alguma deficiência física ou intelectual. Provavelmente, esse número aumentou nos últimos 10 anos. Desses 24,5 milhões, cerca de 3 milhões de pessoas possui algum tipo de deficiência intelectual, ou seja, 12,2% da população com algum tipo de deficiência têm deficiência intelectual.
Para Carmo (1991), as pessoas com deficiência existem desde os primórdios da humanidade, e perante a sociedade ou eram vistas como heróis ou com menosprezo, dependendo dos valores e normas das culturas. Algumas tribos ignoravam, assassinavam ou abandoavam as crianças, adultos e velhos com deficiências e doenças. Outras acreditavam em feitiçaria, maus e bons espíritos e, assim, não atentavam seus, ditos, diferentes.
Durante a história do homem (desde a pré-história até os tempos atuais), os deficientes foram passando por períodos onde, ora eram vistos como carmas, ora eram temas de pesquisas sobre a deficiência.
Só a partir do século XX foi que surgiu um interesse maior dos governos referentes às pessoas com deficiência, pois após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) houve um aumento considerável de pessoas com vários tipos de deficiência: cegos, amputados, paraplégicos, tetraplégicos, dentre outros. Assim, iniciam-se programas de reabilitação dirigidos a essas pessoas, com o objetivo de reintegrá-los ao mundo.
Conseqüentemente, surge a Educação Física Adaptada (EFA), voltada para essas pessoas com deficiências e que tem como definição, segundo Rosadas (1994) apud Borges (2006, p.2), como sendo “uma área do conhecimento em educação física e esportes que tem por objetivo privilegiar uma população caracterizada como pessoas com deficiências ou de necessidades especiais, e desenvolve-se através de atividades psicomotoras, esporte pedagógico, recreação e lazer especial, e técnicas de orientação e locomoção.”
As pessoas deficientes por não serem vistas pela sociedade como “normais”, muitas vezes são dela excluídas e, conseqüentemente sem acesso a educação, lazer, vida social. Assim, tendem a se fecharem no ambiente familiar, que, freqüentemente, também, é um lugar de exclusão.
De acordo com Glat (1997), a integração das pessoas com deficiências é, sem dúvida, a meta primordial da Educação Especial.
Sendo assim, a Educação Física Adaptada tem um papel importantíssimo nessa integração, e tem como propósito potencializar as possibilidades de participação ativa de pessoas com deficiência, em programas com foco em atividade física/movimento corporal humano. (FEIJÓ, 2006)
A presente pesquisa visou analisar dados para discussão acerca dos benefícios da Educação Física Adaptada para as pessoas com deficiência mental.
Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica, onde se pretendeu encontrar, na literatura, diversas concepções acerca do tema, analisando-as criticamente.
História da Educação Física Adaptada
“Há indícios que a prática desportiva por pessoas com deficiência existe desde a Antigüidade, porém, somente após a II Guerra Mundial é que teve maior ênfase na área de reabilitação, prevenção e organizações, devido ao aumento da população portadora de deficiência” (ITANI, 2004, p.2).
De acordo com Rechineli et al (2008), “desde o início da história da humanidade, os tipos de comportamento em relação às pessoas com deficiência eram de eliminação, destruição e menosprezo, caracterizados pelos corpos e suas marcas”.
Segundo Carmo (1991), nas culturas primitivas, que viviam basicamente de caça e pesca, os idosos doentes e portadores de deficiência, na maioria das tribos, eram abandonados em ambientes perigosos, onde a morte se dava por inanição ou por ataques de animais.
Nessa mesma época, na antigüidade, segundo Rechineli et al. (2008), havia dois núcleos que eram referência das pessoas com deficiência: Grécia e Roma. Na Grécia havia uma preocupação com o corpo saudável, forte e perfeito, servindo muitas vezes como instrumento de poder. Só os amputados devido a guerras eram considerados heróis; aos outros deficientes, morte, desprezo e abandono eram o que os esperavam.
Roma seguia o mesmo pensamento dos gregos, ou seja, construir uma sociedade modelo para a época. Nesse mesmo período surge o pensamento dicotomizado de Platão, onde coloca a divisão do ser humano em corpo e mente, promovendo, assim, a exclusão das pessoas deficientes, por serem consideradas incapazes, física e mentalmente.
De acordo com Melo (2009), na Idade Média a igreja atribuía as causas das deficiências ao sobrenatural, pois estas pessoas eram vistas como seres possuídos por demônios. A deficiência foi associada ao pecado. Para Rechineli (2008, p.3) “corpos marcados pela deficiência eram vistos como manchados pelo demônio, vindos à vida por conta de carmas e culpas de seus pais ou familiares”. Essas pessoas ficavam em lugares específicos, como orfanatos, manicômios, prisões, entre outros.
Já no Renascimento, há uma transformação importante nos conceitos; surgem os primeiros indícios de pesquisas sobre o tema deficiência, ainda mais no advento das ciências biomédicas, com Descartes. E para Carmo (1991, p.25) significou o grande marco no campo dos direitos e deveres dos deficientes.
De acordo com Rechineli et al. (2008), houve uma transação importante do feudalismo para o capitalismo, que gerou uma mudança radical no comportamento das pessoas. Como o capitalismo sempre gera o lucro, as pessoas deficientes eram vistas como disfuncionais, por não se ajustarem aos critérios de rendimento e eficácia.
Os estudos científicos multiplicaram-se nos séculos XVIII e XIX, atingindo seu auge no século XX, marcados por um período de reformas sociais e guerras, início dos interesses governamentais em assuntos referentes às pessoas deficientes, especialmente no campo da educação, psicologia e medicina (RECHINELI, 2008). Segundo este mesmo autor, foi após a II Guerra Mundial que aconteceram atitudes positivas para essas pessoas. Iniciaram-se em hospitais programas de reabilitação para os lesionados das guerras como forma de reintegrá-los à sociedade.
A pedido do governo britânico, o neurologista Ludwing Guttman, na cidade de Aylesburry, Inglaterra, criou o Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville, destinados a tratar de homens e mulheres do exército inglês, feridos na II Guerra Mundial (COSTA, 2004, p.30). Assim, de acordo com Itani (2004), o esporte entra na vida dessas pessoas como um auxiliar importante nos processos de reabilitação e integração.
“As pessoas deficientes talvez sejam um pouco mais diferentes, já que podem possuir sinais ou seqüelas mais notáveis” (RIBAS, 1994, p.13).
O Deficiente Mental
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000), 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de Deficiência Mental, propriamente dita. Calcula-se que o número de pessoas com retardo mental guarda relação com o grau de desenvolvimento do país em questão e, segundo estimativas, a porcentagem de jovens com menos de 18 anos que sofrem retardo mental grave se situa em torno de 4,6%, nos países em desenvolvimento, e entre 0,5 e o 2,5% nos países desenvolvidos.
Aqui no Brasil, segundo a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), a porcentagem estatística deveria ser a mesma: 10% da população seria deficiente. Porém, Ribas (1994), acredita que esse número é bem maior. Por dois motivos: primeiro, porque a OMS indica que nos países do Terceiro Mundo a porcentagem pode chegar de 15% a 20%; e segundo por causa das regiões mais pobres (principalmente Norte e Nordeste), onde há locais de maior incidência de deficientes e cujos meios de vida são insatisfatórios.
Segundo FONSECA (1995, p.44):
a deficiência mental apresenta um ritmo e uma aplicabilidade de desenvolvimento e de maturação que se verificam evoluções conceituais malcontroladas, além de problemas de atenção seletiva e de auto-regulação de condutas, em que o meio joga um papel fundamental, aceitando ou rejeitando comportamentos adaptativos, que são ou não “normalizados” ou “padronizados” (FONSECA, 1995, p.44)
Para Rosadas (1989, p.9), “o deficiente mental é portador de vários fenômenos complexos, que modificam sua conduta, relacionados a causas ainda mais complexas, nas quais a inteligência inadequada ou insuficientemente desenvolvida constitui denominador comum.”
A OMS estabeleceu uma escala para facilitar o diagnóstico do deficiente mental, caracterizado por um quociente de inteligência (QI) inferior a 70, média essa apresentada pela população. Segue abaixo uma tabela (adaptada) apresentada pela OMS quanto à classificação dos deficientes mentais.
Através de perfis de desenvolvimento, que correlacionam à capacidade de uma pessoa desempenhar determinados papéis, pode-se obter a idade mental, que, comparada com a idade cronológica, nos dará o QI de inteligência, numa simples operação (ROSADAS, 1989, p.10):
Rosadas (1989, p.10) com muita propriedade nos lembra que “é muito difícil prever o grau e os setores do corpo que serão afetados e identificar o que ocasionou a lesão.” Sendo assim, é praticamente inviável se homogeneizar uma população de deficientes mentais, pois há diversas seqüelas, mas todos possuem danos cerebrais, e esses danos prejudicam a sensibilidade e a função dessas pessoas.
Concordando com o que é dito por FONSECA (1995, p.49), “a deficiência mental não é uma doença, mas sim uma condição, que em termos humanos deve ser respeitada a todos os níveis”.
Benefícios da Educação Física Adaptada para os deficientes mentais
A Educação Física tem um papel importantíssimo no desenvolvimento motor, intelectual, social e afetivo dos alunos, principalmente daqueles com deficiência.
Segundo Palma (2008, p.3), “a educação física é uma área do conhecimento que trabalha diretamente com o corpo e suas significações em todos os seus contextos de atuação”. Para Juncken et al (1987, p.17), “o esporte exerce papel fundamental no desenvolvimento somático, funcional, baseado em métodos e normas que respeitem a individualidade de cada um, bem como suas capacidades e limitações”.
De acordo com Strapasson (2007, p.8):
A Educação Física deve propiciar o desenvolvimento global de seus alunos, ajudar para que o mesmo consiga atingir a adaptação e o equilíbrio que requer suas limitações e ou deficiência; identificar as necessidades e capacidades de cada educando quanto às suas possibilidades de ação e adaptações para o movimento; facilitar sua independência e autonomia, bem como facilitar o processo de inclusão e aceitação em seu grupo social, quando necessário (STRAPASSON, 2007, p 8).
Os objetivos para os deficientes são os mesmos, e só, as regras, as normas, a organização e os procedimentos de cada atividade particular requerem um mínimo de adaptação a fim de brindar as atividades de tempo livre uma conjuntura flexível, mesmo que compensadora.
Baseado em Palma (2008), sabe-se que a maioria de pessoas com deficiência não freqüentam academias, clubes, aulas de Educação Física. Não porque elas são incapazes, mas porque a sociedade apoderou-se destas pessoas, estes direitos. Não há dúvida de que elas são capazes, porém é necessário que o profissional de Educação Física seja capaz de compreender esta capacidade e assim trabalhar com a diversidade humana, valorizando a pessoa com deficiência.
Sendo assim, segundo Melo (2009), a educação física adaptada consiste em uma parte da educação física cujo objetivo é o estudo e a intervenção profissional no campo das pessoas que apresentam diferentes condições para a prática de atividades físicas. Logo, seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento, complementando, “e se expressa nos jogos, nas danças, nas lutas, nos esportes e nas ginásticas” (STRAPASSON, 2007, p.8).
De acordo com Melo (2002), a prática de alguma atividade, seja ela física e/ou esportiva por pessoas com deficiência pode proporcionar, dentre todos os benefícios que já conhecidos, a oportunidade de testar os limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias a uma deficiência e promover a integração social do indivíduo. Esses benefícios são evidenciados tanto na esfera física, melhorando no equilíbrio, na coordenação, na resistência; quanto na psíquica, melhorando a auto-estima, integração social, redução da agressividade.
Muitos estudos mostram que pessoas com deficiência mental costumam terbaixos níveis de algumas variáveis metabólicas como: VO2 máximo, freqüência cardíaca, e tendência a serem mais obesas que pessoas normais. (BURKETT, 1983, CAMPBELL, 1974, CORDER, 1966, FOX, 1982 APUD BARROS ET AL, 2000).
Mais especificamente, “a educação especial visa proporcionar aos deficientes mentais condições que favoreçam a sua integração na sociedade, desenvolvendo alternativas de atendimento diferenciado, metodologias especiais, promovendo e utilizando recursos humanos especializados” (JUNKEN et al, 1987, p.9). Segundo esses mesmos autores, o atendimento a esses deficientes deve ser entendido e realizado seguindo alguns princípios básicos, como a normalização, proporcionando-lhes condições de vida iguais à da sociedade; integração e individualização, respeitando suas diferenças individuais, suas necessidades, possibilidades e limites.
Para Junken et al (1987), o esporte contribui, na vida do deficiente mental, para a auto-suficiência, levando a uma maior independência e participação na comunidade. Concordando com o que é dito por esses autores, essas atividades desenvolvem não só sua capacidade motora, mas também intelectiva, estabelecendo através do movimento relações com o meio. Eles experimentam nessas atividades os movimentos corporais, posições no espaço, noções de direção, distância, tempo e força que contribuem muito para o desenvolvimento global dos deficientes mentais.
A Educação Física possibilita seus alunos a conviver com a diversidade, mostrando que essas possuem dificuldades, como todas as outras pessoas, podendo superar suas limitações; sua relação com os outros; barreiras arquitetônicas; preconceitos; etc. Ela permite que se veja o corpo como outro qualquer, podendo ir atrás de sonhos, superar dificuldades, ter qualidade de vida, apesar das limitações.
Em todos os esportes, a relação do aluno e professor é essencial. É através do professor que o aluno se sentirá seguro para fazer as atividades, aumentando seu campo de ação, conseqüentemente, fará com que o aluno se sinta com mais condições de participar das atividades da comunidade e da família, “criando assim, um meio social onde o deficiente mental posso atuar com os mesmos direitos e oportunidades” (JUNKEN et al., 1987, p. 9).
As tarefas principais do professor de educação física adaptado são promover a autoconfiança e aceitação que permitirão à pessoa deficiente desenvolver habilidades e talentos que compensem a sua deficiência física.
Conclusão
De acordo com as referências utilizadas para a produção desta pesquisa, percebe-se que a história do corpo deficiente e sua discriminação, ocorrem há séculos. Só a partir do Renascimento é que o corpo deficiente é visto como meio de pesquisa.
Hoje, a preocupação com essas pessoas deficientes é muito maior. Vários são os meios para a inclusão destas na sociedade. É evidente que elas possuem alguma deficiência, mas como visto por vários autores estudados, isso não quer dizer que elas são menos capazes ou mais ineficientes do que pessoas ditas “normais”.
A Educação Física, dentre os vários benefícios já estudados, tem como objetivo a inclusão social. Sendo assim, a Educação Física Adaptada tem como um dos seus principais objetivos esse citado acima.
Fica claro que a Educação Física Adaptada é de suma importância para os deficientes, pois, proporciona benefícios como a melhora da auto-estima, estímulo independência e autonomia, melhora das funções organo-funcionais, melhora na força e resistência, dentre outros.
Para o deficiente intelectual, muitos, também, são os benefícios, conforme foram citados no desenvolver do trabalho, mas, talvez, o mais importante seja a integração dessas pessoas à sociedade, promovendo uma maior aceitação deles na própria família e com as pessoas do convívio.
Projetos sociais, não só direcionados para esse público, mas para todos os deficientes, são essenciais, pois reintegram essas pessoas à sociedade.
Pode-se concluir, a partir do referencial teórico consultado, que aceitar a diferença é obrigação de todos. E que a inclusão, principalmente dos deficientes intelectuais, possa mudar suas vidas e das pessoas ao redor.
Fonte
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Para Carmo (1991), as pessoas com deficiência existem desde os primórdios da humanidade, e perante a sociedade ou eram vistas como heróis ou com menosprezo, dependendo dos valores e normas das culturas. Algumas tribos ignoravam, assassinavam ou abandoavam as crianças, adultos e velhos com deficiências e doenças. Outras acreditavam em feitiçaria, maus e bons espíritos e, assim, não atentavam seus, ditos, diferentes.
Durante a história do homem (desde a pré-história até os tempos atuais), os deficientes foram passando por períodos onde, ora eram vistos como carmas, ora eram temas de pesquisas sobre a deficiência.
Só a partir do século XX foi que surgiu um interesse maior dos governos referentes às pessoas com deficiência, pois após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) houve um aumento considerável de pessoas com vários tipos de deficiência: cegos, amputados, paraplégicos, tetraplégicos, dentre outros. Assim, iniciam-se programas de reabilitação dirigidos a essas pessoas, com o objetivo de reintegrá-los ao mundo.
Conseqüentemente, surge a Educação Física Adaptada (EFA), voltada para essas pessoas com deficiências e que tem como definição, segundo Rosadas (1994) apud Borges (2006, p.2), como sendo “uma área do conhecimento em educação física e esportes que tem por objetivo privilegiar uma população caracterizada como pessoas com deficiências ou de necessidades especiais, e desenvolve-se através de atividades psicomotoras, esporte pedagógico, recreação e lazer especial, e técnicas de orientação e locomoção.”
As pessoas deficientes por não serem vistas pela sociedade como “normais”, muitas vezes são dela excluídas e, conseqüentemente sem acesso a educação, lazer, vida social. Assim, tendem a se fecharem no ambiente familiar, que, freqüentemente, também, é um lugar de exclusão.
De acordo com Glat (1997), a integração das pessoas com deficiências é, sem dúvida, a meta primordial da Educação Especial.
Sendo assim, a Educação Física Adaptada tem um papel importantíssimo nessa integração, e tem como propósito potencializar as possibilidades de participação ativa de pessoas com deficiência, em programas com foco em atividade física/movimento corporal humano. (FEIJÓ, 2006)
A presente pesquisa visou analisar dados para discussão acerca dos benefícios da Educação Física Adaptada para as pessoas com deficiência mental.
Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica, onde se pretendeu encontrar, na literatura, diversas concepções acerca do tema, analisando-as criticamente.
História da Educação Física Adaptada
“Há indícios que a prática desportiva por pessoas com deficiência existe desde a Antigüidade, porém, somente após a II Guerra Mundial é que teve maior ênfase na área de reabilitação, prevenção e organizações, devido ao aumento da população portadora de deficiência” (ITANI, 2004, p.2).
De acordo com Rechineli et al (2008), “desde o início da história da humanidade, os tipos de comportamento em relação às pessoas com deficiência eram de eliminação, destruição e menosprezo, caracterizados pelos corpos e suas marcas”.
Segundo Carmo (1991), nas culturas primitivas, que viviam basicamente de caça e pesca, os idosos doentes e portadores de deficiência, na maioria das tribos, eram abandonados em ambientes perigosos, onde a morte se dava por inanição ou por ataques de animais.
Nessa mesma época, na antigüidade, segundo Rechineli et al. (2008), havia dois núcleos que eram referência das pessoas com deficiência: Grécia e Roma. Na Grécia havia uma preocupação com o corpo saudável, forte e perfeito, servindo muitas vezes como instrumento de poder. Só os amputados devido a guerras eram considerados heróis; aos outros deficientes, morte, desprezo e abandono eram o que os esperavam.
Roma seguia o mesmo pensamento dos gregos, ou seja, construir uma sociedade modelo para a época. Nesse mesmo período surge o pensamento dicotomizado de Platão, onde coloca a divisão do ser humano em corpo e mente, promovendo, assim, a exclusão das pessoas deficientes, por serem consideradas incapazes, física e mentalmente.
De acordo com Melo (2009), na Idade Média a igreja atribuía as causas das deficiências ao sobrenatural, pois estas pessoas eram vistas como seres possuídos por demônios. A deficiência foi associada ao pecado. Para Rechineli (2008, p.3) “corpos marcados pela deficiência eram vistos como manchados pelo demônio, vindos à vida por conta de carmas e culpas de seus pais ou familiares”. Essas pessoas ficavam em lugares específicos, como orfanatos, manicômios, prisões, entre outros.
Já no Renascimento, há uma transformação importante nos conceitos; surgem os primeiros indícios de pesquisas sobre o tema deficiência, ainda mais no advento das ciências biomédicas, com Descartes. E para Carmo (1991, p.25) significou o grande marco no campo dos direitos e deveres dos deficientes.
De acordo com Rechineli et al. (2008), houve uma transação importante do feudalismo para o capitalismo, que gerou uma mudança radical no comportamento das pessoas. Como o capitalismo sempre gera o lucro, as pessoas deficientes eram vistas como disfuncionais, por não se ajustarem aos critérios de rendimento e eficácia.
Os estudos científicos multiplicaram-se nos séculos XVIII e XIX, atingindo seu auge no século XX, marcados por um período de reformas sociais e guerras, início dos interesses governamentais em assuntos referentes às pessoas deficientes, especialmente no campo da educação, psicologia e medicina (RECHINELI, 2008). Segundo este mesmo autor, foi após a II Guerra Mundial que aconteceram atitudes positivas para essas pessoas. Iniciaram-se em hospitais programas de reabilitação para os lesionados das guerras como forma de reintegrá-los à sociedade.
A pedido do governo britânico, o neurologista Ludwing Guttman, na cidade de Aylesburry, Inglaterra, criou o Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville, destinados a tratar de homens e mulheres do exército inglês, feridos na II Guerra Mundial (COSTA, 2004, p.30). Assim, de acordo com Itani (2004), o esporte entra na vida dessas pessoas como um auxiliar importante nos processos de reabilitação e integração.
“As pessoas deficientes talvez sejam um pouco mais diferentes, já que podem possuir sinais ou seqüelas mais notáveis” (RIBAS, 1994, p.13).
O Deficiente Mental
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000), 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de Deficiência Mental, propriamente dita. Calcula-se que o número de pessoas com retardo mental guarda relação com o grau de desenvolvimento do país em questão e, segundo estimativas, a porcentagem de jovens com menos de 18 anos que sofrem retardo mental grave se situa em torno de 4,6%, nos países em desenvolvimento, e entre 0,5 e o 2,5% nos países desenvolvidos.
Aqui no Brasil, segundo a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), a porcentagem estatística deveria ser a mesma: 10% da população seria deficiente. Porém, Ribas (1994), acredita que esse número é bem maior. Por dois motivos: primeiro, porque a OMS indica que nos países do Terceiro Mundo a porcentagem pode chegar de 15% a 20%; e segundo por causa das regiões mais pobres (principalmente Norte e Nordeste), onde há locais de maior incidência de deficientes e cujos meios de vida são insatisfatórios.
Segundo FONSECA (1995, p.44):
a deficiência mental apresenta um ritmo e uma aplicabilidade de desenvolvimento e de maturação que se verificam evoluções conceituais malcontroladas, além de problemas de atenção seletiva e de auto-regulação de condutas, em que o meio joga um papel fundamental, aceitando ou rejeitando comportamentos adaptativos, que são ou não “normalizados” ou “padronizados” (FONSECA, 1995, p.44)
Para Rosadas (1989, p.9), “o deficiente mental é portador de vários fenômenos complexos, que modificam sua conduta, relacionados a causas ainda mais complexas, nas quais a inteligência inadequada ou insuficientemente desenvolvida constitui denominador comum.”
A OMS estabeleceu uma escala para facilitar o diagnóstico do deficiente mental, caracterizado por um quociente de inteligência (QI) inferior a 70, média essa apresentada pela população. Segue abaixo uma tabela (adaptada) apresentada pela OMS quanto à classificação dos deficientes mentais.
Quadro 1. Classificação dos Deficientes Mentais de acordo com a OMS
Coeficiente intelectual | Denominação | Nível Cognitivo segundo Piaget | Idade Mental correspondente |
Menor de 20 | Profundo | Período sensório-motriz | 0-2 anos |
Entre 20 e 35 | Severo | Período sensório-motriz | 0-2 anos |
Entre 36 e 51 | Moderado | Período pré-operativo | 2-7 anos |
Entre 52 e 67 | leve | Período operações concretas | 7-12 anos |
Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)
Através de perfis de desenvolvimento, que correlacionam à capacidade de uma pessoa desempenhar determinados papéis, pode-se obter a idade mental, que, comparada com a idade cronológica, nos dará o QI de inteligência, numa simples operação (ROSADAS, 1989, p.10):
Rosadas (1989, p.10) com muita propriedade nos lembra que “é muito difícil prever o grau e os setores do corpo que serão afetados e identificar o que ocasionou a lesão.” Sendo assim, é praticamente inviável se homogeneizar uma população de deficientes mentais, pois há diversas seqüelas, mas todos possuem danos cerebrais, e esses danos prejudicam a sensibilidade e a função dessas pessoas.
Concordando com o que é dito por FONSECA (1995, p.49), “a deficiência mental não é uma doença, mas sim uma condição, que em termos humanos deve ser respeitada a todos os níveis”.
Benefícios da Educação Física Adaptada para os deficientes mentais
A Educação Física tem um papel importantíssimo no desenvolvimento motor, intelectual, social e afetivo dos alunos, principalmente daqueles com deficiência.
Segundo Palma (2008, p.3), “a educação física é uma área do conhecimento que trabalha diretamente com o corpo e suas significações em todos os seus contextos de atuação”. Para Juncken et al (1987, p.17), “o esporte exerce papel fundamental no desenvolvimento somático, funcional, baseado em métodos e normas que respeitem a individualidade de cada um, bem como suas capacidades e limitações”.
De acordo com Strapasson (2007, p.8):
A Educação Física deve propiciar o desenvolvimento global de seus alunos, ajudar para que o mesmo consiga atingir a adaptação e o equilíbrio que requer suas limitações e ou deficiência; identificar as necessidades e capacidades de cada educando quanto às suas possibilidades de ação e adaptações para o movimento; facilitar sua independência e autonomia, bem como facilitar o processo de inclusão e aceitação em seu grupo social, quando necessário (STRAPASSON, 2007, p 8).
Os objetivos para os deficientes são os mesmos, e só, as regras, as normas, a organização e os procedimentos de cada atividade particular requerem um mínimo de adaptação a fim de brindar as atividades de tempo livre uma conjuntura flexível, mesmo que compensadora.
Baseado em Palma (2008), sabe-se que a maioria de pessoas com deficiência não freqüentam academias, clubes, aulas de Educação Física. Não porque elas são incapazes, mas porque a sociedade apoderou-se destas pessoas, estes direitos. Não há dúvida de que elas são capazes, porém é necessário que o profissional de Educação Física seja capaz de compreender esta capacidade e assim trabalhar com a diversidade humana, valorizando a pessoa com deficiência.
Sendo assim, segundo Melo (2009), a educação física adaptada consiste em uma parte da educação física cujo objetivo é o estudo e a intervenção profissional no campo das pessoas que apresentam diferentes condições para a prática de atividades físicas. Logo, seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento, complementando, “e se expressa nos jogos, nas danças, nas lutas, nos esportes e nas ginásticas” (STRAPASSON, 2007, p.8).
De acordo com Melo (2002), a prática de alguma atividade, seja ela física e/ou esportiva por pessoas com deficiência pode proporcionar, dentre todos os benefícios que já conhecidos, a oportunidade de testar os limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias a uma deficiência e promover a integração social do indivíduo. Esses benefícios são evidenciados tanto na esfera física, melhorando no equilíbrio, na coordenação, na resistência; quanto na psíquica, melhorando a auto-estima, integração social, redução da agressividade.
Muitos estudos mostram que pessoas com deficiência mental costumam terbaixos níveis de algumas variáveis metabólicas como: VO2 máximo, freqüência cardíaca, e tendência a serem mais obesas que pessoas normais. (BURKETT, 1983, CAMPBELL, 1974, CORDER, 1966, FOX, 1982 APUD BARROS ET AL, 2000).
Mais especificamente, “a educação especial visa proporcionar aos deficientes mentais condições que favoreçam a sua integração na sociedade, desenvolvendo alternativas de atendimento diferenciado, metodologias especiais, promovendo e utilizando recursos humanos especializados” (JUNKEN et al, 1987, p.9). Segundo esses mesmos autores, o atendimento a esses deficientes deve ser entendido e realizado seguindo alguns princípios básicos, como a normalização, proporcionando-lhes condições de vida iguais à da sociedade; integração e individualização, respeitando suas diferenças individuais, suas necessidades, possibilidades e limites.
Para Junken et al (1987), o esporte contribui, na vida do deficiente mental, para a auto-suficiência, levando a uma maior independência e participação na comunidade. Concordando com o que é dito por esses autores, essas atividades desenvolvem não só sua capacidade motora, mas também intelectiva, estabelecendo através do movimento relações com o meio. Eles experimentam nessas atividades os movimentos corporais, posições no espaço, noções de direção, distância, tempo e força que contribuem muito para o desenvolvimento global dos deficientes mentais.
A Educação Física possibilita seus alunos a conviver com a diversidade, mostrando que essas possuem dificuldades, como todas as outras pessoas, podendo superar suas limitações; sua relação com os outros; barreiras arquitetônicas; preconceitos; etc. Ela permite que se veja o corpo como outro qualquer, podendo ir atrás de sonhos, superar dificuldades, ter qualidade de vida, apesar das limitações.
Em todos os esportes, a relação do aluno e professor é essencial. É através do professor que o aluno se sentirá seguro para fazer as atividades, aumentando seu campo de ação, conseqüentemente, fará com que o aluno se sinta com mais condições de participar das atividades da comunidade e da família, “criando assim, um meio social onde o deficiente mental posso atuar com os mesmos direitos e oportunidades” (JUNKEN et al., 1987, p. 9).
As tarefas principais do professor de educação física adaptado são promover a autoconfiança e aceitação que permitirão à pessoa deficiente desenvolver habilidades e talentos que compensem a sua deficiência física.
Conclusão
De acordo com as referências utilizadas para a produção desta pesquisa, percebe-se que a história do corpo deficiente e sua discriminação, ocorrem há séculos. Só a partir do Renascimento é que o corpo deficiente é visto como meio de pesquisa.
Hoje, a preocupação com essas pessoas deficientes é muito maior. Vários são os meios para a inclusão destas na sociedade. É evidente que elas possuem alguma deficiência, mas como visto por vários autores estudados, isso não quer dizer que elas são menos capazes ou mais ineficientes do que pessoas ditas “normais”.
A Educação Física, dentre os vários benefícios já estudados, tem como objetivo a inclusão social. Sendo assim, a Educação Física Adaptada tem como um dos seus principais objetivos esse citado acima.
Fica claro que a Educação Física Adaptada é de suma importância para os deficientes, pois, proporciona benefícios como a melhora da auto-estima, estímulo independência e autonomia, melhora das funções organo-funcionais, melhora na força e resistência, dentre outros.
Para o deficiente intelectual, muitos, também, são os benefícios, conforme foram citados no desenvolver do trabalho, mas, talvez, o mais importante seja a integração dessas pessoas à sociedade, promovendo uma maior aceitação deles na própria família e com as pessoas do convívio.
Projetos sociais, não só direcionados para esse público, mas para todos os deficientes, são essenciais, pois reintegram essas pessoas à sociedade.
Pode-se concluir, a partir do referencial teórico consultado, que aceitar a diferença é obrigação de todos. E que a inclusão, principalmente dos deficientes intelectuais, possa mudar suas vidas e das pessoas ao redor.
Fonte
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