sexta-feira, 29 de novembro de 2019

A Controvérsia dos Agentes Ergogênicos: Estamos Subestimando os Efeitos Naturais da Atividade Física?




O USO DOS CHAMADOS AGENTES ERGOGÊNICOS NO esporte de alto rendimento desencadeou um processo que representa atualmente uma das grandes preocupações na área das Ciências do Esporte, tanto no que diz respeito ao combate ao doping, como também no âmbito do uso indiscriminado de drogas e suplementos nutricionais com objetivos puramente estéticos.

A Medicina Esportiva estabelece um conceito para o termo "agente ergogênico" que abrange todo e qualquer mecanismo, efeito fisiológico, nutricional ou farmacológico que seja capaz de melhorar a performance nas atividades físicas esportivas, ou mesmo ocupacionais.

Dessa forma, podemos subdividir os agentes ergogênicos em 3 grupos:

a) fisiológicos; b) nutricionais; c) farmacológicos.

Os agentes ergogênicos fisiológicos incluem todo mecanismo ou adaptação fisiológica de melhorar o desempenho físico. O próprio treinamento pode ser visto como um agente ergogênico fisiológico. A adaptação crônica à altitude, ao promover um aumento de glóbulos vermelhos, atua como um agente ergogênico fisiológico na medida em que o retorno a baixas altitudes propicia uma melhora do desempenho físico aeróbio nos primeiros dias subseqüentes ao retorno, enquanto a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue permanecer aumentada.

Os agentes ergogênicos nutricionais caracterizam-se pela aplicação de estratégias e pelo consumo de nutrientes com grau de eficiência extremamente variável. Os consumidores de suplementos nutricionais geralmente utilizam estas substâncias em doses muito acima do recomendável, o que também se constitui em uma preocupação, apesar de grandes controvérsias quanto aos eventuais problemas à saúde conseqüentes ao abuso. Para se ter uma idéia do consumo de suplementos por atletas, um artigo recente (1) relatou que entre 100 atletas noruegueses de vários esportes de nível nacional, 84 usavam algum tipo de suplemento nutricional. Muitos atletas usavam vários suplementos nutricionais, a grande maioria dos quais não apresenta qualquer comprovação científica de efetividade ergogênica. Usando uma linguagem leiga, parece uma eterna busca do "espinafre do Popeye".

Apesar do uso de suplementos mostrar maior prevalência em atletas, principalmente atletas de elite, Sobal e Marquart já relatavam em trabalho publicado em 1994 (2) uma incidência de 40% de consumidores de suplementos nutricionais na população não atleta de praticantes de atividades físicas. Em levantadores de peso, Burke e Read, em 1993 (3), constataram uma incidência de consumo de 100%.

Do verdadeiro arsenal de suplementos nutricionais que encontramos no mercado, o único que tem efeito ergogênico comprovado cientificamente é a creatina (4,5), que tem se constituído no recurso interativo com o treinamento atualmente mais utilizado para aumento de massa muscular. O seu consumo nos Estados Unidos já havia ultrapassado as 300 toneladas somente em 1997. Apesar da literatura não relatar efeitos colaterais relacionados ao seu uso, as conseqüências de eventuais superdosagens ou uso por períodos de tempo extremamente prolongados ainda requer um certo cuidado. A preocupação nestes casos não está restrita ao consumo por parte de atletas. O aumento de massa muscular promovido pela suplementação de creatina constitui-se em um efeito extremamente sedutor para os que praticam exercícios com objetivos prioritariamente estéticos e que muitas vezes relegam a saúde a um plano secundário.

Os agentes ergogênicos farmacológicos constituem-se, sem dúvida, no maior problema para a saúde, a ética e a própria legislação esportiva.

O capítulo da luta contra o doping no esporte tem se constituído no lado mais tenebroso dessa área e nos leva a cada vez mais questionar, no âmbito do esporte de alto rendimento, a afirmação de que esporte é saúde. Sem sombra de dúvida, dentre os agentes ergogênicos farmacológicos os esteróides anabólicos ocupam o lugar principal. Seu potente efeito anabolizante associado à prática de exercícios com pesos, acena com a promessa do record para o atleta e do "corpo perfeito" para o "malhador" de academia. Infelizmente, cada vez mais o efeito terapêutico dos anabolizantes é desvirtuado a ponto da própria concepção leiga do seu nome ser associada à um perigo iminente, o que de fato se justifica em decorrência dos abusos cometidos e dos episódios trágicos freqüentemente relatados. Chega-se a criar até um certo terrorismo, associando o uso de qualquer suplemento nutricional como o primeiro passo para o consumo de esteróides anabólicos.

Talvez o maior problema em todo este contexto dos agentes ergogênicos seja o perigo de se minimizar os efeitos do treinamento físico. Na medida em que os atletas cada vez mais recorrem ao seu uso, o indivíduo comum parece ser levado a acreditar que exercício só tem efeito se associado a algum recurso ergogênico. A eficácia do treinamento associado a uma dieta balanceada parece cada vez ser mais questionada pela população.

Como um verdadeiro "antídoto" a esta tendência, o artigo de Brasil e cols (6), publicado nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, vem enfatizar a importância terapêutica dos efeitos de um programa de exercícios com pesos em pacientes adultos portadores da síndrome da deficiência do hormônio do crescimento, sem reposição hormonal.

A literatura descreve o aumento de massa gorda e diminuição da massa muscular com diminuição de força e maior fadiga nestes pacientes (7-9). Os benefícios da reposição hormonal são responsáveis por praticamente reverter estas alterações. Esta reversão deve-se, fundamentalmente, aos efeitos anabólicos do GH (10).

No estudo de Brasil e cols (6), 11 pacientes adultos com deficiência de GH foram submetidos a um programa de 12 semanas de exercícios com peso, sem reposição hormonal. Ao final do programa, os pacientes apresentaram redução de gordura na região do tronco, apesar do programa ter sido restritivo a exercícios de força, não visando propriamente uma redução da massa gorda, e sim uma melhora da potência muscular.

O aspecto interessante é que o programa promoveu uma melhora significativa na potência muscular, com sensível repercussão na melhora da qualidade de vida, sem promover aumento da massa muscular. Os autores atribuem este efeito às adaptações associadas a um melhor recrutamento das fibras musculares, melhor relaxamento dos músculos antagonistas aos movimentos e um ganho de propriedades contráteis das fibras, como aumento relativo nas áreas das fibras do tipo 1, menor utilização de glicogênio pela célula muscular, e aumento das enzimas do ciclo de Krebs e do número e volume de mitocôndrias.

A indicação de exercícios para estes pacientes é proposta pelos autores como uma alternativa terapêutica para a melhora da qualidade de vida quando não for possível a reposição de GH.

Já para as ciências do esporte, o artigo pode ser visto como uma evidência importante para resgatar os benefícios que os programas de exercício podem trazer e que são efetivamente os efeitos ergogênicos fisiológicos que devem ser valorizados e difundidos.



Referências

1. Rosen O, Sudgot-Borgen J, Maehlum S. Supplement use and nutritional habits in Norwegian elite athletes. Scand J Med Sci Sports 1999;9:28-35.

2. Sobal J, Marquart LF. Vitamin/mineral supplement use among athletes: a review of the literature. Int J Sport Nutr 1994;4:320-4.

3. Burke LM, Read RSD. Dietary supplements in sports. Sports Med 1993;15:43-65.

4. Maughan RJ. Creatine supplementation and exercise performance. Int J Sport Nutr 1995;5:94-101.

5. Odland LM, MacDougall JD, Tarnopolsky M, Eloraggia A, Borgman A, Atkinson S. The effect of oral Creatine supplementation on muscle [PCr] and power output during a short-term maximal cycling task. Med Sci Sports Ex 1994;26:S23.

6. Brasil RRLO, Conceição FL, Coelho CW, Rebello CV, Araújo CGS, Vaisman M. Efeitos do treinamento físico contra resistência sobre a composição corporal e a potência muscular em adultos deficientes de hormônio do crescimento. Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45: - .

7. Cuneo R, Salomon F, Wiles C, Hesp R, Sonksen P. Growth hormone treatment in growth hormone-deficient adult. I. Effects of muscle mass and strength. J Appl Physiol 1991;70:688-94.

8. Salomon F, Cuneo R, Hesp R, Sonksen P. The effects of treatment with recombinant human growth hormone on body composition and metabolism in adults with growth hormone deficiency. N Engl J Med 1989;321:1797-803.

9. Jorgensen J, Moller J, Wolthers T, Vahl N, Juul A, Skakkebaek N, et al. Growth hormone (GH) deficiency in adults: Clinical features and effects of GH substitution. J Pediatr Endocrinol 1994;7(4):283-93.

10. Powrie J, Weissberger A. A growth hormone replacement therapy for growth hormone-deficient adults. Drugs 1995;49(5):656-63.


POR:

Turibio Leite de Barros Neto

Professor Adjunto do Departamento de
Fisiologia, Coordenador do Centro de
 Medicina da Atividade Física e do
Esporte – CEMAFE, da Universidade
 Federal de São Paulo, Escola Paulista de
 Medicina, São Paulo, SP
Espero que você tenha gostado desse texto.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Contribuições do Pilates na prevenção e auxílio no tratamento da incontinência urinária na terceira idade


  Entenda como nosso corpo pode perder peso! | Revista Pilates 

INTRODUÇÃO

Como futuros profissionais de Educação Física, devemos levar em conta que habilitar os indivíduos significa torná-los capazes de vencer suas próprias barreiras.
Mediante tais fatos, a justificativa do tema escolhido, ou seja, "Contribuições do Pilates na prevenção e tratamento da incontinência urinária na terceira idade", se baseia no fato de tratar-se de um assunto atual, que cada vez mais tem proporcionado diversos debates dentro dos universos acadêmico e científico na busca de novos meios de proporcionar o bem-estar dos idosos que sofrem com a incontinência urinária.
Como se verá no decorrer deste trabalho, a incontinência urinária consiste na perda do controle da bexiga. Os sintomas podem variar desde uma infiltração de urina leve até a saída abundante e incontrolável da mesma. Grande parte dos problemas de controle da bexiga ocorre quando os músculos encontram-se demasiadamente enfraquecidos ou demasiadamente ativos. (RIBEIRO et al, 2016).
No que se refere ao Pilates, criado no início do século XX, pelo alemão Joseph Hubertus Pilates, esse método que leva o seu nome, trata-se de um sistema de exercícios físicos e mentais. O Pilates leva em sua base múltiplas especialidades, dentre elas, a ginástica, a traumatologia e a yoga. É uma atividade dinâmica já que une a força muscular com o controle mental, a respiração e o relaxamento. Por isso, a possibilidade de auxiliar nas questões de incontinência urinária nos idosos. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PILATES, 2016).
Levando em conta os conteúdos acima, o objetivo deste estudo é discutir a eficiência da prática do Pilates na prevenção e tratamento da incontinência urinária na terceira idade.
Todavia, devemos esclarecer que para a elaboração deste artigo optamos pela metodologia do tipo retrospectiva, com pesquisa bibliográfica. Foram pesquisados matérias de cunho científico e acadêmico junto aos seguintes bancos de dados: Centro Universitário Ítalo Brasileiro, Universidade de Campinas-UNICAMP, Universidade de São Paulo-USP, LILACs; e SCIELO. A partir daí foi possível identificar aqueles que ajudariam na composição propriamente dita desta investigação.
Devemos ressaltar que este artigo encontra-se dividido em duas partes, sendo que, a primeira aborda a questão da incontinência urinária na terceira idade, suas causas e conseqüências. A segunda contempla a questão da prática do Pilates destinada a esses indivíduos da terceira idade que sofrem de incontinência urinária e seus benefícios, rumo a uma vida qualitativa e saudável.
Feito isso, espera-se ter chegado a uma conclusão bem fundamentada e mais concreta sobre a questão aqui levantada, ou seja: o Método Pilates, realmente, consegue promover o bem-estar e a qualidade de vida nos idosos que sofrem de incontinência urinária? Isso é o que iremos discutir a seguir.

INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA TERCEIRA IDADE

De acordo com a International Continence Society-ICS (Sociedade Internacional de Incontinência, 2017), a incontinência urinária é um problema sanitário e social; condição médica caracterizada pela perda involuntária da urina.
A incontinência urinária (IU) é mais freqüente nas pessoas mais velhas. É resultado de múltiplos mecanismos, sendo sua incidência mais comum nas mulheres. Está associada à idade avançada, comorbidade, problemas urinários e neurológicos, bem como, às limitações funcionais. (MARTINEZ, 2017).
Apesar de a incontinência urinária não ser considerada uma doença de risco de morte, pode deteriorar significativamente a qualidade de vida das pessoas que sofrem dessa condição, bem como, diminuir a auto-estima ou, até mesmo, interferir na autonomia desses indivíduos. Segundo Ribeiro et al (2016):

As disfunções urinárias, como um todo, são de estrema relevância para a Área da Saúde por se tratarem de patologias que geram bastante constrangimento, apresentando graves complicações, sendo estas de caráter social, ocupacionais, psicológicas, físicas (de saúde), sexuais e/ou econômicas, interferindo negativamente na qualidade de vida do indivíduo. (RIBEIRO et al, 2016, p. 65).

Estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde-OMS (2016) revelaram uma predominância média de incontinência urinária, em torno de 30% a 40% em indivíduos na faixa da meia idade e cerca de 50% nos indivíduos na faixa da terceira idade. Além disso, o fato de a incidência de incontinência urinária aumentar linearmente com a idade levou a OMS (2016) a considerá-la uma das síndromes geriátricas, tanto por sua elevada predominância em adultos com mais de 65 anos, como pelo impacto negativo que ocasiona nos idosos que padecem da mesma. Ou seja, a incontinência urinária pode afetar o cotidiano ao influenciar de modo negativo: o sono; o descanso; o comportamento emocional; a interação social e as atividades de lazer dos idosos. A Sociedade Brasileira de Urologia (2017) afirma que,

Quatro em cada dez mulheres desenvolvem incontinência urinária após a menopausa. Isso ocorre porque com o avanço da idade a musculatura abdominal torna-se flácida, a uretra muda de posição e perde a capacidade de conter a urina. Acontece ainda com maior freqüência em mulheres que tiveram muitos partos normais, ou mesmo apenas um parto mal conduzido, e menos freqüentemente, mas não raro, em indivíduos jovens e crianças. O problema também afeta homens, tendo como principal causa o aumento da próstata, que leva à alteração do funcionamento da bexiga. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA, 2017, p. 1).

Dentre os fatores de risco associados à incontinência urinária na terceira idade, a International Continence Society-ICS (Sociedade Internacional de Incontinência, 2017) chama a atenção para os seguintes: a extirpação do útero; a obesidade; algumas doenças relacionadas ao sistema nervoso central e dos músculos; a demência; entre outros. Também afirma a existência de outros fatores de risco relacionados com o trabalho, como, por exemplo, aqueles que requerem grande esforço físico (esportes de impacto, entre outros).
A manutenção da incontinência urinária é um mecanismo complexo que exige a coordenação de sistemas cognitivos e neuromusculares, bem como, a aquisição de um comportamento aprendido. No processo de micção se fazem necessários o planejamento, o tempo e a seqüência, apropriados.

A bexiga funciona como reservatório para armazenamento e eliminação periódica da urina. Para que essas funções ocorram adequadamente, é necessário que a musculatura lisa vesical (detrusor) relaxe e haja aumento coordenado do tônus esfincteriano uretral durante a fase de enchimento da bexiga – e o oposto durante a micção. (GOMES; HISANO, 2010, p. 30).

Em outras palavras, a função da bexiga consiste em duas fases: enchimento e esvaziamento. Durante a etapa do enchimento, a bexiga armazena a urina até que possa ser esvaziada voluntariamente. Durante a etapa do esvaziamento, a bexiga libera o seu conteúdo por controle voluntário. Nesse contexto, transformações no armazenamento da bexiga podem causar incontinência urinária. Mudanças ocorridas na fase de esvaziamento podem causar retenção urinária parcial ou completa.
Com base em suas pesquisas FANTL (2008) observou que, geralmente, os indivíduos que sofrem de incontinência urinária não o falam aos seus médicos, ocultando o fato por motivo de vergonha, sendo que cerca de 70% dos idosos participantes que sofriam dessa condição tenderam a resistir falar sobre o assunto.
FANTL (2008) complementa seus achados ao afirmar que os indivíduos da terceira idade contam com três padrões urodinâmicos distintos, responsáveis pela disfunção das vias urinárias baixas; são estes: hiperatividade do músculo detrusor; alteração da função do músculo detrusor e a reação do músculo detrusor quanto à obstrução da saída.
De qualquer modo, o manejo da incontinência urinária deve ser enfocado na modificação dos fatores de risco, bem como, na minimização do impacto na saúde das condições de comorbidade. A prevenção se baseia na diminuição do impacto das doenças crônicas no risco relacionado à incontinência urinária, bem como, na prevenção do desenvolvimento dessa condição em si. (FANTL, 2008).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2016) a prevenção e tratamento da incontinência urinária nos idosos devem incluir mudanças de estilo de vida o que, por sua vez, requer exercícios da musculatura e aumento da resistência do sistema urinário. É exatamente aqui que entra o Método Pilates, foco deste estudo, como promotor da qualidade de vida dessa população que sofre de tal condição.

MÉTODO PILATES VERSUS INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA TERCEIRA IDADE: O que Esperar?

Como comentado anteriormente, a incontinência urinária é caracterizada pela perda involuntária da urina. Segundo Fantl (2008), o indivíduo que sofre com essa condição, sente uma vontade repentina de urinar, sendo incapaz de retê-la. Algumas vezes pode trazer situações embaraçosas, já que tais escapes podem se dar através de um simples espirro, risada, ou exercício de esforço físico. A incontinência urinária não é considerada como uma doença, mas uma situação que pode ocorrer quando a pressão dentro da bexiga é superior à pressão na uretra, por exemplo. Kenway (2014) esclarece que a incontinência urinária pode ocorrer quando o assoalho pélvico torna-se enfraquecido.
Sobre o assunto, o Ministério da Saúde (2017) chama a atenção ao afirmar que se por um lado, um dentre dez indivíduos na terceira idade pode sofrer de incontinência urinária; por outro a idade avançada por si só não leva à perda de urina, ou seja:

Apesar de, com o passar dos anos, o corpo sofrer uma série de modificações que favorecem o envelhecimento normal ou fisiológico, a incontinência urinária é um sintoma que revela uma patologia escondida que deve ser investigada. Não se trata de um problema normal e inevitável que não tem solução, tampouco deve se ter vergonha de pedir ajuda medica para solucionar a mesma. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017, p. 1-2).

Mediante tais fatos, ao abordar os fatores de risco que poderiam resultar no surgimento de incontinência urinária, a Associação Portuguesa de Urologia (2017) aponta os seguintes, como sendo os mais comuns: (a) antecedentes (gravidez múltipla, partos traumáticos, intervenções ginecológicas, cirurgia de próstata); (b) problemas médicos (Parkinson, Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico conhecido através da sigla AVC, demência, hidrocefalia, patologia da medula espinhal, neuropatias periféricas, diabetes mal controlada, insuficiência cardíaca, artrose, osteoporose, infecções urinárias, entre outros); (c) consumo de fármacos (diuréticos, hipnóticos, antidepressivos, anti-psicóticos, analgésicos narcóticos, entre outros); (d) situação funcional (impossibilidade de movimento; necessidade de ajuda para usar o banheiro; vestir roupas inadequadas); e (e) situação social (barreiras arquitetônicas para acessar o banheiro; ausência de cuidadores suficientes).
O Ministério da Saúde (2017) também esclarece que a incontinência urinária pode ocorrer por causas transitórias que não contam com lesões orgânicas permanentes, tais como: infecção urinária; medicamentos; alterações psicológicas; entre outras.
As causas conhecidas como "estabelecidas" são aquelas caracterizadas por alterações estruturais, tais como: incontinência urinária de urgência, mais comum nos idosos, que consiste numa necessidade urgente de urinar; ou seja, não dá tempo suficiente para que a pessoa chegue ao banheiro para urinar. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Nesse caso, "a repentina vontade de urinar é produzida por uma hiper-excitabilidade da musculatura da bexiga, que provoca contrações involuntárias do músculo detrusor durante a fase de enchimento". (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE UROLOGIA, 2017, p. 1).
A incontinência urinária de esforço, também conhecida como incontinência urinária de estresse, se dá através do escape da urina no momento em que se produz uma pressão forte na cavidade abdominal como, por exemplo, ao espirrar, ao tossir, ao rir, ao levantar um peso, entre outros.
Segundo o Centro Sano Pilates (2017), a incontinência urinária de esforço é mais freqüente nas mulheres, sendo pouco habitual nos homens.
Outros fatores que podem desencadear a incontinência urinária é a menopausa (por conta da transformação hormonal que produz); uma modificação da posição normal do útero (prolapso) ou um aumento de seu volume; a obesidade; problemas renais, entre outros. (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE UROLOGIA, 2017)
Outro tipo comum que pode ocorrer nos indivíduos da terceira idade é a incontinência urinária por transbordamento que se dá através da perda involuntária da urina em uma bexiga distendida e cheia. Nesse caso, a perda involuntária da urina se produz devido ao fluxo da urina que sofre alguma obstrução, sendo que mesmo havendo o enchimento da bexiga, esta não se esvazia com normalidade o que, por sua vez, resulta em transbordamento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Dentre as causas principais de incontinência urinária por transbordamento encontram-se certas doenças neurológicas: como conseqüência de determinados problemas do sistema nervoso, dentre eles: doenças neurológicas que danificam o cérebro; a medula espinhal ou os nervos que desempenham uma função importante no mecanismo da micção. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
A Sociedade Brasileira de Urologia (2017) esclarece que, graças às diferentes opções terapêuticas existentes, e isso inclui o Método Pilates, hoje em dia, é possível solucionar a incontinência urinária em quase 30% a 40% dos casos, diminuindo a severidade dos sintomas em 40% a 50% dos casos.
Mediante tais fatos, é importante ressaltar que uma pesquisa feita no ano de 2015, pelo Centro Sane Pilates de Madrid, em mulheres da terceira idade que sofriam com incontinência urinária, revelou que o Método Pilates pode ser um grande aliado no combate dessa condição.
A Associação Brasileira de Pilates (2016) indica que o Método Pilates se fundamenta em seis princípios que podem auxiliar na prevenção e tratamento da incontinência urinária, são estes: (a) centralização, (b) concentração; (c) controle; (d) fluidez; (e) precisão e; (f) respiração.
Também esclarece que o Método Pilates foi desenvolvido com base na filosofia, a qual seu criador denominou "centro de energia", sendo ali o local aonde se concentra (centraliza) toda a energia necessária para que o indivíduo possa realizar seus exercícios. Em outras palavras, os exercícios Pilates devem começar a partir dos músculos abdominais, lombares, entre outros, que, por sua vez, segundo seu idealizador constituem o centro da energia ou poder. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PILATES, 2016).
Izakowitz (2010) lembra que a concentração é outro princípio de fundamental importância para o Pilates, já que é através dela que o indivíduo terá a possibilidade de conectar corpo e mente. Assim sendo, no decorrer da realização dos exercícios faz-se imprescindível se concentrar na área do corpo que se estiver trabalhando como, por exemplo, o assoalho pélvico, no caso da incontinência urinária, de modo que seja possível sentir a atividade que está sendo desenvolvida de forma plena e, assim, atingir os resultados esperados.
Todavia, deve-se ressaltar que o Método Pilates também se articula em torno do controle muscular, não havendo necessidade de movimentos bruscos ou irregulares que possam resultar em lesões. E isso requer controle mental. (IZAKOWITZ, 2010).
No que se refere à precisão, a Associação Brasileira de Pilates (2016) aponta que está é fundamental na realização dos movimentos. Também esclarece que a mesma deriva do controle exigido para realizá-los. Ou seja, o fato de cada movimento feito no Pilates ter um propósito, faz com que a precisão seja vital para a correta execução dos exercícios.
Mas não é somente isso, Izakowitz (2010) revela que os exercícios do Pilates devem ser feitos com fluidez, ou seja, deve ter um equilíbrio, não devendo ser muito lentos ou muito rápidos, lembrando que o Pilates não conta com movimentos independentes ou estáticos, mas movimentos que seguem a fluidez natural do corpo humano.
A respiração correta também é de suma importância para o Pilates, tanto é que faz parte integral de cada exercício, sendo sempre coordenada com o movimento. Segundo a Associação Brasileira de Pilates (2016), uma das finalidades principais do Pilates é limpar a corrente sanguínea através da oxigenação, bem como, aumentar a eficácia da assimilação do oxigênio e da capacidade respiratória, sendo que para isso faz-se necessário respirar corretamente e manter um ritmo de inspirações e expirações adequado durante a realização dos exercícios, pois só assim será possível revitalizar todo o sistema.
Pilates e Miller (2009) chamam a atenção ao indicar que juntamente com os princípios anteriormente citados, existem outros que também são fundamentais para a correta realização do Método Pilates, já que ajudam a maximizar seus benefícios: (a) imaginação; (b) intuição; (c) integração; e (d) flexibilidade.
Durante a realização dos exercícios podem ser utilizadas metáforas visuais para estimular o movimento físico através da imaginação; também é importante escutar o corpo e seguir a própria intuição natural. (PILATES; MILLER, 2009).
Ainda, para poder realizar os exercícios da forma correta há necessidade de levar em conta o corpo em sua integridade, de modo que a cada exercício seja colocada em prática a totalidade da massa muscular do corpo, indo da cabeça aos pés. (PILATES; MILLER, 2009).
Todos os exercícios do Pilates foram criados com o objetivo de flexibilizar e tonificar os músculos, e assim, proporcionar uma sensação de bem-estar, bem como facilitar atividades diárias, tais como, caminhar, sentar, se agachar, correr, entre outras. (PILATES; MILLER, 2009).
Sobre o assunto Martins (2013) ressalta que, dentre todos os princípios criados, ao desenvolver o seu Método, Joseph Pilates enfatizou o conceito de contrologia, que de acordo com o referido autor consiste no:

[...] controle consciente de todos os movimentos musculares do corpo. É a correta coordenação do corpo, da mente e do espírito. Por meio dela é possível desenvolver o corpo uniformemente, corrigir a má postura, restaurar a vitalidade física, revigorar a mente e elevar o espírito. A contrologia proporciona flexibilidade, graça natural, habilidades e força muscular, que são refletidas no desenvolvimento uniforme de todo o corpo, na medida em que adquirirmos boa forma física. (MARTINS, 2013, p. 4).

Levando em conta o acima exposto, ao conduzir, durante seis meses, testes com mulheres que sofriam de incontinência urinária de urgência, Moreira et al (2002) concluíram que aquelas que haviam realizado exercícios Pilates do assoalho pélvico mostraram melhoria bem significativa, em relação àquelas que não estavam praticando qualquer atividade física.
De acordo com Berlezi, et al (2009), os exercícios do assoalho pélvico são um dos principais tratamentos para a incontinência de esforço feminino sendo muito eficazes na prestação de alívio dos sintomas. O sucesso com exercícios Pilates no assoalho pélvico tem sido muito significativo em casos com incontinência de esforço leve a moderada chegando a alcançar a casa dos 80%.
Ao avaliar a eficácia do Pilates sobre os músculos do assoalho pélvico Culligan et al (2009) afirmou que tal modalidade terapêutica é realmente eficiente, podendo auxiliar mulheres que experimentam fraqueza muscular pélvica.
A fim de realizar seus estudos, o Centro Sano Pilates (2015) contou com dois grupos: um grupo constituído por 45 mulheres na terceira idade, praticantes do Pilates, 1 vez por semana, num período de 3 anos; o outro, constituído por 45 mulheres, também na terceira idade, que jamais tinham feito quaisquer tipos de exercícios Pilates.
Os resultados manifestaram significativa diferença quanto à presença de incontinência urinária entre os referidos grupos, sendo que enquanto que as 45 mulheres do Grupo 1, que tinham o hábito de praticar o Pilates diminuíram a incidência de incontinência urinária em 76%; as 45 mulheres do Grupo 2 que jamais haviam praticado o Pilates aumentaram em 52% a incidência de incontinência urinária.
De acordo com Silva et al (2011, p. 10), "ao se estudar o Método Pilates e toda sua aplicabilidade, observou-se que sua prática tem sido eficaz para o fortalecimento de todos os músculos do corpo, inclusive dos músculos abdominais, assim como do assoalho pélvico".
Todavia, pesquisas realizadas por Andreazza e Serra (2007) com 12 mulheres demonstraram que o Método Pilates promove um fortalecimento eficiente da musculatura do períneo, o que por sua vez, ajuda a prevenir o surgimento de disfunções no trato do sistema urinário.

Percebe-se que o Método Pilates é o que mais influencia a força do assoalho pélvico, podendo ser usado como forma de prevenção, ou seja, o Método Pilates pode ser utilizado para o fortalecimento da musculatura perineal como forma de prevenção para o aparecimento de disfunções dessa musculatura. (ANDREAZZA; SERRA, 2007, p. 15).

Outro estudo realizado por Borges, Santos e Silva (2005), com mulheres idosas, entre 74 e 77 anos, que sofriam com incontinência urinária, revelaram contribuições positivas do Método Pilates na diminuição de perda urinária e aumento da força muscular do períneo, após três meses de prática.
Caetano et al (2007) afirmam que a existência de inúmeros benefícios decorrentes do exercício regular para o corpo de maneira geral é fato. E advertem:

[...] as mulheres com incontinência urinária não devem ser aconselhadas a evitar atividades físicas por causa da incontinência. Os profissionais que trabalham com atividades físicas, aulas de ginástica e esportes devem ser preparados e informados a respeito da incontinência urinária e suas conseqüências, para poderem, assim, oferecer orientações e ajuda às mulheres de todas as idades que praticam exercícios e esportes, através de estratégias não invasivas, como os exercícios para o fortalecimento do períneo (Pilates). (CAETANO ET AL, 2007, p. 273).

Dentre as técnicas existentes para prevenir ou tratar a incontinência urinária, a Sociedade Brasileira de Urologia (2017) afirma que o Método Pilates, é aquele que tem tido maior destaque:

[...] sendo considerado um dos mais importantes, visto que seus principais objetivos são ganho de coordenação, força, flexibilidade, equilíbrio e resistência. [...] a ativação permanente do "centro do poder" que inclui a musculatura do assoalho pélvico, estimula esta, atuando de forma positiva, não somente no tratamento da incontinência urinária, quando já instalada, mas também como técnica preventiva da incontinência urinária. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA, 2017, p. 6).

Carrollton (2017) concorda com o acima mencionado, na medida em que afirma que o exercício é essencial para manter a força e a flexibilidade no assoalho pélvico. É também uma parte importante do tratamento e gestão de distúrbios do assoalho pélvico, usado para fortalecer os músculos para melhorar o apoio pélvico sendo, o Pilates particularmente útil para estes fins, uma vez que ensina técnicas para aumentar a força, coordenação, flexibilidade e postura, fatores esses que contribuem para a saúde pélvica (SILVA et al, 2011).
Além disso, o treinamento de força é abordado de forma equilibrada em Pilates, de modo que todos os músculos que contribuem para o apoio pélvico são envolvidos e fortalecidos. Ou seja, o Pilates fornece exercícios que se completam no sentido de manter a força e a estabilidade pélvicas. (CARROLLTON, 2017).
Após mais de uma década de estudos e experiência própria na instrução do Pilates aos seus clientes Northrup (2012) descobriu que uma das maneiras mais bem sucedidas para prevenir e tratar da incontinência urinária é o exercício dos músculos do assoalho pélvico, como por exemplo, através do uso de uma bola pequena. Isso porque, como qualquer outro músculo do corpo, o músculo do assoalho pélvico também requer treinamento, sendo o Método Pilates um dos mais indicados, pois ajuda a prevenir e tratar da incontinência de esforço, por exemplo, que consiste na incapacidade de controlar os movimentos do intestino, da bexiga ou ambos quando esses músculos são colocados sob tensão, na forma de tossir, espirrar, correr, pular, e assim por diante; além de prevenir o prolapso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Consideramos através de pesquisas que o método Pilates pode contribuir e auxilia na prevenção da incontinência urinaria.
O Método Pilates conta com mais de 500 exercícios que ajudam a contrair os músculos pélvicos, e, posteriormente, os músculos abdominais;
Ainda, no que se refere à questão da incontinência urinária, a prática dos exercícios Pilates promovem o tônus muscular do assoalho pélvico, ao mesmo tempo em que fortalecem e tonificam o corpo, sem elevar o volume muscular.
A incontinência urinaria é uma patologia que, com certeza, poderá fazer parte da vida de alguns indivíduos, principalmente aqueles que se encontram na faixa da chamada "terceira idade". Assim sendo, é indispensável conhecer as opções terapêuticas existentes que poderão auxiliar essas pessoas a ter uma vida plena e isso não diz respeito apenas às medicações ou cirurgias, mas outros tipos de terapias alternativas e eficientes como, por exemplo, o Método Pilates.
Seus exercícios ajudam a oxigenar os músculos de modo que ensinam as pessoas a se conscientizarem de seu próprio corpo. Ajudam a controlar os músculos. Trata-se de uma prática que relaxa e fortalece o corpo e a mente que pode ser de grande auxilio para prevenção da incontinência urinária, principalmente na terceira idade, mas como tudo aquilo que tem relação com a saúde, o Pilates deve ser considerado como um método que requer seriedade, profissionalismo e compromisso do paciente, pois só assim bons resultados poderão ser alcançados.

REFERÊNCIAS

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BORGES, J.; SANTOS, M. T. B.; SILVA, I. P. R. da. Técnica de Pilates no tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas. Atelier do Corpo, Bahia, 2005. Disponível em: <https://www.atelierdocorpoba.com.br/site/conteudo/artigos/>. Acesso em: 04 de abril de 2017.

CAETANO, A. S. [et al] Incontinência urinária e a prática de atividades físicasRevista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 13, nº 4 – Jul/Ago, 2007.

CARROLLTON. E. Pilates. Disponível: <www.drugwatch.com.> Acesso em 04 de abril de 2017.

CULLIGAN, P. J. [et al] A randomized clinical trial comparing pelvic floor muscle training to a Pilates exercise program for improving pelvic muscle strengthInt Urogynecol Journal 2010 21:401–408

FANTL, J. A. Behavioral intervention for community-dwelling individuals with urinary incontinenceUrology, 2008; v. 51(Suppl 2A), p. 30-34.

GOMES, C. M.; HISANO, M. Anatomia e fisiologia da micção. In: NARDOZZA JÚNIOR, A.; ZERATI FILHO, M; REIS, R. B. dos. [eds] Urologia fundamental. São Paulo: Planmark, 2010, 422p.

ICS, International Continence Society. Disponível em: <https://www.ics.org/>. Acesso em: 04 de abril de 2017.

IZAKOWITZ, R. PILATES. Manual completo del metodo Pilates. España: Netdoctor, 2010.

KENWAY, M. 10-step guide to putting your pelvic floor first. (2014). Disponível em: <www.pelvicfloorfirst.com.au> Acesso em: 03 de maio de 2017.

MARTINEZ, S. P. Incontinencia urinaria nel anciano. España: Netdoctor, 2017.

MARTINS, R. A. de S. Método pilates: histórico, benefícios e aplicações – revisão sistemática da literatura. Goiânia/GO: PUC, 2013.

MOREIRA E. [et al] Estudo da ação sinérgica dos músculos respiratórios e do assoalho pélvicoRevista Brasileira de Fisioterapia 2002; 6 (2):71-6.

NORTHRUP, C. Liberated from incontinence. (2012). Disponível em: < http://www.drnorthrup.com/liberated-from-incontinence/>. Acesso em: 15 de maio de 2017.

OMS, Organização Mundial da Saúde. (2016). Disponível em: <http://www.who.int/countries/bra/pt/>. Acesso em: 30 de março de 2017.

PERINI, S. História do método Pilates. Rio Grande do Sul: ABP, 2016.

PILATES, Associação Brasileira de. Disponível em: <http://www.abpilates.com.br> Acesso em: 11 de abril de 2017.

PILATES, Centro Sano. Disponível em: <www.centrosano.es>. Acesso em: 04 de abril de 2017.

PILATES, J. H.; MILLER, J. W. A obra completa de Joseph Pilates. São Paulo: Phorte Editora, 2009.

RIBEIRO, S. C. P. [et al]. Recursos fisioterapêuticos utilizados no tratamento de incontinência urinária: revisão de literaturaRevista da Universidade Vale do Rio Verde. Três Corações. v. 14, n. 1, jan./jul. 2016, p. 63-71.

SAÚDE, Ministério da. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br > Acesso em: 01 de maio de 2017.
SILVA, P. O. [et al]. A eficiência do Pilates no fortalecimento dos músculos abdominais, revisão sistemática. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 2011.
UROLOGIA, Associação Portuguesa de. Incontinência urinária. Disponível em: <http://www.apurologia.pt/incontinencia/incontinencia> Acesso em: 01 de maio de 2017.
UROLOGIA, Sociedade Brasileira de. Disponível em: <http://portaldaurologia.org.br > Acesso em: 01 de maio de 2017.
POR:
Arturo Lamadrid Dreger
Evangevaldo de Lima Santos
Fabiana Gomes
José Sérgio
Renata Gomes Galdino
Espero que você tenha gostado desse texto.

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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Ginástica Laboral nas Empresas


A necessidade da prática de exercícios físicos no local de trabalho aumentou consideravelmente. Visto que, o número de funcionários com Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho (L.E.R./D.O.R.T.) é grande. Assim, este estudo aborda a cinesioterapia laboral nas empresas utilizando um método de prevenção de DORT.

Novos processos de produção trouxeram mudanças consideráveis no ambiente de trabalho. Mais recentemente, a Era da Informática acentuou estas mudanças e catalisou suas conseqüências. Os "Tempos Modernos" impuseram uma nova rotina aos operários, que geralmente têm uma vida sedentária, passando muitas horas na mesma posição e quase sempre repetindo movimentos milhares de vezes por dia.(LIMA,2003;OLIVEIRA,2008).

Estudos dizem que cerca de quatromilhões de brasileiros são submetidos atratamento em razão de dores provocadas pela postura incorreta e pela pressão diáriade situações competitivas no trabalho. Assim, houve anecessidade da criação de atividades que atuem direta e especificamente na prevenção de doençasnos sistemas muscular e nervoso dos trabalhadores. A crescente preocupação dasempresas com a saúde e desempenho de seus funcionários faz da Ginástica Laboral uma ótima oportunidade de trabalho para Profissionais de Fisioterapia e Educação Física.(OLIVEIRA,2006)
A Ginástica Laboral é praticada comintervalos de cinco a dez minutos diários. Tendo como objetivo proporcionar ao funcionário uma melhor utilização de sua capacidade funcional através de exercícios de alongamento, de prevenção delesões ocupacionais e dinâmicas de recreação. O programa de atividades deve ser desenvolvido após uma avaliação criteriosa do ambiente de trabalho e de cada funcionário em particular,respeitando a realidade da empresa e as condições disponíveis.(OLIVEIRA,2007)
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo, através de uma revisão bibliográfica, considerando como fonte de dados bibliotecas eletrônicas como: Scielo, livros, revistas, monografiastrazendo o que é mais atual e abrangente  sobre cinesiologia laboral nas empresas

RESULTADOS E DISCUSSÃO


Doença Osteomuscular relacionada ao trabalho

Estas são doenças ocupacionais relacionadas a lesões por traumas cumulativos. É o resultado de uma descompensação entre a capacidade de movimento da musculatura e a execução de movimento rápido e constante (OLIVEIRA, 2006)
O termo Lesões por Esforços Repetitivos (LER), adotado no Brasil, está sendo, aos poucos, substituído por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Essa denominação destaca o termo distúrbio ao invés de lesões, o que corresponde ao que se percebe na prática: ocorrem distúrbios em uma primeira fase precoce, tais como fadiga, peso nos membros e dor, aparecendo, em uma fase mais adiantada, as lesões (RAGASSON et al., 2005).

Ergonomia

Estuda os aspectos do trabalho e sua relação com o conforto e bem-estar do trabalhador. Esta mais ligada às posturas, movimentos e ritmo determinados pela atividade e conteúdo dessa atividade, nos seus aspectos físicos e mentais. A ergonomia intervém analisando o trabalho, as posturas adotadas pelo trabalhador, sua movimentação e seu ritmo que de modo geral são determinados por outros fatores organizacionais.(FIGUEIREDO,2005; MARTINS,2005)
O principal objetivo da ergonomia é dar condições de trabalho onde haja maior conforto e bem-estar do operador a partir da análise da atividade. As melhorias ergonômicas se referem a vários aspectos do trabalho, tais como: cadeiras, mesas, bancadas, e ainda, o planejamento e localização de dispositivos; a quantidade, qualidade e localização da iluminação; indicações sobre melhorias na organização da atividade, incluindo o planejamento de novos dispositivos de trabalho ou modificação nos existentes e alteração doritmo e seqüenciamento de várias tarefas desempenhadas pelo operador.( MENDES,2004; NAHAS,2006)
Os principais fatores determinantes da Dort – (Distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho)
1. Postura:
Postura fixa é um fator de risco principalmente em trabalhos sedentários. No entanto em trabalhos mais dinâmicos, com posturas extremas de tronco como, por exemplo, abaixar-se e virar-se de lado também foiidentificado como fator de risco.(MACIEL,2005)
As más posturas de extremidades superiores também se constituem como fatores de risco, tais como: desvios dos punhos, braços tensionados e elevação do ombro.Todos esses desvios são influenciados por uma série de fatores ocupacionais e individuais, incluindo característica do posto de trabalho, Ex: altura da mesa, da cadeira, formato da cadeira e seu encosto, etc.(op.cit)
2 . Movimento e força:
Estes dois fatores estão correlacionados ao aparecimento da Dort – (Distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho) nas mãos e punhos.  A combinação de forças elevadas e alta repetitividade aumentam a magnitude da lesão mais do que qualquer uma delas isoladamente.Movimentos repetidos podem danificar diretamente os tendões através do freqüente alongamento e flexão dos músculos.(op.cit)
A força exercida durante a realização dos movimentos é outro determinante das lesões, como por exemplo, no levantamento, carregamento e utilização de ferramentas pesadas; a força necessária para cortar objetos muito duros, a utilização de parafusadoras e furadeiras
3. Conteúdo de trabalho e fatores psicológicos:
A relação entre trabalho e a saúde é afetada pela organização do trabalho e fatores psicológicos relacionados ao trabalho, podendo contribuir para o aparecimento de disfunções músculo-esqueléticas. Passou-se a estabelecer a relação entre trabalho, stress e o sistema músculo-esquelético..(op.cit)
4- Características individuais:
O tipo de musculatura e características individuais parecem manter uma relação com a incidência dos problemas. Nesse sentido, as mulheres parecem ser mais suscetíveis que os homens. A distribuição de tarefas por sexo e conseqüentementena carga do trabalho determinam o aparecimento de problemas e estão ligados as características individuais..(op.cit)
Benefícios da Ginastica Laboral
O programa de Ginástica Laboral (GL) tem como objetivo prevenir a LER/DORT, além de interferir positivamente no relacionamento interpessoal, aliviando as dores corporais proporcionando benefícios tanto para o trabalhador quanto para a empresa apresentando resultados mais rápidos e diretos na saúde dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2006).
A Ginástica Laboral promove adaptações fisiológicas, físicas e psíquicas, sua prática é exercida no ambiente de trabalho através de exercícios dirigidos e adequados para cada setor ou departamento da empresa. No momento em que a musculatura está sendo exercitada, há um aumento da temperatura corporal, tecidual e da circulação sanguínea provocados por adaptações fisiológicas. As adaptações físicas proporcionam melhoria na flexibilidade, mobilidade e postura do trabalhador. As psicológicas envolvem mudança de rotina favorecendo o relacionamento patrão/empregado e a integração entre pessoas que circulam pelo ambiente. O programa de Ginástica Laboral através da comunicação ativa expressada pelo corpo e pela cooperação nas atividades exercidas em duplas ou em grupos proporciona um convívio social diário, estabelecendo um encontro marcado com a saúde uma vez que integra as pessoas, e o espírito de equipe passa a prevalecer de forma que possam se conhecer melhor. Quando estes se exercitam em grupos trabalhando o espírito de equipe, proporciona além de uma melhor qualidade na produtividade, um crescimento pessoal do funcionário, essa mudança de rotina na empresa melhora consequentemente a saúde mental dos mesmos (ALMEIDA,2009;CADERNO,2006)
Comportamentos Relacionados á saúde e a Ginástica Laboral
Considerando oscomportamentos relacionados à saúde verifica-sea importância dasmortes prematuras e das morbidades, associadas ao modo como as pessoas vivem desta forma,  justifica-se o fornecimento de elementos para a efetivação de estratégias que auxiliem as pessoas a adotarem comportamentos considerados mais positivos do ponto de vista da saúde. (NAHAS,2006;FARINATTI,2006)
Ao se comparar as prevalências dos indicadores de homens e mulheres, constata-se que os homens participam menos da Ginastica Laboral, tem consumo insuficiente de frutas e verduras superior às mulheres, e ainda, consumo abusivo de bebidas alcoólicas. Contudo, as mulheres apresentam maior percepção negativa de estresseEssas diferenças de comportamento entre os gêneros foram observadas tanto a nível regional como federal. Desta forma, o governo federal criou uma política nacional de atenção primária ao homem objetivando a melhora do autocuidado e conscientização desta população do direito a saúde pública, incluindo também a tentativa de aumentar a adesão dos homens ao diferentes estratégias de prevenção de doenças(MONTEIRO,2009,SESI,2009,SOARES,2006)
Comparando a prevalência dos indicadores segundo participação na Ginástica Laboral, verifica-se diferença significativa nas variáveis: Inatividade física no lazer e no consumo abusivo de álcool. Entreos  gênero, poucas diferenças são encontradas na prevalência dos indicadores entre mulheres participantes e não participantes da ginástica Laboral  (GUIMARÃES,1998,MONTEIRO,2009;FERREIRA,2006; TIRLONI,2009)
Em contra partida,entre os homens, importantes diferençassão evidenciadas. O consumo insuficiente de frutas e verduras é mais prevalente entre os trabalhadores participantes da Ginástica Laboral. Isso reforça a ideia de que a Ginástica Laboral precisa se preocupar, também, com outros comportamentos relacionados àsaúdenãosó com a atividade física. De Acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de frutas e verduras e um importante fator preventivo de doençascrônicasnãotransmissíveis (DCNT) (MONTEIRO,2009;SESI,2009;WORLD,2002;WORLD,2010)
DISCUSSÃO
Evidências demonstram a importância da Ginástica Laboral na prevenção de doenças ocupacionais, tais como LER/DORT, na redução dos acidentes de trabalho e das faltas, bem como no aumento da produtividade, na diminuição dos gastos com assistência médica e, consequentemente, em um maior retorno financeiro para as empresas (JIMENES, 2002; FERREIRA, 1998; RevConfef, 2007).
Há um grande número de trabalhadores portadores de LER/DORT e os empresários ainda investem pouco em prevenção. A Ginástica Laboral pode ser considerada uma alternativa para o problema, pois é considerado um exercício físico eficaz para prevenir doenças relacionadasao trabalho e, assim, melhorar a qualidade de vida do trabalhador. É interessante, entretanto, notar que a ginástica, por si só, não terá resultados significativos, se não houver uma elaborada política de benefícios sociais,além de estudos ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos de segurança do trabalho, dos médicos ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos.(FACHINETO,2007)
Com relação aos resultados positivos da Ginástica Laboral, apresentados pelos diferentes autores, destacam-se o alívio das dores corporais, a diminuição dos casos de LER/DORT, o aumento da produtividade e um maior retorno financeiro para as empresas (MARTINS,2005; JIMENES, 2002; OLIVEIRA, 2006; RevConfef, 2007; RevBrasCineantropom Desempenho Hum 2010;RevBrasEduc Fís Esporte,2013 )
Fica evidente, portanto, que a Ginástica Laboral é eficiente na prevenção das doenças ocupacionais, na melhoria da qualidade de vida do trabalhador e na diminuição do absenteísmo(ROSÁRIO,2004,Rev.Bras.deSaúde Ocupacional,2006.)
CONCLUSÃO
A relevância da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho, estána prevenção de  alguns distúrbios osteomusculares como a LER/DORT, e ainda, é uma proposta interessante, pois  produz efeitos positivos no combate ao sedentarismo e suas conseqüências, conscientizando os trabalhadores sobre a importância da movimentação natural do corpo, conservação da postura e sua saúde, tão fundamentais para o desempenho profissional e a harmonização no ambiente de trabalho, além de ser um fator satisfatório para a maioria das empresas que através da Ginástica Laboral investe na melhoria da imagem da instituição junto aos empregados e a sociedade, contribuindo para a manutenção do bem estar físico mental e social de seus colaboradores gerando assim um aumento de produtividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, D. M. de; MATOS, D. G. de; SAVÓIA, R. P.; ZANELLA, A. L.; FILHO, M. L. M.. Os benefícios da prática de ginástica laboral, fator de bem-estar e produtividade na perspectiva dos funcionários participantes. LecturasEducación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, v. 134, p. 2009. http://www.efdeportes.com/efd134/os-beneficios-da-pratica-de-ginastica-laboral.htm 
Acessado em 7/9/13    
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JIMENES P. Ginástica laboral: bem-estar do trabalhador traz resultados surpreendentes. Revista CIPA 2002;171:70-81.
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MACIEL, Regina Heloisa, ALBUQUERQUE, Ana Maria F. Costa, MELZER, Adriana C. et al. Quem se beneficia dos programas de Ginástica Laboral? Cad. psicol. soc. trab., dez. 2005, vol.8, p.71-86. ISSN 1516-3717.
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MENDES R A, LEITE N. Ginástica laboral: princípios e aplicações práticas. Barueri, SP: Manole, 2004.
MONTEIRO CA, Malta DC, Moura EC, Moura L, Morais Neto OL, et al. Vigitel Brasil 2009. Vigilância de fatores de risco e proteção para doençascrônicas por inquérito telefônico. Ministério da Saúde, Brasília; 2009.
NAHAS MV. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida. Londrina: Midiograf, 2006.
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OLIVEIRA, J. R. G. (2007). A importância da ginástica laboral na prevenção de doenças ocupacionais. Revista de Educação Física, 139(1), 40-49.
OLIVEIRA, J. R. G.; SAMPAIO, Adelar Aparecido. A Ginástica Laboral na promoção da saúde e qualidade de vida do trabalhador. Caderno de Educação Física (UNIOESTE), v. 07, n. 13 p. 71-79, 2008.
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Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 31 (114): 149-160, 2006
RevBrasEducFís Esporte, (São Paulo) 2013 Jan-Mar;27(1):15-23
RevConfef. Ginástica laboral: intervenção exclusiva do profissional de educação física,2007; 23: 12-4.
ROSÁRIO JLR, Marques AP, Maluf AS. Aspectos clínicos do alongamento: uma revisão de literatura. RevBrasFisioter2004;8(1):83-8
SESI. Estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores das industrias brasileiras: relatório geral. Brasília. 2009.
SOARES RG, Assunção AA, Lima FPA. A baixa adesão ao programa de ginastica laboral: buscando elementos do trabalho para entender o problema. RevBrasSaudeOcup2006;31(114):149-60.
TIRLONIi AS. Variáveis de interferência no conforto e no desempenho dos exercícios físicos na ginástica laboral [Dissertação]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2009
World Health Organization. World health report 2002. Reducing risks, promoting healthy life. Geneva: WHO, 2002
World Health Organization.Global Strategy on Diet, Physical Activity and Health.2010; Disponível em:< http://www.who.int/dietphysicalactivity/ publications/ releases/ pr84/en/ >(acessado em 8/9/13)
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A corrida de rua como experiência de lazer para pessoas de mais idade: Um estudo qualitativo no Rio de Janeiro


Um fenômeno recente que tem se destacado nos grandes centros urbanos é a crescente participação de homens e mulheres com mais de 50 anos em corridas de rua. Estas corridas são eventos sociais que mesclam atividade física com lazer e que, dependendo do interesse do participante, poderão proporcionar também experiência de turismo. Entre os diversos tipos de corridas existentes, a maratona é uma das mais desafiantes (42,195 km) e uma das principais que atrai este público. No mundo, chegam a ser realizadas mais de 500 maratonas por ano, entre elas as de Nova Iorque, Boston, Paris, Berlim e Tóquio. Há também algumas maratonas exóticas tais como a da China, com percurso sobre a Grande Muralha, e a maratona do Sol da Meia Noite na Noruega que acontece à noite sob a luz do sol. No Brasil, as principais são as maratonas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Acredita-se que a popularidade desses eventos sociais se deve à praticidade que a corrida oferece, como ser acessível a toda população com condicionamento adequado e, também, por ser uma atividade de baixo custo para quem participa (Salgado e Chacon-Mikahil, 2006). Com isto, é possível atingir corredores de diferentes idades e classes sociais, como pessoas acima de 50 anos.

O presente artigo busca compreender as motivações e as experiências vivenciadas por homens e mulheres acima de 50 anos que participam de corridas do tipo maratonas. Adota-se para esse objetivo a perspectiva de consumo de uma atividade que pode ser utilizada para conceber um produto de lazer e turismo.

 

A maratona como consumo de experiência

Atividades de lazer, esportes e jogos de diversão constituem importantes tipos de consumo de experiência. Este engloba aspectos multisensoriais, tais como as fantasias e emoções, e é conhecido na literatura como consumo hedônico (Holbrook e Hirschman, 1982). O consumo de experiência tem como característica o fato de que cada uma é única.

A maratona pode ser vista como uma experiência de consumo hedônico, pois envolve sensações de prazer e de diversão. Entretanto, também exige certa dose de sacrifícios, que, de acordo com sua intensidade, poderá até mesmo anular as sensações de prazer. Não obstante, cada maratona proporciona uma experiência única, seja por diferenças no percurso, no clima, no público que participa ou assiste ao evento, ou por diferenças que são inerentes ao próprio participante. No momento em que o corredor decide participar da maratona, ele se compromete a vivenciar experiências de corrida na forma de treinamento, a fim de atingir um condicionamento físico adequado. Os treinamentos envolvem situações de convívio social que não somente estimulam o conhecimento e o uso de produtos adequados à corrida, como influenciam na escolha ou sugestão de novos roteiros para locais de treinamento e de corridas.

A maratona, sendo assim um tipo de consumo de experiência, tem o consumidor como participante, logo sua presença é fundamental para o evento acontecer (Deighton, 1992). O consumidor é coprodutor da experiência de consumo. Quanto mais ajustada esta relação de coprodução, mais provavelmente novas experiências poderão surgir. Thomas et al. (2013) estudaram as interações entre os diversos agentes de uma comunidade de corredores, interações estas que em conjunto tornam possíveis as experiências de consumo de corridas. Estes agentes se dividem entre ofertadores da experiência (empresas responsáveis pelos eventos, patrocinadores, associações esportivas) e consumidores, sendo que alguns destes podem exercer dupla função, tanto como produtores e como consumidores destes serviços. Constata-se que dependência de recursos e alinhamento de interesses dos diferentes participantes contribuem para criação de valor, possibilitando a perpetuação da própria comunidade e, por conseguinte, a continuidade das ofertas de corridas.

O consumo de experiência detém um forte componente social. A interação pessoal é característica deste tipo de consumo, e pode estar presente em diferentes formas tais como a comunhão e a socialização (Holt, 1995). A comunhão acontece quando os consumidores compartilham suas experiências de consumo em conjunto. A socialização, por outro lado, se dá quando há troca de experiências entre os participantes, como por exemplo, um consumidor esclarece uma dúvida ou passa uma informação para outro consumidor (Holt,1995). Pesquisas como a de Celsi et al. (1993) e de Arnould e Price (1993) mostram em seus resultados a relevância do grupo na experiência de consumo para esportes como o skydiving e o rafting, respectivamente.

Estas características de interação social que o consumo de experiência oferece se adequam particularmente ao público de mais idade. Diniz e Motta (2006) ao realizarem uma pesquisa sobre restrições ao lazer para idosos, revelam que, com o avançar da idade, as pessoas tendem a valorizar mais a experiência em si do que o prazer de ter ou possuir. Especificam que para pessoas entre 60 e 80 anos, as preferências tendem a ser por relações interpessoais, por introspecção filosófica e maior conectividade com a vida. A escolha dos lugares para o convívio social perpassa a necessidade prática e funcional dos mesmos para ser um ambiente de socialização e de apoio emocional (Rosenbaum, 2006).

A participação em corridas de competição, como a maratona, representa uma oportunidade de interação social que exige alto grau de envolvimento e dedicação. No estudo de Shipway e Jones (2008), com corredores da maratona de Londres, verificou-se uma forte identidade de corredor. Os participantes consideram-se pertencentes ao mesmo grupo, dividindo as mesmas experiências, valores e crenças, criando uma «carreira» de corredor amador. A atividade corrida foi associada ao conceito «lazer sério» pelo alto grau de envolvimento e identidade compartilhada que oferece. O ato de viajar para competir na maratona contribuiu para exaltar a «identidade de corredor» dos participantes.

 

O envelhecimento e o esporte

Apesar do processo de envelhecimento ser algo natural e esperado para os indivíduos, este não é visto de forma simples. Para as autoridades públicas, tende a ser visto como fonte de preocupação, pois é necessário que se garanta as condições de saúde e de previdência da população. Associações entre velhice, período de incerteza e doenças acabam sendo inevitáveis (Guerra e Caldas, 2010). Mesmo que as condições de vida do idoso possam melhorar, o ser «velho» ainda segue certos estigmas. Tradicionalmente, a forma como a velhice é percebida se encontra relacionada ao declínio e perda das capacidades físicas e mentais.

Contudo, há também a perda social quando o idoso perde sua capacidade laborativa e entra na fase da aposentadoria (Guerra e Caldas, 2010). Para Barros (2011), a imagem do idoso se deteriora ainda mais quando é comparada à da juventude. As consequências disto são atitudes e comportamentos que alguns idosos procuram seguir para evitar serem considerados como velhos ou para simplesmente postergar esta fase em suas vidas (Pereira e Penalva, 2011).

Entretanto, com esta imagem negativa coexiste também uma imagem mais favorável ao envelhecimento, principalmente quando se consideram percepções feitas a partir dos próprios idosos. Guerra e Caldas (2010) fizeram um levantamento de vários estudos no Brasil que tratavam sobre a percepção dos idosos em relação ao envelhecimento. Constatou-se que há tantos relatos sobre dificuldades encontradas como também sobre recompensas, sendo estas a experiência, o conhecimento, a independência, presença de apoio e suporte familiar. Para os idosos pesquisados, há uma visão de que o envelhecimento é dependente do esforço e da responsabilidade pessoal de cada um e que a melhor forma de enfrentar é continuar ativo.

Nos últimos anos, tem estado mais presente na sociedade um discurso mais favorável em relação ao envelhecimento. O termo «terceira idade» surge para representar aquela fase da vida em que há maior liberdade, lazer, saúde e crescimento pessoal (Dionigi, 2006). A valorização da juventude, supracitada, é propulsora desta tendência, e a sociedade como um todo cria oportunidades para postergar o envelhecimento. Uma dessas iniciativas é através da atividade física A procura por atividade física pode ser vista como uma prática contra o envelhecimento (Caradec, 2011). Freitas et al. (2007) realizaram uma pesquisa em Recife com 120 idosos sobre os motivos para a prática de atividades físicas, e os resultados mostraram que os principais eram melhorar saúde, desempenho físico, autoimagem, autoestima, adotar estilo de vida saudável e reduzir o estresse.

Seguindo esta tendência de comportamento, observa-se também procura por atividades esportivas competitivas pelos idosos. Num estudo realizado na Austrália por Dionigi (2006) com idosos entre 60 e 89 anos, verificou-se que a prática de exercícios mais intensos, além de gerar maior envolvimento, permite a experimentação de certa forma de poder, uma vez que passam a ter maior controle sobre seus corpos e suas vidas. Como consequência, estes idosos admitem sentir momentos de prazer, de orgulho e de realização.

 

Método

Esta pesquisa é de caráter exploratório, visto que o tema corridas de rua ainda é escasso no meio acadêmico (Dallari, 2009; Moura et al., 2010). Como o objetivo desta pesquisa é identificar motivações e experiências vivenciadas ao correr uma maratona, adotou-se a linha de pesquisa interpretativa com uso do método qualitativo. O principal instrumento de coleta de dados utilizado foi entrevista em profundidade. Quando necessário, foram feitas consultas às publicações e sites na Internet relacionados ao tema corridas de rua.

Para a realização das entrevistas, foi adotada a técnica da bola de neve. Foram conduzidas 12 entrevistas em profundidade. Tal número se pautou pelo critério de saturação, em que cada vez mais novas informações pertinentes ao assunto da pesquisa estavam se tornando raras, ou que redundâncias tenham-se tornado frequentes. Cada entrevista teve duração média de quarenta minutos, todas gravadas (com permissão) e transcritas para análise. As entrevistas aconteceram num período de dois meses.

As perguntas fazem parte de um roteiro semi-estruturado. O que se pretendia obter dos informantes eram suas experiências com relação a maratona: sentimentos envolvidos, experiência vivida e significados.

As entrevistas aconteceram em locais públicos. A maior parte foi feita no local dos treinos de corridas: um bosque no bairro da Barra da Tijuca. Algumas entrevistas foram realizadas após o treino, momento este que foi sugerido pelos próprios entrevistados.

Todos os informantes eram residentes da cidade do Rio de Janeiro, exerciam diferentes profissões, eram praticantes de corrida e já haviam corrido pelo menos uma maratona. A idade média dos entrevistados era de 59 anos.

 

 

Todas as entrevistas começaram com a pergunta «Como você começou a correr‌». A finalidade era deixar o informante livre para dar informações sobre sua história de vida envolvendo a corrida. Depois, as perguntas passaram a discorrer sobre a maratona e a própria experiência de correr.

A análise dos dados da entrevista foi feita por blocos de texto. Utilizou-se a técnica da análise do discurso. Buscou-se categorizar a partir do levantamento dos principais temas relevantes dentro do tema relativo a corrida. Entretanto, a partir da leitura de todo o material, informações soltas, porém dignas de gerar mais riqueza para a própria pesquisa, foram igualmente consideradas.

A segunda fonte, dados secundários, foi consulta a publicações. Restringiu-se ao material editorial sobre eventos de corrida, mercado de corridas no Brasil e no exterior. Estas publicações, tanto na mídia tradicional como na mídia on-line, puderam contribuir para um melhor entendimento da evolução deste mercado de corridas de curta e de longa distância realizadas tanto por atletas profissionais como por amadores.

 

Análise dos resultados

Diversas foram as motivações que levaram os entrevistados a começarem a correr. Foram citadas motivações como: saúde, praticar uma atividade que já era comum na infância e influência de familiares. De todos aqueles que começaram a correr por razões ligadas à saúde, todos já estavam acima dos 30 anos, com a exceção de apenas um, que, apesar de mais jovem, estava preocupado com o peso corporal. Truccolo et al. (2008), ao estudarem os fatores motivacionais de adesão a grupos de corrida por corredores de Porto Alegre, também encontraram em seus entrevistados a motivação decorrente da busca de melhor condicionamento físico e saúde.

Enquanto para ingressar na atividade corrida as motivações foram variadas, para correr a prova maratona o motivo ficou em torno do desafio: «a maratona começou (a prática da maratona) porque você vai passando por obstáculos. Você corre 5 km, vê que você está bem, aí existe o desafio máximo que é a maratona.» (CAR., 70 anos).

Entretanto, uma possível motivação posterior, para além do desafio de vencer a distância, é melhorar o tempo de duração da prova. A questão do tempo da prova sempre esteve presente na entrevista como um fator de «classificação» entre os corredores. Pode-se considerar que talvez a motivação inicial seja o desafio, mas que, com o bom resultado da primeira experiência, a motivação posterior possa ser a competitividade, ou a melhora do tempo de conclusão da prova.

Por outro lado, o próprio avançar da idade também pode influenciar na motivação do indivíduo, como é visto pelo seguinte informante que começou a correr pelo desafio em si, mas que posteriormente passou a correr por motivo de saúde: «corro para não cansar» (C.P., 65 anos).

Para outros, o avançar da idade pode levar de uma experiência com motivação inicial competitiva para outra em busca da saúde: «estou com 70 anos, corridinhas só de 5 km para manter a forma e o bem-estar» (CAR., 70 anos, corredor que costumava disputar em sua categoria nas provas de longa distância).

A experiência maratona

Para os respondentes, participar de uma prova de maratona é um desafio, é também uma forma de testar os limites do corpo, de buscar superação, autoconhecimento e aventura. Como refere um entrevistado: «acho que tem um pouco dessa nossa loucura, que mora dentro de cada um, da gente se tentar desafiar de estar perto da morte, qualquer coisa assim, não sei, tem uma explicação muito sutil com relação a isso, você tem é uma grande aventura. A maratona em si é um desafio urbano (...) você está ali, num ambiente urbano e controlado.» (M.A., 49 anos).

Este desafio pode ser visto como uma forma de sacrifício. Há o sacrifício de tempo, como explica o informante: «estou numa fase que tenho que equilibrar família, trabalho e o meu esporte (...) tudo tem que caminhar junto» (M.D., 49 anos).

Há o sacrifício físico, pois a maratona é reconhecida por especialistas esportivos como atividade de esforço pesado (Pazin et al., 2008). Esta alta dose de esforço é tanto física quanto psíquica. É comum entre os participantes desta prova, definir que a partir de uma certa quilometragem existe uma barreira quase intransponível. Para os entrevistados, isso acontece, em geral, após os 30 km. É neste momento que o desafio se torna maior, e, que como consequência, necessita-se de maior empenho mental. Para os entrevistados, isto equivale a uma experiência que promove o autoconhecimento.

Como referem dois participantes:

«A maratona é um grande desafio. Acho que quando a pessoa procura a maratona, passa a ter mais o controle de si, não só o físico como o psicológico, porque a maratona é um grande desafio, é um grande desgaste, você se prepara muito. A maratona em si, a prova em si, é um grande desafio. Então você passa a se conhecer melhor a si próprio, não só fisicamente, mas também de cabeça. Eu acho que a pessoa passa a ser outra pessoa.» (J.C., 60 anos).

«Você na maratona pensa nesse diferencial lúdico, de ver um pouco da sua essência, descobrir um pouco da sua personalidade» (M.A., 49 anos).

Ao perguntar o que significa ser um maratonista, os entrevistados citaram palavras como «resistência», «pessoa determinada», «gozando de saúde», «herói», «boa cabeça», «explorar seus limites». Há uma imagem simbólica, um imaginário do corredor maratonista como uma pessoa resistente, saudável e que enfrenta desafios. Efetivamente, verifica-se que o corredor maratonista é valorizado na comunidade de corredores a ponto de para alguns só se considerar corredor «de verdade» aquele que corre maratonas. Refere um entrevistado: «o cara para dizer para mim que é corredor tem de fazer uma maratona, não importa o tempo» (V., 75 anos).

A construção deste imaginário do corredor maratonista pelos demais fazem com que os próprios maratonistas sintam certo status no grupo, sendo, consequentemente, valorizados no meio em que convivem. Uma das entrevistadas ressalta o sentimento de orgulho da condição de maratonista: «... agora não, a corrida está muito divulgada, mas na época não era conhecida assim, aquela que corre ou aquela que faz maratona, e isso é sempre uma coisa... uma pontinha de orgulho. No fundo, as pessoas acabam não falando, mas todo mundo gosta disso.» (D.A., 50 anos).

«Alguém vai puxar»: maratona e solidariedade

A interação entre corredores de maratona pode acontecer de várias formas, seja em momentos que antecedem, como nos treinos, durante a prova ou mesmo depois. Há um espírito de comunidade em que todos se ajudam, seja nos momentos mais tranquilos como nos mais difíceis. Uma das formas de olhar este espírito de comunhão, talvez possa ser através do caráter missão que a maratona apresenta, conforme é analisado por este informante: «... ali você está num desafio, o que está compartilhando ali‌ Há um desafio comum a todos. Aquilo ali une, porque como se fossem todos numa missão de guerra. Sim, essa guerra é individual.» (M.A., 49 anos).

E a solidariedade é decorrência deste espírito de união. Ela acontece também de várias formas e em situações variadas, como nos exemplos a seguir: «Ele (esporte maratona) é solidário, você vê alguém com alguma coisa e carrega junto, eu mesmo sou assim, na hora, vejo alguém, você vai, vão embora! Você está caindo, passa alguém na maratona por você: 'não para, falta pouco', você está sozinho e não está sozinho (...) então se você está numa corrida que está no final, a verdade é que alguém vai te puxar. Você nunca mais vai ver esta pessoa, mas vai te puxar.» (M.D., 49 anos).

O termo «puxar» quer dizer estimular o outro corredor a vencer a dor e continuar correndo para finalizar a maratona: «O corredor é muito unido um ao outro (...) se um machucar um chega próximo, 'espera lá colega, dá para ir', a gente está sempre dando força, é bem interessante.» (C.P., 65 anos).

Há também casos de solidariedade entre corredores, como o seguinte: «Já corri com um deficiente, com uma muleta de madeira. Aí na chegada eu falava para ele não botar a muleta no chão, para levantar a muleta, 'você bota a muleta para cima para todo mundo ver a muleta'» (V., 75 anos, ajudando a um deficiente completar a prova de maratona).

A solidariedade pode também ser sentida entre os participantes e o público, de acordo com Deighton (1992). O informante L.A. revela um exemplo da solidariedade do público de Boston: «E lá é o seguinte em Boston. Imagina você correr numa estrada, você sai de uma cidade lá e vai por uma estrada o tempo todo e o pessoal de Boston dessa cidade se preparam para corrida o ano inteiro. (...) eles saem de suas casas, dos vilarejos e ficam todos assim na beira da estrada e torcem mesmo, torcem violentamente! (...) Aí os caras gritavam para mim, me davam força e tudo mais.» (L.A., 60 anos).

No Rio de Janeiro, numa corrida, em 2013, em que a informante C. de 45 anos participou, ela relata o envolvimento da comunidade do Morro do Alemão, que recentemente havia passado pelo processo de pacificação: «Não houve nenhum conflito durante o percurso, os moradores que nos parabenizaram ficaram nas suas portas, tudo em grupo, entendeu‌ Tudo maravilhado não sei que hora eu passei, eu fui uma das primeiras mulheres, então eu recebi parabéns no percurso inteiro onde tinha população elas jogavam beijo para elas, todo mundo muito feliz» (C., 45 anos, ao correr a corrida na comunidade do Morro do Alemão no Rio de Janeiro).

A maratona como um momento de socialização e de lazer

O tema socialização apareceu nas entrevistas com todos os informantes. Para eles, a atividade de corrida e o próprio treinamento para maratonas podem envolver vários tipos de relações com outras pessoas. Isto é, apesar da corrida em si ser vista como um esporte solitário e individual, quando se trata de correr uma prova de longa distância como a maratona, busca-se o contato, seja por meio de serviços de assessoria esportiva ou simplesmente desejar estar junto com outros corredores durante os vários treinos. Nos próprios eventos de corridas, há espaços disponíveis para que estes grupos (sejam só de corredores ou de assessorias de treinamento) se estabeleçam no local e possibilitem a confraternização entre os próprios corredores e entre estes, os treinadores e o público.

Referem dois entrevistados:

«A maratona tem esse aspecto lúdico sim. Você reúne amigos, sabe, é um pretexto para você estar num evento social». (M. A., 49 anos).

«Esse meio de correr nesse ponto é muito bom, traz uma socialização» (L.A., 60 anos).

Muitos informantes associaram a prática da maratona com lazer. É comum relatos de que a maratona serve como pretexto para viajar, como nos exemplos abaixo:

«A gente busca uma maratona no período de férias que a gente tem, então a gente acaba fazendo turismo» (D.A., 50 anos).

«... Olha que coisa fantástica, tem maratona no mundo inteiro, então a gente escolhe um lugar até que não conhece que é o caso de Istambul (...) e é isso que eu acho um diferencial» (M.D., 49 anos).

Para outros, a experiência da maratona em si já é um passeio, pois não tendo o enfoque competitivo, pode ser uma forma de apreciar a paisagem.

Referem duas entrevistadas:

«Eu vejo assim, a corrida longa para mim eu gosto porque é uma corrida que você vai, é assim. Você dá a largada, você não tem que estar preocupada para que você chegue. Eu vou vendo paisagem, vou curtindo as pessoas que participam, vou curtindo as pessoas que estão dando apoio, tanto de dentro da organização como as pessoas que não correm, que não praticam esporte ou algumas que praticam.» (C., 45 anos).

«Eu gosto até assim ficar olhando para me distrair, vendo a paisagem... vendo as coisas, porque acho isso meio que tira você, como eu não estou mais preocupada com o tempo...» (D.A., 50 anos).

Além disso, o fato de a maratona corresponder a um percurso longo que leva algumas horas para um corredor amador completá-la, permite a experimentação de sensações variadas. Sensações que rementem tanto para a noção de sacrifício, como também sensações que rementem ao prazer, conforme citado por um informante: «Num treino confortável você vai se sentindo melhor e experimenta uma sensação chamado de runners high como se fosse uma loucura, um prazer do corredor e que ele entra num estágio de conforto e paz, mesmo durante a corrida que depois de uma hora ou de uma hora e meia ele está se sentindo melhor do que quando começou.» (A. A., 54 anos).

 

Considerações finais

Alguns resultados acima apresentados merecem ser salientados. Um diz respeito ao imaginário do corredor criado em torno de valores como: uma pessoa que é saudável, que gosta de desafios, que é forte e resistente. Para os entrevistados, ser corredor é estar no caminho deste ideal. Desejam ter experiências que os levem a sentir prazer, orgulho e realização de serem um pouco parte deste imaginário construído.

Para os indivíduos mais velhos, este imaginário vai ao encontro da reflexão de que para um envelhecimento adequado é necessário estar ativo. Se manter «corredor» é trilhar neste caminho de um corpo que envelhecerá de forma não somente saudável, mas que também será forte e resistente. Este resultado vem a corroborar com o de Diogini (2006) em que há um reconhecimento de que a prática do esporte permite maior controle do corpo, direcionando-o para uma condição desejável.

A relação entre a prática da corrida e o avançar da idade foi destacada pelos entrevistados quando comentaram sobre as motivações. Se inicialmente importava o desafio e depois a competitividade, esta última parece ter diminuído sua relevância com a expectativa do avançar da idade. Para os entrevistados mais velhos continuar correndo é para manter-se saudável. Para os mais novos, ao comentarem sobre o futuro, havia uma expectativa de que as motivações poderiam ser diferentes.

A maratona apesar de ser percebida como uma atividade altamente desgastante e de grandes sacrifícios, gera uma sensação plena de bem-estar, quietude e satisfação. A maioria dos entrevistados disseram ter vivenciado um momento de intenso prazer durante a maratona ou durante seus treinos. Tal experiência é decorrência do alto nível de concentração e esforço exigido, mas que, estando bem treinado, é possível suportar. Estas sensações de bem-estar e satisfação permitem levar ao estado de realização e associar a maratona como uma experiência que também é lúdica.

A socialização entre os corredores também merece ser destacada. A busca por lugares para ter convívio social é uma das necessidades dos indivíduos mais velhos (Rosenbaum, 2006). Os eventos de corrida e os treinos são formas convenientes de suprir esta demanda. Ademais, estes eventos têm a capacidade de reunir pessoas em torno do mesmo interesse, o que intensifica ainda mais um senso de comunidade e pertencimento (Thomas et al., 2013; Shipway e Jones, 2007). E estes valores de socialização são percebidos mais fortemente com o avançar da idade.

Diante das experiências relatadas pelos entrevistados com relação a maratona, revelam-se os desejos de conquistar numa única experiência sensações como prazer, sacrifício, orgulho e realização; de contribuir para manter-se saudável e se divertir, de estar com amigos e viajar. Por meio da corrida e da maratona, abre-se um leque de oportunidades que envolvem basicamente três pilares: a socialização, o lazer e a qualidade de vida.

Estes pilares podem ser a base para a conquista de consumidores de maratonas pelo setor de turismo. Entretanto, estes consumidores devem ser vistos como grupos heterogêneos. Enquanto para corredores de meia-idade, a dedicação ao esporte exige muita negociação com outras áreas como família e trabalho, para os mais velhos a disponibilidade de tempo é algo que conta a favor. Por outro lado, o desafio torna-se mais penoso. Com isto, os pacotes turísticos que visam promover estas experiências podem se ajustar ao perfil destes corredores. Como por exemplo, segmentar corridas, não somente pela distância, mas por horários e percursos diferentes. Promover maior estímulo àqueles que correm por competitividade por meio de premiações. Buscar cenários atraentes e percursos leves para aqueles que preferem o estímulo à saúde.

As principais limitações desta pesquisa dizem respeito à natureza exploratória da investigação, pois não se pode promover generalizações. Entretanto, os temas levantados permitem agregar novos conhecimentos desta experiência de consumo.

Com relação à pesquisas futuras, sugere-se entender em maior profundidade as motivações e benefícios gerados pela corrida para consumidores de mais idade, destacando as diferenças de gênero.

 

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Espero que você tenha gostado desse texto.

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