segunda-feira, 26 de março de 2012

Educação Física vai além dos esportes


Abmael e estudantes na sala de tecnologia: gráficos indicam o resultado da pesquisa. Foto: Gustavo Lourenção
Abmael e estudantes na sala de tecnologia: gráficos indicam o resultado da pesquisa. Foto: Gustavo Lourenção  
Quando as aulas começaram no início de 2004, o professor Abmael Rocha Junior se viu diante de um problema: como lecionar Educação Física para estudantes do noturno que chegavam exaustos à escola, sem condições de fazer ginástica ou praticar esportes? A maioria dos alunos, quase adultos muitos deles evadidos em anos anteriores , pegava pesado o dia inteiro nos frigoríficos da cidade de Nova Andradina (MS), onde se localiza a Escola Estadual Austrílio Capilé Castro. A solução veio da própria classe. Reportagem exibida pela TV sobre a epidemia mundial de obesidade levou a turma a perguntar: Professor, isso é verdade? Os jovens não notavam na escola uma quantidade tão grande de obesos. Era a deixa que Abmael procurava. Ele poderia ensinar noções de saúde em suas aulas. Os alunos foram investigar se o problema existia na cidade e chegaram a uma conclusão surpreendente: havia muito mais alunos com peso abaixo do ideal.

Passo-a-passo e metodologia 

1. Projeto inclui Matemática e Informática
Além de dar aulas de Educação Física, Abmael coordena à noite a sala de tecnologia educacional. Assim, uniu as duas áreas no projeto. A idéia era mostrar que Educação Física não é só ginástica é também saúde e que nas aulas de informática se aprende a usar softwares para auxiliar na resolução de problemas como a pesquisa sobre obesidade.

O professor contou ainda com a parceria da professora de Matemática Maria Aparecida Rodrigues, que orientou a parte estatística da pesquisa. Juntos, eles dividiram a turma em quatro grupos, cada um responsável por uma atividade. Diante dos computadores, a primeira etapa do trabalho foi a busca de informações sobre o que é obesidade. Os alunos aprenderam que a melhor maneira de descobrir se uma pessoa está obesa é por meio do Índice de Massa Corporal (IMC). O número é obtido pela divisão do peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.

O grupo 1 elaborou um questionário a ser aplicado aos estudantes das outras escolas. A idéia era investigar seus hábitos alimentares. Munidos de um aparelho para medir estatura, balança e questionário, o grupo 2 foi a campo colher os dados. Os jovens visitaram 11 escolas, onde mediram e pesaram 496 estudantes entre 13 e 15 anos. Com as informações em mãos, todos deram início ao cálculo do IMC e, em seguida, à tabulação. Inicialmente o trabalho foi feito no papel, com a ajuda da professora de Matemática. Depois, o grupo 3 confeccionou gráficos e tabelas usando os programas Excel e Word. Não adiantava só ensinar aos alunos como manipular esses aplicativos. Era preciso relacionar os programas à prática pedagógica, explica o professor. O grupo 4 ficou responsável pela parte final, de divulgação dos dados. 

2. Jovens eram desnutridos, e não obesos
Quando a análise foi concluída, os alunos ficaram surpresos. Os resultados mostraram que, em vez de obesos, havia uma grande quantidade de alunos abaixo do peso no município: 29,5% das meninas e 33,8% dos meninos estavam com o IMC inferior a 18,5 (o normal é entre 18,5 e 24,9). Eram obesos mesmo somente 1,5% das garotas e 0,8% dos garotos. Os demais tinham peso normal ou sobrepeso, sem efeito negativo sobre a saúde.

Diante dos números, os alunos passaram a questionar por que havia tantos alunos abaixo do peso em Nova Andradina. Eles perceberam que a maioria deles estava nas escolas mais carentes (em algumas a taxa chegou a 60%). Depois de pensar em várias possibilidades, a hipótese mais plausível era de que os estudantes deveriam estar desnutridos.
A turma de Abmael voltou os olhos então para o questionário aplicado nas escolas quando os colegas foram pesados e medidos. Perceberam que muitos dos que estavam abaixo do peso às vezes tinham como única refeição do dia a merenda escolar. Outros até diziam que comiam bem, mas a qualidade da alimentação começou a ser questionada.

3. Pesquisa causa impacto na cidade
Os alunos fizeram um relatório apontando a necessidade de aprofundar a pesquisa para checar a origem de tantos casos de jovens com peso abaixo do ideal. Com orientação do professor, sugeriram uma melhoria da qualidade da merenda. Propusemos a inclusão de noções sobre reeducação alimentar nas aulas de Ciências e Biologia. Nas de Educação Física, seria interessante fazer um acompanhamento do IMC dos alunos a cada seis meses, explica Abmael.
Com todas as informações em mãos, entrou em cena o grupo 4, que bolou apresentações em PowerPoint e voltou às 11 escolas para contar o que havia sido descoberto. O que os alunos não imaginavam é que o impacto do trabalho seria muito maior. Quando soube dos resultados da pesquisa, um vereador da cidade convidou a turma para se apresentar no plenário da Câmara. Mesmo um pouco envergonhados, eles foram pedir mais atenção à merenda. O secretário de Saúde também fez questão de receber os dados. Agora todos estão engajados em ampliar a pesquisa para descobrir se o problema se repete entre estudantes de outras faixas etárias.

Por

Giovana Girardi (novaescola@atleitor.com.br), Meire Cavalcante e Roberta Bencini

Espero que você tenha gostado desse texto.

Conheça os Manuais para Professor de Educação Física
Tenha Exercícios em Vídeos para Aulas de Educação Física
Trabalhe com Educação Física
Segue no Instagram!
Receba nossos links no Telegram e no Whatsapp .