quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Biomecânica na Educação Física



O corpo humano é um dos principais objetos de estudo do homem. À busca por compreender o seu funcionamento, contrapõe-se sua complexidade, levando cientistas e estudiosos a aprofundar cada vez mais os seus estudos. Dentro deste âmbito se encontra a Biomecânica, que é uma disciplina derivada das ciências naturais que se preocupa com a análise física dos sistemas biológicos, examinando, entre outros, os efeitos das forças mecânicas sobre o corpo humano em movimentos quotidianos, de trabalho e de esporte. No século XX ocorreram grandes avanços tecnológicos que se refletiram nos métodos experimentais usados em praticamente todas as áreas de atuação científica, incluindo a Biomecânica, ocasionando um grande avanço nas técnicas de medição, armazenamento e processamento de dados, fatos estes que contribuíram para o estudo e melhor compreensão do movimento humano.

    A Biomecânica é um dos métodos para estudar a maneira como os seres vivos (principalmente o homem) se adaptam às leis da mecânica quando realizando movimentos voluntários. Para Donskoy & Zatsiorsky (1988) a Biomecânica é a ciência das leis do movimento mecânico nos sistemas vivos e pode ser também definida como a aplicação da Mecânica a organismos vivos e tecidos biológicos. Nigg (1995) define Biomecânica como sendo a ciência que examina as forças que atuam externa e internamente numa estrutura biológica e o efeito produzido por essas forças e Hatze apud Nigg (1995) afirma que ela é a ciência que estuda estruturas e funções dos sistemas biológicos usando o conhecimento e os métodos da Mecânica. A Biomecânica estuda diferentes áreas relacionadas ao movimento do ser humano e animais, incluindo: (a) funcionamento de músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos, (b) cargas e sobrecargas de estruturas específicas, e (c) fatores que influenciam a performance. A Biomecânica do Esporte se dedica ao estudo do corpo humano e do movimento esportivo em relação a leis e princípios físico-mecânicos, incluindo os conhecimentos anatômicos e fisiológicos do corpo humano (Amadio, 1996). No Brasil, os resultados das pesquisas em Biomecânica têm influenciado diretamente na medicina, ergonomia, fabricação de equipamentos esportivos e muitos outros aspectos da vida humana (Nasser, 1995).

    Ela também pode auxiliar na produção de conhecimento para aquisição de competências tecno-motoras, que levam em consideração as características dos participantes, do contexto e sua organização, possibilitando uma efetiva aprendizagem (Crum, 1993). Para Moro apud Nasser (1995), a Biomecânica tem acompanhado o ensino das técnicas associando a prevenção músculo-esquelética do indivíduo nas ações cotidianas, evitando assim que certos esforços desnecessários possam danificar suas estruturas e que sua ação motora seja racionalizada.

    O progresso da Biomecânica como disciplina científica que estuda funções dos seres vivos tornou-se, ao longo dos últimos três séculos, muito amplo e disso resultaram múltiplas divisões didáticas e delimitação de território de especialidades científicas, tais como Biomecânica do Movimento Humano, Biomecânica Clínica e de Reabilitação, Biomecânica de Tecidos e Biomateriais, Biomecânica Músculo-esquelética e Métodos e Técnicas de Pesquisa em Biomecânica. Cada uma destas áreas, por sua vez, abrange diversas possibilidades, como os exemplos ilustrados o quadro 1.

Biomecânica como disciplina na Educação Física

    Não só a Biomecânica como as outras disciplinas científicas levam em consideração características específicas de um campo de estudos relacionados com as diversas áreas da Educação Física. Quando o profissional insere-se no contexto específico desta profissão, ele percebe que, no sentido operacional, os conceitos determinados para cada Ciência são pelo menos pobres, e não informam as reais características de cada campo de conhecimento. O que atualmente nota-se é a infinita gama de conhecimentos que o educador físico deve dominar para exercer sua função. A medida que o leque de atuação profissional dos diferentes campos de trabalho vai sendo ampliado, percebe-se que muitos dos conhecimentos julgados inúteis mostram-se extremamente adequados aos fenômenos apresentados. É típico que os indivíduos que conhecem muito pouco do ramo científico, afirmem que o mesmo só de presta para um determinado fim. Afirmações como essa, se tomadas como verdade dificultam a compreensão das reais possibilidades de aplicações das informações oriundas de qualquer tipo de conhecimento científico. Por isso é de fundamental importância que argumentações simplistas sejam examinadas quanto ao seu grau de veracidade, antes de serem adotadas como válidas de formas a evitar tanto quanto uma adoção precoce quanto uma rejeição incondicional. Segundo Amadio & Duarte (1996) deve-se levar em consideração cada disciplina que compõe o espectro que investiga o movimento, como a antropometria, anatomia funcional, neurofisiologia, fisiologia geral, bioquímica, psicologia esportiva, medicina desportiva, ensino do movimento desportivo, sociologia, física, matemática e processamentos de sinais eletrônicos e a própria Biomecânica em uma análise multidisciplinar, para que se possa entender melhor a complexidade do estudo do movimento. O que deve ocorrer é a habilidade de o professor saber usar destes conhecimentos gerando novos conhecimentos condizentes com a realidade em que seu público alvo está inserido, seja em clubes, academias ou escolas.

    No caso da Biomecânica, por exemplo, pode-se afirmar que essa possui uma efetiva utilização como instrumento pedagógico. A partir de seus diversos conceitos, nota-se as diferentes abordagens e/ou preocupações que ela traz. O ato educativo, admitido como principal ação da Educação física no contexto escolar, determina amplas possibilidades. Em primeiro lugar a Biomecânica não serve apenas como discussão do movimento e em segundo é que, mesmo quando ela está voltada para modalidades esportivas ou de alto rendimento não se faz da única possibilidade de aplicações e sim de mais uma área para sua atuação.

    A Biomecânica ainda pode atuar com assuntos relacionados ao aperfeiçoamento da técnica do movimento, aperfeiçoamento do processo de treinamento, aperfeiçoamento e adaptações ambientais, aperfeiçoamento do mecanismo de controle de cargas internas do aparelho locomotor, aperfeiçoamento de sistemas para simulação de movimentos, aperfeiçoamento tecnológico instrumental para aquisição e processamento de sinais biológicos e ao aperfeiçoamento de sistemas (hardware e software) para análises de movimentos e conseqüentes aplicações práticas.

    O elo conceitual de teorias com as práticas de campo influencia a atividade e a condução do trabalho desenvolvido (McGinnis, 2002). Precisa-se entender que os métodos tradicionais de ensino e treinamento mostram o que e como ensinar, enquanto a Biomecânica permite entender porque determinadas técnicas são mais apropriadas do que outras. Mais especificamente, a Biomecânica permite, entre outras coisas, melhorar o desempenho de atividades esportivas, melhorar a técnica de realização de movimentos, melhorar equipamentos utilizados em esportes ou em atividades do dia a dia, prevenir lesões e auxiliar na reabilitação de lesões. A Biomecânica preocupa-se com a descrição, análise e interpretação dos movimentos dos segmentos do corpo humano, através da aplicação dos conceitos básicos da física, química, matemática, fisiologia, anatomia, etc. como ferramenta de análise Segundo Hay (1985) as contribuições feitas pela biomecânica desportiva são amplamente proclamadas, entretanto, geralmente supervalorizados, ou mesmo distorcidos, a fim de aumentar as vendas do produto que está sendo divulgado e são, pois, virtualmente, como que uma medida do impacto que a biomecânica desportiva tem tido na prática. A biomecânica desportiva tem tido notável impacto sobre o ensino de técnica em educação física e nos esportes.

    Em resumo, a biomecânica tem tido uma influência muito maior nas práticas de educação física do que geralmente se reconhece ou anuncia. Professores, técnicos e atletas freqüentemente encontram-se na situação de fazer uma escolha entre duas técnicas destinadas a obter uma mesma finalidade. Sem dúvidas a Biomecânica pode contribuir para a efetivação de processos educativos, que envolvam comportamentos corporais, mais conscientes e, conseqüentemente, marcados por concretas responsabilidades intencionalmente pedagógicas. Especificamente no ambiente escolar, o conhecimento da Biomecânica pode contribuir significativamente para a melhoria do ambiente, da saúde e da qualidade de vida dos alunos. Tomando-se exemplos bem práticos, podem-se citar as mochilas carregadas pelos alunos e o mobiliário escolar. Estes dois fatores são causas de, no mínimo, desconforto, e podem em longo prazo causar graves danos às crianças. O professor de Educação Física, conhecendo as implicações Biomecânicas, pode conscientizar alunos, pais e demais professores para, pelo menos, minimizar as conseqüências nocivas. Afinal, concebe-se o profissional da Educação Física como um agente com responsabilidades que vão além das aulas de Educação Física.
Espero que você tenha gostado desse texto.

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O descompasso entre mercado de trabalho e educação superior

O Ministério da Educação (MEC) divulgou neste mês os dados do Censo do Ensino Superior de 2009 que apontou avanços em algumas áreas comemorados pelo Governo. Porém, cabem reflexões importantes acerca de quais profissionais estão se formando e, principalmente, se atendem não só a atual como a futura demanda do mercado.


Os dez cursos mais procurados, englobando ensino presencial e à distância, segundo o Censo são respectivamente: Administração, Direito, Pedagogia, Engenharia, Enfermagem, Ciências Contábeis, Comunicação Social, Letras, Educação Física e Ciências Biológicas. Sendo que os cinco primeiros são responsáveis por quase metade do total de cerca de 5,9 milhões de matrículas.

Em pesquisa recente publicada no Portal G1, efetuada com recrutadores, assim como, em inúmeras outras ecoadas na mídia em geral, também com empresários, fica evidenciada a falta de profissionais em diversas áreas. Há falta de profissionais em todos os níveis, desde pedreiros a engenheiros, técnicos, tecnólogos e especialistas. Dentre as áreas mais citadas, estão a de tecnologia da informação, mineração, petroquímica, energia, construção civil, medicina e segurança do trabalho.

Comparando os cursos mais procurados com as áreas onde faltam profissionais, vê-se claramente um paradoxo entre o que o Ensino Superior deve ainda formar em 4 ou 5 anos e o que as empresas precisam no momento atual. Detalhando o caso específico da engenharia, que está tanto entre as áreas com falta de profissionais, como entre os cursos mais procurados, é possível identificar o descompasso entre a formação e a demanda de mercado, pois, apesar de apresentar cerca de 420 mil matrículas, o número de concluintes foi em torno de 55 mil, quando, segundo a Associação Brasileira de Ensino de Engenharia, em estudo junto à Confederação Nacional da Indústria, deveria ser em torno 80 mil por ano.

Convém ainda destacar que para que o país continue crescendo é imperativo que se aumente a qualificação da mão-de-obra com a formação de profissionais não somente no Ensino Superior, mas também nos ensinos técnico e profissionalizante.

Analisando as possíveis profissões do futuro, até 2020, docentes da Universidade de São Paulo (USP) realizaram pesquisa sobre o assunto, publicada na Revista de Administração e Inovação, que aponta que as áreas com maior demanda de profissionais serão aquelas ligadas à qualidade de vida e ao envelhecimento da população, como biotecnologia, nanotecnologia aplicada à medicina, lazer e turismo, além daquelas ligadas à preocupação com o meio ambiente e à integração global, como eco-relações, geomicrobiologia e relações internacionais. Considerando apenas os cursos em oferta hoje, ainda segundo a pesquisa, os cinco mais promissores seriam Engenharia Ambiental, Relações Internacionais, Lazer e Turismo, Engenharia de Alimentos e Engenharia da Computação.

Fazendo a relação dos cursos promissores para o futuro e dos procurados atualmente, novamente é possível identificar o descompasso entre formação e mercado de trabalho, já que em educação os resultados não são de curto prazo, ou seja, estaremos formando nos próximos anos profissionais que provavelmente sobrarão em algumas áreas e continuarão a faltar em outras.

O cenário apresentado mostra a necessidade eminente de novas políticas públicas para a educação ou revisão e ampliação das atuais, como o Programa Universidade para Todos (PROUNI), os programas de financiamento estudantil como o FIES, dentre outras, para que direcionem de maneira efetiva a formação profissional para as áreas prioritárias, vindo a reduzir o atual déficit de profissionais e evitando que o mesmo persista ou aumente no futuro.

Sobre o Autor:
Alexey Carvalho é administrador, mestre em tecnologia, especialista em tecnologia da informação e gestão de negócios, professor de pós-graduação e Diretor da Faculdade Anhanguera de São Caetano.

Twitter: @alexeyc
Linkedin: http://br.linkedin.com/in/alexeycarvalho

Site: www.alexeycarvalho.adm.br
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